No primeiro semestre, com a Selic em alta, custos da construção subindo e problemas enfrentados pelo programa Casa Verde Amarela (CVA), o setor de construção via um cenário nebuloso pela frente. Entre os meses de abril e junho, os lançamentos de casas e apartamentos no País chegaram a cair 15,4%, para 63.878 unidades, enquanto as vendas recuaram 5,5%, indo a 72.861 unidades.
O clima neste segundo semestre, no entanto, mudou totalmente. A Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC), por exemplo, agora prevê que os lançamentos e as vendas de imóveis residenciais este ano devem ficar próximos dos registrados em 2021, quando o setor teve um recorde de negócios.
Uma das principais causas da volta do otimismo foram as mudanças no CVA, que possibilitaram a retomada das contratações - em julho, elas subiram 20% em relação ao mesmo mês de 2021, e em agosto seguem no mesmo ritmo, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins. Entre abril e maio, o programa havia registrado queda de 36,5% nos lançamentos e de 14,6% nas vendas.
Boa parte dos empreendimentos do CVA foram adiados ou cancelados nos últimos meses porque o aumento nos custos de construção exigia uma elevação nos preços dos imóveis, o que não era acompanhado pelo poder de compra da população. Isso levou o governo federal a articular medidas de estímulos para desafogar o CVA, com aumento na liberação de subsídios, ampliação nos prazos de financiamento e adequação das faixas de rendas dos mutuários.
Recursos do FGTS
O diretor executivo de habitação da Caixa, Rodrigo Wermelinger, admitiu que houve uma desaceleração nas contratações dentro do CVA, mas ressaltou que a expectativa é de reverter o quadro. A média mensal de empreendimentos do programa financiados pela Caixa no primeiro semestre foi de R$ 4,9 bilhões. Em julho, com parte dos estímulos ao CVA já em vigor, esse patamar subiu para R$ 5,5 bilhões. A meta para o período de agosto a dezembro é chegar a R$ 6,6 bilhões, frisou o diretor. Os recursos partem do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
“Nosso objetivo é executar 100% do orçamento do FGTS disponível para o ano, e os números mostram que esses resultados estão aparecendo por conta das medidas implementadas no Casa Verde e Amarela que trouxeram para o jogo clientes que não estavam conseguindo se enquadrar”, disse Wermelinger.
Dois anos de crescimento
Por sua vez, o presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, disse acreditar que o mercado imobiliário tende a crescer ao longo dos próximos dois anos. Segundo ele, os custos dos materiais já estão mais comportados, sem elevações bruscas. Outro fator favorável é o nível positivo de criação de empregos no País.
Ele também acredita que há, de modo geral, equilíbrio entre oferta e demanda. “Os imóveis estão sendo vendidos, e estamos vendo os estoques caírem”, comentou. O estoque dos imóveis residenciais novos à venda levavam 13 meses para serem escoados em maio de 2021, contra apenas 9 meses atualmente.
Por fim existe a expectativa de corte da Selic a partir da metade do ano que vem, abrindo espaço para redução das taxas cobradas nos financiamentos habitacionais e fomento do setor, acrescentou.
Para Martins, da CBIC, o efeito que o aumento da taxa de juros poderia ter sobre as taxas do crédito imobiliário no Brasil já está dado, e os dados demonstram apetite ainda aquecido por parte do consumidor.
“Quando você entra no (crédito com recursos do) Fundo de Garantia, o juro é fixo. No SBPE (recursos da poupança), chegou ao teto”, disse ele, em painel do Abecip Summit, evento promovido em São Paulo pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) nesta semana.
Segundo Martins, as pesquisas do setor mostram que a intenção de compra de imóveis do brasileiro caiu pouco, mesmo com a alta da taxa Selic. “Nada demonstra que possa haver algum problema à frente.”
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