A delação premiada do lobista Claudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, cita o nome de dois deputados federais do Piauí, Paes Landim (PTB) identificado pelo codinome “Decrépito” e Heráclito Fortes (PSB), por “Boca Mole”. Segundo o Antagonista, ambos estão na lista dos beneficiários do esquema de pagamento de caixa 2, feitos pela empreiteira.
Segundo o documento de delação, Paes Landim recebeu 100 mil reais da empreiteira e Heráclito Fortes, a quantia de R$ 200 mil. Para o deputado estadual Robert Rios (PDT), precisam ser analisados se houve mesmo esses pagamentos e qual foi a utilidade. “Há diferentes localidades de crime, se você recebe dinheiro de uma empreiteira oferecendo obras em troca, isso é corrupção e lavagem de dinheiro. Se você recebe dinheiro para campanha política e declara na Justiça, não cometeu crime. Agora se você recebe e não declara, isso é enriquecimento ilícito”, avaliou.
- Foto: Lucas Dias/GP1Deputado Estadual Robert Rios
Robert Rios complementou que é preciso levar em conta a atitude de cada um dos citados. “O Heráclito sempre foi oposição e o Paes Landim não é nem ligado a obra, todo mundo sabe o seu passado. Tem que saber qual foi a contraproposta, se receberam e para quê. A verdade é que no Brasil, sempre houve uma ligação estreita entre políticos e empresas e as empresas não financiam porque são boazinhas”, ressaltou.
Além deles, também foram citados o presidente Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado Renan Calheiros (Justiça), o ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (Caranguejo), o deputado federal Rodrigo Maia (Botafogo), os senadores Eunício Oliveira (Índio) e Romero Jucá (Caju), entre outros.
Confira um trecho da delação:
Como já indiquei anteriormente, no exercício da minha atividade profissional, eu recebi, por parte de alguns parlamentares com quem eu me relacionava e que tinha relacionamento institucional com a Companhia, solicitações de apoio financeiro em períodos próximos aos pleitos eleitorais (...) Informo abaixo lista dos candidatos aos quais foram feitos pagamentos no ano de 2010, por aprovação dos presidentes das empresas ou de Marcelo Odebrecht, e que de alguma forma participei da solicitação. Esses pagamentos foram operacionalizados pela relação regional com os políticos e pela expectativa que se tinha de que, caso fossem eleitos, atendessem a pleitos nossos que surgissem durante os seus mandatos:
Deputado Paes Landim (PI) [“Decrépito”], no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Antigo parlamentar do Piauí, que sempre nutriu simpatia pela Odebrecht. Fez discursos citando a empresa de forma elogiosa no plenário do Congresso, além de discursos específicos em homenagem à memória de meu pai, fato que me deixou sensibilizado e agradecido. Acredito que sua postura nutria esperança de receber algum pagamento a pretexto de campanha eleitoral, fato que ocorreu. Por outro lado, o pagamento também tinha como objetivo gerar crédito para eventual necessidade futura. Paes Landim possui longa relação com a empresa estando já em seu oitavo mandato como Deputado Federal. Sua relação com a empresa vem desde o final da década de 1980 e eu continuei esse relacionamento. Por várias vezes tentou publicar a história da Odebrecht em livros que são editados pelo Congresso. Chegou a solicitar encontros com o fundador da Odebrecht, mas que não se concretizou. Em algumas oportunidades discursou sobre a Engenharia Brasileira e sempre citava a Odebrecht como exemplo. Chegou a me procurar para que participássemos da construção do aeroporto em Parnaíba (Piauí), mas agradeci e disse a ele não era uma obra adequada para o tamanho de nossos projetos;
Heráclito Fortes (PI) [“Boca Mole”], no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Político de influência, com histórico no PMDB de Ulysses Guimaraes, tendo sido Deputado Federal, Senador da República e ex-prefeito de Teresina/PI, tinha a expectativa de que em eventual necessidade, pudéssemos usar o seu apoio em demanda dentro do Senado Federal. Exemplo disso foi quando ele era Senador e que pedi a ele que acompanhasse as dificuldades que passávamos com a perda de um 71 funcionários nosso no Iraque, pois ele era membro da Comissão de Relações Exteriores. O trânsito deste parlamentar com o meio político agregou a mim uma melhor percepção dos “players” em Brasília. Considero Heráclito muito bem informado e tem leitura da história política que ajuda a qualquer RI que trabalha em Brasília. Em razão das fortes relações políticas que tem, Heráclito sempre ajudou na análise dos principais temas políticos. Esse acervo político e as suas fortes relações justificavam que fossem realizados pagamentos a pretexto de campanha.
Ver todos os comentários | 0 |