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Política

Perito de Temer diz que não garante veracidade de gravação

O perito apresentou uma análise em que contesta a autenticidade dos áudios feitos pelo empresário Joesley Batista.

O perito Ricardo Molina, que foi contratado pelos advogados de defesa do presidente Michel Temer, divulgou na noite desta segunda-feira (22), uma análise em que contesta a autenticidade dos áudios feitos pelo empresário Joesley Batista. “Não garanto a autenticidade da gravação”, disse Molina à Veja.

“É uma gravação tão contaminada que não pode ser levada a sério. Ela só está sendo levada a sério pelo contexto político que a circunda. A Procuradoria é ingênua e incompetente. Aquilo é coisa de leigo e que não sabe mexer em áudio. Eles se esconderam atrás de frases como índice provável de confiabilidade. Essas duas pessoas [analistas do MPF] não entendem nada de áudio”, disse o perito.


De acordo com Ricardo, na gravação divulgada, existem pelo menos 60 pontos de edição. “Não dá para dizer que é edição. Tem alguma falha sistêmica neste gravador. A questão é: dá pra garantir que é autêntica? Não. Há inúmeras portas na gravação para quem queira fazer uma edição”, disse o perito, que afirmou que a gravação “não é a original”.

  • Foto: Dida Sampaio/Estadão ConteúdoPresidente Michel TemerPresidente Michel Temer

A apresentação das avaliações de sua análise preliminar sobre os áudios, aconteceu em um hotel de Brasília, onde, Ricardo Molina chegou a comparar a gravação feita pelo delator da Operação Lava-Jato a uma carne em que parte esteja contaminada. “Carne podre a gente joga fora”, disse.

Em suas conclusões, o perito afirmou que o áudio apresentado pelo empresário Joesley Batista é cheia de descontinuidades. “Uma gravação inteiramente contaminada por inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruídos, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa e várias outras incertezas não poderia ser considerada como prova material válida. Existem inúmeros pontos na gravação nos que se poderia efetuar, sem deixar qualquer vestígio, uma edição envolvendo corte de material original. Nenhum perito no mundo descobriria isso”, afirmou Ricardo.

Molina ainda chegou a criticar a principal prova. “Pressa de transcrições de todo tipo, no caso de provas materiais, não existe prova mais ou menos boa. Ela deveria ser considerada imprestável desde o primeiro momento. Há eventos suspeitos. Estou inclinado a dizer que sim [foi manipulada]”, comentou o perito.

Ele ainda indagou o critério usado pelo Ministério Público Federal para adotar a gravação como peça do inquérito de partida à investigação: “Por que a PGR se apressou em divulgar uma gravação tão nitidamente corrompida antes de submetê-la a uma perícia técnica rigorosa?”. Ricardo Molina disse ainda que não se faz necessária forçar a autenticidade das provas. “Perito não deve ficar fazendo força para provar a autenticidade. Se a prova é ruim, a prova é ruim”, falou.

Ele afirma ainda que até mesmo leigos não conseguem entender as a gravações. “Se essa gravação não tivesse problemas, não estaríamos discutindo aqui. Qualquer gravação contínua do início ao fim não cria esse tipo de discussão. Essa gravação tem problemas e problemas detectadas até por leigos”, disse Ricardo. Para ele, a sequência lógica não é um critério técnico para se analisar um áudio: “Onde está a sequência lógica se eu escuto o Joesley e não o presidente Temer? Sequência lógica é um critério altamente subjetivo numa gravação esburacada. A postura ética correta seria desprezar”, revelou Molina.

Molina classificou o gravador usado pelo dono da JBS como “vagabundo” – segundo a defesa de Joesley, um pen-drive dotado de microfone e gravador acoplado, que ainda será encaminhado aos investigadores e à PF para perícia. “Causa estranheza que uma gravação tão importante tenha sido feita com gravador tão vagabundo. Esse gravador custa 26 reais no Mercado Livre [site de comércio on-line]. Joesley poderia ter comprado uma coisa um pouquinho mais cara. A gravação está inteiramente contaminada, com longos trechos ininteligíveis e várias outras incertezas. Num processo normal, essa gravação sequer seria aceita como prova em função do excesso de vícios que ela tem”, disse o perito, acompanhado do advogado de Temer, Gustavo Guedes.

Eduardo Cunha

Ricardo Molina disse ainda ter analisado diversos trechos da gravação, entre truncagens e pontos de obscuridade e apontou que dezenas de casos registrados por Joesley Batista. “Levariam um perito a jogar essa fita no lixo. Há falhas sistêmicas [do equipamento, por baixa qualidade] e outras falhas de descontinuidade que podem ser edição, embora não seja possível afirmar”, contou.

Segundo o perito, no trecho do diálogo sobre Eduardo Cunha foram encontradas seis falhas. Na gravação, o empresário indicou que estava pagando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para eles ficarem calados. Os dois estão presos. Diante desta afirmação, Temer teria dito: “Tem que manter isso, viu?”.

Inquérito no Supremo

A defesa de Michel Temer desistiu nesta segunda-feira (22) de pedir a suspensão do inquérito instaurado contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa.

As acusações se basearam na delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista. O pedido para paralisar a investigação havia sido protocolado pelos advogados do presidente no último sábado (20), quando o presidente fez um pronunciamento desqualificando as provas levantadas contra ele no processo.

De acordo com a defesa do presidente, o objetivo do pedido era levar a Justiça a fazer uma perícia no áudio em que Joesley grava Temer durante um encontro, que não consta na agenda oficial, ocorrido na noite do dia 7 de março, no Palácio do Jaburu, em Brasília. Após a movimentação da defesa e com a consentimento da Procuradoria-Geral da República, o ministro do STF Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na corte, determinou a análise do material.

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