Os Estados Unidos passaram pela maior transformação em sua postura no mundo desde a eleição de John Fitzgerald Kennedy em novembro de 1960.
Este é um país que habitualmente, às vezes de maneira irritante, se considera jovem e vibrante, a inveja do mundo. Com freqüência isto é mero exagero. Mas há momentos em que é a pura verdade.
Com a vitória de Barack Obama, um destes momentos chegou.
Os Estados Unidos nunca foram tão impopulares, tão ridicularizados e tão desprezados pelo mundo exterior como nos últimos meses da Presidência de George W. Bush. No outro dia eu perguntei a Madeleine Albright, secretária de Estado no governo do presidente Bill Clinton, se ela conseguia se lembrar de uma outra época em que as pessoas odiavam tanto os Estados Unidos.
Ela disse que nunca, desde que nasceu. "Eu tenho fortes sentimentos por este país e que país excepcional e surpreendente ele é. Mas, honestamente, eu acho que isto este (ódio) é o mais intenso que já vi."
Preferência mundial
Pesquisas de opinião ao redor do mundo confirmaram a impopularidade dos Estados Unidos. E a chance de que um homem negro jovem, aparentemente agradável e modesto, pudesse se tornar seu presidente, foi recebida de maneira favorável em toda parte.
Há alguns meses, uma pesquisa realizada pelo Serviço Mundial da BBC em 22 países indicou que as pessoas preferiam Barack Obama a John McCain numa proporção de quatro a um. Quase a metade dos entrevistados disse que se o senador Obama fosse eleito, mudaria totalmente sua opinião sobre os Estados Unidos.
Durante oito anos, a palavra que as pessoas usaram repetidamente para qualificar a abordagem da Presidência de George W. Bush vem sendo "arrogância". O tom em Washington parece ser de superioridade, chegando quase a desprezo pelos outros.
Pense nos discursos de homens como Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz ou Paul Bremer. Todos estavam muito preocupados com a ocupação do Iraque, que foi feita em um desafio à opinião da maior parte da comunidade internacional.
Fora dos Estados Unidos, a maioria das pessoas provavelmente concordaria com o julgamento de Madeleine Albright, quando ela disse: "Eu acho que o Iraque vai passar para a história como o maior desastre da política externa americana - pior do que o Vietnã."
Na pressa de começar a guerra, em 2003, quando muitos políticos americanos tinham receio de se posicionar contra a multidão, Barack Obama condenou a invasão publicamente e com veemência.
Sem garantia
O fato de que ele foi eleito presidente é sua recompensa por isso. E todos pelo mundo que sentiram que a guerra do Iraque foi um erro vão achar que os Estados Unidos escolheram agora um caminho diferente um caminho que se afasta de Guantánamo, Abu Ghraib, tortura por afogamento simulado de prisioneiros e coisas do tipo.
Os Estados Unidos não são mais a potência que já foram. Sem querer, o presidente Bush demonstrou isso. O país ainda pode liderar, mas não está mais em posição de dar ordens ao resto do mundo.
Claramente, Barack Obama entende isso. Como afro-americano, seu passado não é de privilégio e superioridade. Ele vai estar aberto ao mundo de uma forma que o presidente Bush nunca esteve. E ele vai mostrar mais uma vez os valores do sonho americano.
Isto não é garantia de que ele vá ter sucesso como presidente. Jimmy Carter entendeu o domínio mais limitado dos Estados Unidos no mundo pós-Vietnã e se recusou a dar ordens ao mundo. Atualmente a maioria dos americanos considera Carter um fracasso.
Mas o mundo exterior deve estar feliz com a vitória de Obama. E sua opinião sobre os Estados Unidos vai mudar graças a isso.
JOHN SIMPSON
analista político da BBC News
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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