O talento natural tornou Bella uma excelente terapeuta. Ela é calma, atende uma variedade de personalidades, e ainda tem a paciência de ouvir inúmeras queixas sem um "muuuh" e sem fazer qualquer julgamento. Em um pasto fechado, luxuoso, na Fazenda Mountain Horse, um bed-and-breakfast na região dos Finger Lakes, no Estado de Nova York, Bella e Bonnie são vacas nascidas de um cruzamento entre as raças highlander e angus, que dão terapia baseada em animais.
Cow cuddling, como é chamada esta prática, convida a um contato com os bovinos da fazenda em que é permitido que as pessoas os escovem, os acariciem ou conversem com eles com muito carinho. A experiência é semelhante à terapia equina, com uma importante diferença: os cavalos costumam ficar em pé, enquanto as vacas deitam espontaneamente na grama sem parar de ruminar.
Desse modo, elas permitem que os seres humanos se tornem ainda mais próximas e pessoais, deitem também na grama e ofereçam um abraço afetuoso. “Dá para ver como ela fica calma, não é?” perguntou Suzanne Villers, 51, uma terapeuta equina que com o marido, Rudi Vullers, 51, é proprietária da fazenda. “É isto que nós queremos”, prosseguiu. “Para a pessoa e para a vaca”.
Proveniente da cidade rural holandesa de Reuver, o casal descobriu o koe knuffelen, o cow hugging, em uma visita à sua terra há dois anos. Em algumas partes da Holanda, o carinho demonstrado aos bovinos faz parte de um movimento muito amplo que tem como finalidade pôr as pessoas em um contato mais íntimo com a vida rural.
Há cerca de dez anos, em 2007, o casal Vullers - ele ex-gerente de uma cadeia de suprimentos, ela ex-contadora - decidiu mudar de vida e montou a sua fazenda em Naples, no Estado de Nova York. Em maio de 2018, eles adquiriram Bonnie e Bella, escolhidas por sua personalidade gentil e pela falta de chifres. “Muitas vacas não se prestam a isto”, explicou Vullers. “Elas podem correr atrás das pessoas”.
As sessões de carinho bovino duram uma hora, e custam US$ 75 por casal, duas ao dia, com um máximo de quatro participantes por sessão. Cada sessão é supervisionada por duas pessoas: um terapeuta equino, em geral Suzanne, que compreende o humor dos animais a fim de garantir uma interação segura, positiva com os seus novos amigos humanos, e um segundo atendente, que fica de olho nos demais animais no campo.
Assim como outras formas de terapia, dos visitantes espera-se que inspirem confiança, empatia e comunicação com as vacas e suas próprias emoções. Mas assim como qualquer outra forma de terapia, não há garantia de resultados positivos. “Elas não são ensinadas a deitar”, disse Suzanne.
Recentemente, um casal do Vale do Silício, e uma mãe com a filha do norte do estado de Nova York, vieram acarinhar as vacas. “Dirigir cinco horas para abraçar uma vaca?”, brincou Karen Hudson, 57, gerente de uma empresa de construção, que participou da sessão da tarde com a filha, Jessica Ercoli, 27, oficial de justiça. Para a mãe, foi uma volta ao passado, para relembrar as visitas à fazenda da avó.
Conduzindo as duas mulheres muito interessadas, mas inseguras no campo, Suzanne ajudou a criar uma atmosfera para a aproximação antes de demonstrar o método. “Curvem o corpo” para parecerem menos ameaçadoras. “Aproximem-se pelas costas da vaca e não pelo quadril”.
“Respeitem-as, respeitem o seu mundo e o que elas querem fazer e o que querem dar a vocês”, acrescentou. “Fiquem calmas. Quanto mais relaxadas estiverem, melhor para vocês e para elas, porque cavalos e vacas são sensíveis às emoções humanas e reagem do mesmo modo - na maior parte do tempo”. “Não esfregue a sua baba em mim!” pediu Jessica a Bella.
Na sessão da manhã, Colin Clover, 50, gerente de contratações do Facebook, disse que sua noiva, Alexandria Rivas, 31, recepcionista, tinha lembranças carinhosas da visita da fazenda de laticínios perto da sua faculdade. A ideia de aproximar-se de supetão de uma novilha de 400 quilos o intimidava um pouco.
Os nervos se acalmaram assim que Suzanne fez o convite de uma maneira que ele compreendeu. “Imagine que você está interagindo com o seu cachorro”. O casal Vullers convidou os visitantes a alimentarem as vacas. Deitadas no chão, as vacas ofereceram aos participantes o que eles esperavam encontrar após uma viagem tão longa: a chance de um abraço carinhoso.
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