A quantidade de chuva que caiu em Petrópolis na terça-feira, 15, foi a maior registrada na cidade em 24 horas em 90 anos, ou seja, desde o início das medições do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Somada a uma ação ainda insuficiente em áreas de risco, como dizem especialistas e autoridades, a tempestade causou a morte de pelo menos 122 pessoas. Outras 24 pessoas foram resgatadas com vida, mas ainda há buscas na região e alerta climatológico. O número de óbitos foi atualizado pelo Corpo de Bombeiros do Estado nesta quinta-feira, 17.
Choveu na cidade fluminense 259,8 milímetros em 24 horas, superando o recorde anterior de 168,2 milímetros, registrado em 20 de agosto de 1952. A chuva, que em quatro horas superou o esperado para todo o mês de fevereiro, ainda causou dezenas de deslizamentos e danos diversos.
O governador do Rio, Claudio Castro, afirmou que houve um grande investimento na Região Serrana do Rio, na área de contenção de encostas, nos últimos anos, mas admitiu que ainda não é o suficiente para evitar tragédias como a de terça-feira. “O que a gente tem de entender é que existe uma dívida histórica e também o caráter excepcional dessa chuva, a maior desde 1932. Existe o déficit e que sirva de lição para a gente agir de forma diferente.”
Castro ainda destacou que o sistema de vigilância local ajudou a alertar os moradores da região, caso contrário a tragédia teria sido ainda pior. “A questão das sirenes funcionou muito bem. A Defesa Civil conseguiu salvar muitas vidas”, disse.
Quando a intensidade é superior a 50 mm, a chuva já é considerada violenta. O índice pluviométrico significa que, se tivéssemos uma caixa com 1 metro quadrado, cada milímetro de chuva equivale a um litro de água despejado nessa caixa. Então, 50 mm é o equivalente a 50 litros de água acumulada em 1 metro quadrado.
Segundo o Inmet, a região serrana permanece na área de atenção em função do grande volume de chuvas. A região está sob alerta laranja de chuvas até as 11h desta quinta-feira, 17 - o que significa chuvas intensas e perigosas para a área, podendo chegar a 100 mm em 24 horas.
Meteorologistas explicam que a chuva recente foi motivada pela formação de áreas de instabilidade a partir da passagem de uma massa de ar fria pelo Rio de Janeiro. As características do relevo da região serrana contribuíram para a precipitação.
Ao chegar na região de Petrópolis, a massa de ar frio resultou na chamada “chuva orográfica” ou “chuva de relevo”, na qual as características de serra forçam uma elevação dos ventos úmidos, o que gera um encontro com temperaturas mais baixas e a consequente precipitação. “O relevo obriga a umidade a subir na atmosfera e formar nuvens que devolvem a umidade na forma de chuva”, explica Estael Sias, meteorologista da MetSul.
“Primeiro, a passagem da frente fria e, depois, a chuva orográfica elevaram os acumulados de precipitação”, pontua. Petrópolis fica a pouco mais de 800 metros acima do nível do mar. “O relevo teve papel importante tanto na formação da chuva quanto na ampliação do desastre ao acelerar a descida da água.”
Antes de se aproximar da serra, a passagem da frente fria já havia entrado em contato com o ar quente e úmido, o que resultou na formação de nuvens carregadas, de acordo com a MetSul. Além disso, o fluxo de ar frio vindo do oceano pela tarde também influenciou na formação de áreas de instabilidade mais localizadas.
Também influenciam na tragédia desta terça-feira de impactos outros fatores, como o histórico recente de chuvas, as mudanças climáticas, a urbanização desordenada e a ocupação do solo, por exemplo.
O governador Claudio Castro esteve no Morro da Oficina, em Petrópolis, o local onde houve mais deslizamentos e vítimas, e onde estão concentrados os esforços de resgate. Ele descreveu o cenário como uma “situação quase que de guerra”. O secretário de Estado de Defesa Civil, coronel Leandro Monteiro, acredita que no local ainda existam vítimas soterradas.
Castro prometeu ainda investimentos para tentar tirar moradores de áreas de risco e levá-los para lugares mais seguros, garantindo que as verbas serão do caixa estadual, mesmo que não venha ajuda federal. “O Estado vai entrar com o que for necessário. Não será por falta de recursos que deixaremos de fazer as obras necessárias. A prioridade total é para pessoas que estejam em áreas de risco. É duro, mas vamos retirar as pessoas desses locais. Teremos uma postura corajosa para fazer o que for necessário, doa a quem doer”, afirmou o governador.
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