Os candidatos não sabiam que estavam concorrendo. O vencedor não recebeu nenhum prêmio. E, pelo menos aparentemente, o campeão seria inelegível.
A disputa era para o prêmio Pássaro do Ano da Nova Zelândia, uma competição anual que dá aos neozelandeses a oportunidade de classificar suas aves favoritas entre as 200 espécies nativas do país - iniciativa que busca trabalhar a consciência ambiental sobre a situação ecológica das espécies.
Mas este ano, um morcego de cauda-longa, um dos dois mamíferos terrestres nativos da Nova Zelândia, voou com o prêmio principal, disseram os organizadores do concurso na segunda-feira, 1º.
A audácia do morcego, conhecido como pekapeka-tou-roa, levou alguns nas redes sociais a denunciar fraude na eleição e reclamar do que seria uma vitória roubada. Mas outros eleitores aplaudiram a vitória.
"Se pekapeka-tou-roa pode ganhar a Ave do Ano, apesar de não ser uma ave, então você pode pedir para sair com seu 'crush', tudo é possível", escreveu nas redes sociais um os defensores da candidatura do mamífero.
O prêmio Pássaro do Ano é uma campanha de duas semanas dirigida pela organização conservacionista Forest and Bird. Ele é conduzido no mesmo modelo do sistema eleitoral da Nova Zelândia, por meio de um sistema de segundo turno instantâneo.
A competição tem uma longa história de preenchimento de cédulas, pesquisas fraudulentas e até rumores de interferência russa. No ano passado, um hacker colocou mais de 1.500 votos falsos em um banco de dados eleitoral, colocando em primeiro lugar um pássaro que não voa.
Mas o resultado deste ano não foi objeto de tal trapaça, disseram os organizadores. Eles incluíram duas espécies de morcegos nativos da Nova Zelândia entre candidatos aviários pela primeira vez para ajudar a aumentar a conscientização sobre as espécies.
Laura Keown, porta-voz do concurso, disse: “Por causa da falta de mamíferos na Nova Zelândia, o prêmio Morcego do Ano seria uma competição muito chata. Pareceu uma boa oportunidade de destacar esta espécie nativa criticamente ameaçada de extinção e trazê-la da escuridão para a luz.”
As duas espécies de morcegos do país enfrentam muitas das mesmas dificuldades que criaturas mais famosas, como o kiwi, que venceu a competição de pássaros em 2009. Os mamíferos terrestres correm o risco de pragas como ratos, gatos e gambás, bem como da destruição de seus habitats florestais e mudanças climáticas. A população está diminuindo cerca de 5% ao ano.
Por muito tempo, o morcego liderou o concurso de pássaros "por uma grande margem", disse Keown a repórteres na semana passada. O morcego de cauda curta foi o único outro candidato a dar ao morcego de cauda longa uma disputa mais próxima. Atrás deles estava o kakapo - um grande papagaio que não voa - que foi o campeão do ano passado.
Talvez atraídos pela atração dos rostos bonitos e felpudos dos morcegos nativos da Nova Zelândia, quase 57 mil votantes de todo o mundo participaram da competição online deste ano - a maior em 16 anos de história do concurso.
"Gosto de pensar que é porque os Kiwis amam muito seu morcego nativo, e eles realmente se divertiram com a chance de votar no morcego - especialmente para a maior homenagem da Nova Zelândia, o prêmio Pássaro do Ano", disse Keown.
A maioria dos neozelandeses nunca viu o tímido mamífero noturno, que tem aproximadamente o comprimento de um polegar e pode voar de árvore em árvore a velocidades superiores a 56 km/h.
"Eles realmente não interagem com as pessoas", disse Kerry Borkin, ecologista de morcegos do Departamento de Conservação da Nova Zelândia. "Por causa disso, ainda estamos aprendendo muito sobre eles, o que os torna realmente interessantes".
Depois que os morcegos são empurrados para fora de uma área, é extremamente difícil trazê-los de volta, disse Borkin. "Precisamos manter aquelas árvores que já temos e plantar mais para que, no futuro, haja mais locais para os morcegos ficarem".
Keown não conseguiu confirmar se os morcegos farão outra aparição na competição do ano que vem.
"O Pássaro do Ano nunca está livre de polêmicas, direi isso", disse Keown. "Nós sempre irritamos algumas penas."
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