Se o ano tivesse terminado em setembro, o Brasil teria crescido 6,3%. Mesmo se os efeitos da atual crise financeira mundial forem violentíssimos e o Brasil não crescer nada no último trimestre (o que é impossível), o país crescerá 4,8% em 2008. Nada mal. E o mais provável é que o crescimento no ano seja superior a 5%.
O resultado do PIB do terceiro trimestre trouxe duas informações sensacionais: tanto o consumo das famílias (que pesa 60% no PIB) quanto os investimentos do setor produtivo (que garantem crescimento sem inflação) bateram recordes na série histórica do IBGE.
Se não houvesse a crise no horizonte, o Brasil estaria passando agora pelo seu ciclo econômico mais virtuoso em décadas. Estaria discutindo nesse momento maneiras de desacelerar um pouco por risco de inflação e para continuar evoluindo de forma sustentada. Infelizmente, a crise não apenas existe. Ela está chegando cada vez mais perto.
Há uma grande dúvida nesse momento sobre como ela vai nos afetar. É natural pensar que a situação brasileira, pelo menos em 2009, não será um desastre. Um crescimento acima de 5% em 2008 empurrará boa parte desse ímpeto ao longo dos primeiros meses de 2009. Como a economia não vai parar completamente no ano que vem, é de se esperar uma freada, mas não tão exagerada.
Setembro marcou o pico desse processo virtuoso de crescimento. É como se um avião atingisse a velocidade e a altura máxima antes de começar a escassear o combustível. Agora, teremos de administrar o pânico de alguns, as crises de nervos de outros. E o pouso.
Nesse momento, porém, o mundo desenvolvido já entrou em recessão. É como se, na comparação de um economista, esses países estivessem em uma festa (os últimos cinco anos de maior crescimento em três décadas), onde repentinamente acabou não só a bebida, mas também a luz.
Ninguém sabe quem está com quem e como. Falta ainda algum tempo para o sol nascer e, até lá, as incertezas ainda serão grandes. Nesse período, muita coisa ainda pode acontecer.
No caso do Brasil e outros emergentes, o pior cenário possível é, saído o sol, as grandes economias estarem com uma ressaca imensa e demorarem muito tempo para se recuperar.
No caso dos EUA, maior economia do mundo, a dor de cabeça não será pequena. São décadas de consumo descontrolado baseado em crédito igualmente descontrolado. O ajuste nos EUA será via poupança. As famílias terão de se "desendividar" em um momento de aumento do desemprego e queda na renda. E elas devem como nunca.
Quando se poupa para pagar dívidas, o consumo cai. Quando o consumo cai, a economia cai junto. Esse é o ponto nos EUA. O ajuste será doloroso, via poupança.
Mas, se a crise internacional for de duração moderada (12 meses, digamos), o Brasil tende a se sair relativamente bem. Estará desacelerando mais fortemente quando o mundo já estiver levantando. E ganhará novo impulso externo.
Isso é impossível prever, pelo menos agora. Enquanto o sol não sair, o que pode demorar mais alguns meses, ainda haverá muitas dúvidas sobre os estragos da festa _e o tamanho da ressaca.
Fernando Canzian, repórter, Folha online
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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