A Promotoria de Goiás ofereceu a 12.ª denúncia contra João Teixeira de Faria, o João de Deus, pelo estupro de vulnerável de duas vítimas do Rio Grande do Sul entre janeiro de 2009 e janeiro de 2011. A acusação também responsabiliza dois guias da Casa Dom Inácio de Loyola que transportaram os fiéis até Abadiânia.
As informações são compartilhadas pelo Ministério Público de Goiás.
A Promotoria estadual iniciou uma nova fase de investigação, e agora mira a rede de apoiadores que supostamente permitiu a prática de crimes sexuais por João de Deus.
O guia espiritual já foi condenado a 19 anos e 4 meses de reclusão em regime fechado por violação sexual mediante fraude contra duas mulheres e estupro de vulnerável contra outras duas, além de quatro anos de prisão, em regime aberto, por porte ilegal de armas.
Envolvimento dos guias
A força-tarefa da Promotoria afirma que as vítimas confiam nos guias a ponto de lhes confidenciarem os atos sexuais aos quais foram submetidas.
A Promotoria diz. “Todavia, mesmo sendo conhecedores da prática contra diversas outras mulheres, não agiram no sentido de evitar a ocorrência dos crimes contra as vítimas que fazem parte da denúncia.”
Os promotores de Justiça Renata Caroliny Ribeiro e Silva, Augusto César Souza e Paulo Penna Prado afirmam que, além de serem coniventes com os referidos abusos, os guias também atuaram ‘energicamente’ para acobertar as práticas ilícitas e impedir que as vítimas acionassem a justiça.
Com isso, visavam assegurar a impunidade de João de Deus e a manter o ‘status quo como guias do local, de onde auferiam renda e prestígio’.
Para a Promotoria, João de Deus contava com uma ‘espécie de rede de proteção’ para a escolha das vítimas e a manutenção da estrutura de atendimentos realizados na Casa Dom Inácio de Loyola, ‘a qual favorecia que as vítimas, sempre mulheres, fossem direcionadas a atendimentos individuais, permitindo a concretização dos abusos sexuais’.
Os guias persuadiam as vítimas a prática sexual criminosa realizada durante os atendimentos individuais não se tratavam de abuso sexual, mas sim de uma parte do processo de cura e limpeza espiritual, o que redundava na continuidade dos abusos e de todo o esquema criminoso.
Os crimes sexuais praticados em 2009 estão prescritos para João de Deus, que já tem mais de 70 anos. O mesmo não ocorre para os guias.
As vítimas apresentavam vulnerabilidades, como crise de pânico, diz a Promotoria, as quais eram intensificadas com as ameaças espirituais, como infelicidade no casamento e divórcio.
Entre as formas de enganar os fiéis, os promotores descobriram que os guias afirmavam que ‘as ejaculações de João de Deus eram limpeza espiritual, de chacras, realizada por uma entidade incorporada naquele por meio de uma relação sexual com as vítimas, e que eles mesmos já teriam se submetido a essa limpeza, porém, quem realizava esse tipo de trabalho em homens seria outro funcionário da Casa Dom Inácio de Loyola’.
Denúncias
João Teixeira de Faria foi denunciado por três crimes sexuais cometidos contra duas vítimas. Já o primeiro guia é acusado por seis crimes sexuais, e o segundo, por dois crimes sexuais, ambos na condição de garantidores que se omitiram, já que assumiram a responsabilidade de impedir o resultado, devendo e podendo fazê-lo.
A Promotoria já ofereceu 12 denúncias contra João de Deus por crimes sexuais, envolvendo 59 vítimas cujos crimes não estão prescritos e 89 prescritos.
Cerca de 330 mulheres já procuraram o Ministério Público de Goiás – destas, 194 formalizaram denúncias contra ele.
Tramitam outras duas denúncias contra ele, por porte ilegal de armas – uma em Abadiânia e outra em Anápolis –, além de uma ação civil pública, com pedido de indenização por danos morais, que já obteve o bloqueio de ativos financeiros, bens móveis e imóveis no valor de R$ 50 milhões.
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