Fechar
GP1

Saúde

Marcelo Castro elogia crianças com "crânio normal" durante palestra

Ele iniciou a aula cumprimentando os alunos da seguinte forma: "Bom dia, garotada. Tudo legal? Deixa eu fazer uma pergunta: vocês acham que têm o crânio normal?"

Durante palestra, na manhã desta sexta-feira (11), em uma escola pública no Distrito Federal, o ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB), falou sobre o aumento de casos de microcefalia no país e o combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue, zika e chikungunya.

Vestido com uma camiseta com o slogan #zikazero, o piauiense não poupou elogios aos alunos do 6º ano do Centro Educacional 1, da Vila Estrutural. Ele iniciou a aula cumprimentando os alunos da seguinte forma: "Bom dia, garotada. Tudo legal? Deixa eu fazer uma pergunta: vocês acham que têm o crânio normal?". 

No decorrer da palestra, tentando adotar um tom didático, o ministro voltou a cometer mancadas: “Como é que chama a criança da cabeça pequena?", perguntou, ao que alguns responderam “microcefalia”. Marcelo Castro continuou: “Vocês que são alunos inteligentes. Pois as crianças com microcefalia provavelmente não vão ter o mesmo desenvolvimento da inteligência que vocês que têm o crânio normal tiveram”.
Imagem: Lucas Dias/GP1Marcelo Castro(Imagem:Lucas Dias/GP1)Marcelo Castro elogia crianças com "crânio normal"
Na tentativa de chamar atenção dos alunos, aumentando a voz, Castro continuou com as comparações e disse que crianças com microcefalia "provavelmente" não serão "normais". "A criança com microcefalia provavelmente não vai desenvolver o seu cérebro para ser uma criança normal, que possa ir para a escola, aprender, ser educada e ter autonomia e independência", disse. Ele emendou citando que o vírus zika, o qual apontou como causador da "grande maioria" dos casos de microcefalia: "Por isso estamos fazendo essa ação para combater o Aedes aegypti".

"Está feito o pacto. Como vocês são muito inteligentes, que aprendem tudo e têm o cérebro normal, vão fazer o trabalho junto aos pais de vocês para não deixar nenhum criadouro do mosquito", disse.

De acordo com o site da Folha de São Paulo, as declarações geraram incompreensão por parte de alguns alunos. Uma menina do 6º ano chegou a perguntar aos colegas: "Que palestra é essa, meu Deus? Criança com cabeça pequenininha?".

Ministro se defendeu

Ao fim da palestra, Marcelo Castro foi questionado se não achava as comparações inadequadas, ao que ele se defendeu dizendo que exames em bebês diagnosticados com a malformação relacionada ao zika vírus apontam para um grau de comprometimento maior do cérebro em comparação aos casos de microcefalia causados por outros agentes infecciosos já conhecidos, como citomegalovírus e toxoplasmose. "Não são todas as crianças que vão ter retardo mental profundo. Mas as crianças estão sendo estudadas e atendidas", disse. "O padrão é o mesmo causado por infecção, mas o comprometimento é muito mais profundo (...). Temos que passar a informação verdadeira. Estamos com um problema muito grave. Não podemos usar meias palavras", rebateu.

Ele ainda afirmou que tem experiência como professor desde os 16 anos e que "100% da população brasileira está consciente" dos riscos atrelados ao vírus zika. "Por isso, as palavras não podem deixar de serem ditas como devem", afirmou.

Choro na Fiocruz

Momentos antes, o ministro havia ministrado uma palestra aos funcionários da Fiocruz em Brasília, quando também participou de um mini inspeção em busca de possíveis focos do mosquito no entorno do edifício.

Marcelo interrompeu o discurso e chorou ao declarar que os casos de microcefalia "não são números, mas seres humanos". "Imagina o que é uma mãe de família olhar para sua criança com microcefalia e saber que essa criança nunca vai ter autonomia para se conduzir e que vai precisar a vida inteira de cuidados especiais?", questionou.

O piauiense ainda afirmou que a previsão é que a redução no número de casos de doenças causadas pelo Aedes aegypti, que costuma ocorrer com a diminuição no período de chuvas, em maio, seja "mais rápida" neste ano devido à intensificação da campanha contra o mosquito.

Mais conteúdo sobre:

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.