A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou nesta segunda-feira (22) um relatório em que informa que não há registro de pane ou mau funcionamento no sistema do avião que caiu com o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), em janeiro do ano de 2017.
- Foto: Nelson Antoine/FrahmePhoto/Estadão ConteúdoTeori Zavascki
O coronel Marcelo Moreno, responsável pela investigação, explicou que o piloto do avião, Osmar Rodrigues, "muito provavelmente teve uma desorientação espacial que acarretou a perda de controle da aeronave". Segundo a FAB, Osmar Rodrigues era "experiente", mas no momento do acidente a visibilidade estava "restrita" e, com isso, não havia condições mínimas para o pouso e de decolagem.
Questionado pelo G1 sobre se, diante disso, o piloto não deveria ter tentado pousar, Marcelo Moreno respondeu que as condições meteorológicas "tornavam impraticável o pouso e decolagem no aeródromo de Paraty naquele momento, porque estavam abaixo dos mínimos meteorológicos que são de cumprimento obrigatório a todos que utilizam o espaço aéreo brasileiro que existem para tornar o voo seguro”.
Saiba abaixo as 11 conclusões às quais a FAB chegou:
1. Não foi identificada qualquer condição de falha ou mau funcionamento da aeronave;
2. Não se evidenciaram alterações de ordem médica no piloto;
3. O aeródromo de Paraty permitia somente operações sob regras de voo visual;
4. O campo visual do piloto estava restrito e com poucas referências visuais (o que tornava pousos e decolagens impraticáveis);
5. Foram realizadas duas tentativas de pouso;
6. As condições de voo encontradas favoreciam a ocorrência de ilusão vestibular por excesso de G [desorientação provocada por baixa visibilidade associada a curvas e movimentos da cabeça] e de ilusão visual de terreno homogêneo;
7. Houve perda de controle e a aeronave impactou contra a agua, com grande angulo de inclinação das asas;
8. A visibilidade horizontal estava abaixo da recomendada;
9. A cultura de trabalho presente à época entre o grupo de pilotos que operavam na região de Paraty favorecia a informalidade em detrimento dos requisitos mínimos estabelecidos para a operação sob regras de voo visual;
10. No que diz respeito ao acidente, pode-se concluir que essa cultura influenciou a tomada de decisão do piloto, o qual, a despeito de encontrar condições adversas e do seu estado emocional frente à situação vivenciada, optou por insistir na tentativa de pouso;
11. A análise dos parâmetros de voz, fala e linguagem indicou traços de ansiedade no piloto. O estado emocional em que o piloto se encontrava pode ter influenciado a sua decisão de realizar uma nova aproximação, apesar de não ter havido melhoria das condições meteorológicas.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da FAB apresentou o relatório sobre as investigações no dia em que o acidente completou um ano, no dia 19 de janeiro. O Cenipa não aponta culpado no acidente aéreo, apenas fatores que contribuíram para a causa do acidente, de forma a evitar novos desastres aéreos.
Visibilidade
De acordo com Marcelo Moreno, a apuração da FAB identificou que a visibilidade na baía de Paraty estava abaixo da recomendada para operações. "A visibilidade horizontal da baía do Paraty no momento do acidente estava em 1,5 mil metros, muito abaixo da requerida, que é de 5 mil metros”, comentou ao G1.
Além disso, essas informações estavam disponíveis ao piloto do avião. "Naquele momento [do acidente] não havia as condições mínimas de visibilidade requeridas para as operações de pouso e decolagem. O campo visual do piloto estava restrito e com poucas referências visuais do solo.", afirmou o coronel.
Marcelo disse, ainda, que Osmar Rodrigues tinha quase 7,5 mil horas de voo e, somente na aeronave que caiu, KingAir C90, quase 3 mil horas. Rodrigues pilotava o avião desde 2010 e, nos 12 meses anteriores ao acidente, havia feito 33 voos com destino a Paraty – o piloto estava com a documentação em dia.
"Não foram verificadas questões de qualificação que indicassem deficiências nas operações conduzidas pelo piloto”, disse o coronel.
O que provocou as mortes das vítimas
De acordo com o relatório do Cenipa, a principal causa da morte das cinco pessoas a bordo do avião foi politraumatismo, ou seja, os impactos causados pela queda da aeronave.
"Ainda que tenha sido divulgado que um dos tripulantes foi encontrado com vida 40 minutos após o acidente, o afogamento foi causa acessória do acidente. A causa mortis foi politraumatismo", disse Marcelo Moreno nesta segunda.
Recomendações à Anac
O relatório do Cenipa apresenta recomendações de segurança à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em uma dessas recomendações, o centro pede à Anac que divulgue os "ensinamentos" derivados da investigação no que diz respeito à necessidade de observância dos requisitos mínimos de operação sejam valorizados.
O órgão também recomenda revisar os requisitos existentes para enfatizar, durante a formação do piloto civil, as características e os riscos decorrentes das ilusões e da desorientação espacial para a atividade aérea.
'Sabotagem'
Durante a apresentação do relatório, Marcelo Moreno foi questionado sobre se há indícios de "sabotagem" no avião que transportava Teori, já que ele era o relator da Lava Jato no STF e estava prestes a homologar delações. "Os elementos de investigação colhidos não sustentaram nenhum indício que levasse a essa interferência ilícita, e isso foi corroborado pelo laudo da Polícia Federal”, finalizou.
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