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Política

‘O Novo tem um problema de identidade’, afirma João Amoêdo

Para fundador do partido, sigla tem de decidir se é ‘oposição ou linha auxiliar do governo Bolsonaro’.

Após o Diretório Nacional do Novo vetar seu retorno à direção da legenda, o empresário João Amoêdo afirmou ao Estadão que não planeja, “por enquanto”, deixar a agremiação que fundou há 10 anos e pela qual disputou o Palácio do Planalto em 2018. Na entrevista, porém, fez críticas ao partido, que, segundo ele, tem “um problema de identidade”.

“O Novo é oposição ou linha auxiliar ao governo Bolsonaro?”, questiona Amoêdo. Abaixo, os principais trechos da entrevista.


Foto: Davi Fernandes/GP1João Amoêdo
João Amoêdo

Como o senhor avalia a decisão do Diretório Nacional do Novo de vetar sua volta à Executiva do partido?

O Diretório Nacional é composto por 6 pessoas. Eu precisaria de 2/3, ou seja, 4 votos, e tive apenas 3. Ficou claro que a narrativa de que eu mando no partido não é verdadeira. Isso tem sido usado para atacar a mim e ao Novo. Tenho visões políticas diferentes de alguns membros do diretório.

Na sua visão, o Novo perdeu a identidade?

Quando a gente montou o Novo, a concepção era ser uma esperança para as pessoas por estar inovando na política. Era ser um partido sem agendas pessoais, políticos profissionais e com uma unidade de atuação. O fato é que o Novo tem um problema de identidade e isso ficou claro nos últimos tempos. O partido precisa reencontrar o seu caminho original.

Como o senhor avalia a relação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, com Bolsonaro?

Ele fez um vídeo ontem (segunda-feira, 27) no qual faz agressões fortes a mim, mas sem citar meu nome. O governador teve uma atitude muito machista. Disse que eu pareço aquela mulher que o marido se divorciou, mas não consegue deixá-lo em paz. Ele está muito incomodado porque faço críticas ao governo Bolsonaro e adotou uma narrativa fora da realidade: de que eu não teria me conformado por ter perdido a eleição em 2018. Isso passa longe da verdade. Fica claro, infelizmente, que Zema tem um viés de apoio ao Bolsonaro. Isso torna ainda mais complexo o quadro do Novo. Deveríamos deixar de lado os cálculos eleitorais e fazer o que é o certo.

Pretende mudar de partido?

Eu me coloquei à disposição para ajudar no Novo, a partir do diagnóstico de que o partido não está bem. Essa via não funcionou. Não fui aceito. Por enquanto vou continuar filiado. Deu muito trabalho fazer um partido diferente. Foram dez anos de dedicação. Mas, como filiado, fico restrito em como ajudar. Pretendo trabalhar com pessoas como (Luiz Henrique) Mandetta, (Sérgio) Moro e (Carlos Alberto dos) Santos Cruz para encontrar a terceira via. Já passou da hora.

Foi uma decisão sua deixar a presidência do Novo, já que seu mandato não tinha acabado. Por que mudou de ideia?

Fui eleito por unanimidade por todos os diretórios. Meu mandato iria até 2023. Saí porque queria um pouco mais de tempo depois de dez anos dedicados ao partido. Em segundo lugar, porque eu queria mostrar que construímos uma cultura dentro da organização na qual ela podia andar dentro dos princípios que o partido foi concebido e que eu não era a pessoa que mandava no Novo. Mas, vendo hoje, essa cultura ainda está em construção.

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