O delegado Alexandre Saraiva, da superintendência da Polícia Federal no Amazonas, relatou em depoimento ter recebido convite do atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, para ocupar a chefia da PF no Rio de Janeiro. A proposta teria sido feita ‘no início do segundo semestre’ do ano passado, época em que o presidente Jair Bolsonaro tentou emplacar o seu nome para comandar a corporação fluminense.
Alexandre Ramagem foi indicado por Bolsonaro para a direção-geral da Polícia Federal, mas teve a nomeação suspensa por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
De acordo com Saraiva, Ramagem, de quem é próximo, o telefonou para convidá-lo para ser superintendente no Rio de Janeiro, ‘afirmando que o presidente da República tinha alguns nomes para sugerir ao ex-ministro Sérgio Moro para ocupar a função’.
O superintendente no Amazonas teria aceitado o convite, mas relatou a Ramagem que ‘não acreditava que seu nome fosse efetivamente indicado para assumir a Superintendência do Rio’. O motivo seria o fato do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, não ter indicado nenhum delegado ocupante da região da Amazônia Legal para uma posição de comando no litoral do País.
Após o telefonema, Saraiva relata que teve um encontro com o então ministro Sérgio Moro no aeroporto de Manaus, ocasião em que foi questionado por Moro da seguinte forma: ‘Saraiva, que história é essa de você no Rio de Janeiro?’. O superintendente relatou o telefone de Ramagem, destacando as mesmas ressalvas feitas ao atual diretor da Abin sobre as chances de sua indicação ser efetivada.
À Polícia Federal, Saraiva afirma que Moro teve uma ‘atitude extremamente correta e digna em relação à sua pessoa’. O então ministro, relata, finalizou a conversa dizendo que ‘estava sabendo dos fatos’ e que ele podia ficar tranquilo.
De acordo com Saraiva, a indicação ao seu nome para a PF no Rio teria encontrado resistência na administração do então diretor-geral Maurício Valeixo.
Ministério do Meio Ambiente
Saraiva também relatou à PF que foi sondado pelo presidente Bolsonaro para assumir o Ministério do Meio Ambiente durante a transição do governo, no final de 2018.
“Na conversa, o presidente deixou claro que estava sondando também outras pessoas para o cargo”, relatou Saraiva. Segundo ele, a conversa durou duas horas e tratou de questões ambientais.”
Saraiva afirmou que a sondagem para assumir a superintendência do Rio, ‘assim como os demais convites que lhe foram formulados ao longo da sua carreira, inclusive pelo presidente Bolsonaro e pelo ministro Moro’, não se revestiam de ‘nenhuma missão ou intenção pontual e específica de interesse’ do governo. “Se assim fosse, prontamente rechaçaria”, disse.
Ao ser questionado se Ramagem lhe disse algo sobre a produtividade da superintendência no Rio de Janeiro, Saraiva negou, mas disse que ‘todos sabiam que não é lá essas coisas’, mesmo a corporação fluminense ter saltado da 24ª posição para a 4ª durante a gestão de Ricardo Saadi.
‘Os índices de produtividade operacionais parciais não refletem a realidade operacional verdadeira de nenhuma das unidades da Federação”
Saraiva disse que, em seu entendimento, a frase do presidente ‘Moro, você tem 27 superintendências, eu só quero uma’ se tratava um prestígio à ‘meritocracia da Polícia Federal’ com a sua indicação, visto que ele é o superintendente mais longevo em atuação.
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