A repercussão negativa do episódio da carta sobre o Hino Nacional enviada a escolas pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, fez com que nomes ligados a Olavo de Carvalho fossem afastados da pasta. O filósofo é considerado um pensador do governo de Jair Bolsonaro.
Um deles é Silvio Grimaldo, aluno de Olavo, que trabalha diretamente com o ministro, no gabinete, e que teria influenciado Vélez em decisões com o viés ideológico. Em seu perfil no Facebook, Grimaldo disse que recebeu uma ligação durante o carnaval informando que ele “seria transferido para a Capes, para enxugar gelo e “fazer guerra cultural”.” Segundo o post, “o mesmo destino fôra (sic) dado a outros funcionários ligados ao Olavo (apenas olavetes foram transferidos)”. Grimaldo diz que não aceitou o outro cargo e pediu para ser exonerado.
Murilo Resende, também aluno de Olavo, que chegou a ser indicado para coordenador da diretoria que cuida do Enem e depois ficou com um cargo de assessor, também estaria saindo. Procurado, disse que não foi comunicado dessa decisão. Eduardo Melo, que era sub secretário executivo, deve ir para a Fundação Roquette Pinto.
Algumas exonerações já foram publicadas no Diário Oficial, como a de Rodrigo Almeida Morais, que é secretário-geral do PSL em São Paulo e ligado a Eduardo Bolsonaro. Ele participou do grupo de transição para a área da educação e estava em um cargo de assessor do MEC. O chefe de gabinete adjunto, coronel Ayrton Pereira Rippel, também já foi exonerado, mas internamente é dito que ele será realocado no ministério mesmo.
O objetivo, segundo fontes, é “reorganizar a casa” e colocar o foco no que importa na educação. A decisão teria sido do próprio Vélez, durante o carnaval, depois de ser aconselhado a mudar o posicionamento para ser “um ministro de fato”.
A ideia de divulgar a carta que pedia que o slogan de campanha de Bolsonaro fosse lido nas escolas e que as crianças fossem filmadas não foi compartilhada nem com gestores de mais alto cargo no MEC. A notícia foi dada com exclusividade pelo Estado. O alto escalão do ministério soube pela imprensa da carta de Vélez.
A medida foi duramente criticada por educadores, juristas e até pelo movimento Escola sem Partido. O Ministério Público Federal pediu explicações do ministro, que acabou reconhecendo o erro e voltando atrás duas vezes.
Em uma reunião, com militares e membros da Casa Civil, na tarde desta sexta-feira, teria sido batido o martelo que oito funcionários do MEC devem ser exonerados. As demissões seriam consequência do enfraquecimento do ministro nas últimas semanas.
Vélez também foi indicado por Olavo para o cargo e essa seria uma maneira de mostrar sua independência e se manter no ministério.
Grimaldo também postou em sua página no Facebook que o “expurgo de alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora” (sic). “Nem as trairagens do Mourão ou Bibiano chegaram a esse nível”.
Mais cedo, o próprio Olavo de Carvalho havia aconselhado, em post em sua página no Facebook, os alunos de seu curso online a deixarem o governo de Jair Bolsonaro. “Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo — umas poucas dezenas, creio eu — deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos. O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, escreveu.
Depois da carta enviada às escolas, o MEC, de fato, recebeu muitas gravações. No entanto, o material mostrava as condições precárias das escolas e não o Hino sendo entoado. O grande volume de vídeos recebidos teria sido avaliado como um indicativo da baixa popularidade de Vélez.
Mestrando na área de Filosofia da Educação da Universidade Estadual de Londrina, Grimaldo foi uma das indicações de Olavo para o ministério. Nesta sexta, ele compartilhou uma publicação de seu guru, em que diz “tudo o que estão dizendo e fazendo contra os meus poucos alunos que têm cargos no governo é para bloquear a Lava-Jato na Educação”.
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