Kléber Eulálio não repassa dinheiro de convênio e a SEP deixa de pagar atletas e fornecedores

Três meses depois de ser eliminada do Campeonato Piauiense de Futebol Profissional, a Sociedade Esportiva de Picos (SEP) ainda não pagou os salários atrasados dos atletas e nem quitou as dívidas com os fornecedores.


O motivo alegado pela diretoria para o não pagamento dos débitos é que o prefeito de Picos, Kléber Eulálio (PMDB), ainda não teria feito os repasses dos meses de abril e maio, provenientes de um convênio celebrado entre a Prefeitura e o clube.


Como o valor de cada parcela mensal é de R$ 80 mil, faltaria a Prefeitura de Picos repassar para a Sep R$ 160 mil. O dinheiro seria suficiente para quitar todos os débitos do clube contraídos na atual gestão, que, segundo um dos dirigentes, giram em torno de 159 mil reais.


Por conta do atraso no pagamento, alguns atletas estão procurando a justiça para ingressar com ações trabalhistas. Alguns, que residem em outros estados, ligam constantemente para os diretores cobrando os salários que não foram efetuados.


Atletas que foram dispensados pela diretoria ainda em março, juntamente com o treinador Cícero Monteiro, têm metade do salário do mês para receber. Já os demais, que permaneceram no clube até a eliminação do campeonato, estão sem o pagamento referente a abril.

Além dos atletas, o clube tem débitos junto a hotéis, loja de material esportivo e a pessoas físicas, que fizeram empréstimos para custear despesas de viagem. Somando tudo a dívida da Sep ultrapassa os 159 mil reais.

Convênio

No dia 14 de fevereiro deste ano, a Câmara Municipal de Picos aprovou projeto de lei autorizando o executivo a celebrar convênio com a Sociedade Esportiva de Picos no valor de 80 mil reais mensais. O repasse seria retroativo ao mês de janeiro perdurando até maio, ou seja, cinco parcelas, totalizando uma ajuda financeira de 400 mil reais.


Na oportunidade, os vereadores aprovaram uma emenda ao projeto obrigando a diretoria do clube a prestar contas dos gastos dos recursos repassados pelo município, diretamente à Comissão de Educação, Cultura, Esporte, Lazer e Ordem Social da Câmara Municipal de Picos.

Como a prefeitura alega que houve atraso na prestação de contas, o prefeito Kléber Eulálio (PMDB) suspendeu os repasses referente aos meses de abril e maio até que tudo fosse normalizado. Porém, até o momento o dinheiro não foi liberado, provocando uma crise financeira sem precedentes na história do clube.

O presidente da Sep Paulo Lauriano explicou que, primeiramente foi feita uma prestação de contas somando todas as despesas e receitas, mas a prefeitura queria só aquilo referente aos 80 mil mensais do convênio aprovado pela Câmara. A prestação de contas foi refeita e enviada para a prefeitura, que mesmo assim ainda não providenciou os repasses.

O prefeito Kléber Eulálio prefere não falar sobre o assunto. Já o secretário municipal de Governo, Tiago Saunders Martins tem explicações para o impasse. Segundo ele, o projeto de lei enviado para a Câmara foi aprovado com uma cláusula condicionada. Que a prefeitura somente poderia fazer o repasse para a Sep após a devida prestação de contas.


“Então, o presidente da Sep atrasou um pouco essa prestação de contas e quando entregou fez apresentando as despesas do clube como um todo, o que não interessa a prefeitura. Somente interessa pra gente o valor referente ao repasse feito pelo município”, explicou Tiago Saunders.



Diante do impasse o dinheiro não foi repassado, mas o presidente da Sep já refez a prestação de contas e enviou para a prefeitura. “A documentação está sendo analisada pela Controladoria do Município e, se tudo estiver de acordo a Sep receberá o restante a que tem direito”, prometeu o secretário de Governo há 20 dias.

Esporte amador

Se a situação da Sep é caótica o futebol amador não fica atrás. De acordo com informações dos coordenadores de esporte do município de Picos, não existe recursos para nada. Nem mesmo uma bola eles podem doar para ajudar nos campeonatos de várzea promovidos pelos desportistas nos bairros da periferia e nos povoados da zona rural.

Quando da votação do projeto de lei autorizando o município celebrar convênio com a Sep, a Câmara aprovou junto uma emenda de autoria da bancada de oposição, destinando a quantia de 40 mil reais mensais para investimentos no esporte amador masculino e feminino.

Alegando que a proposta era inconstitucional o prefeito Kléber Eulálio (PMDB) vetou a emenda. Porém, o documento nunca retornou para a Câmara Municipal de Picos para ser analisado e posto em votação pelos vereadores, que, por maioria, poderiam derrubar o veto.

A vereadora Maria de Fátima Lacerda Sá Barros (PSDB) foi uma das autoras da emenda. Ela afirma que o veto não voltou para a Câmara para ser apreciado e o presidente da casa, Hugo Victor Saunders Martins (PMDB), aliado do prefeito, nunca cobrou o retorno do documento para ser analisado e votado.

“O futebol de Picos está um caos, acabou, ninguém fala mais em Sep, imagine nos times amadores. Até mesmo a equipe que deveria participar da Copa de Futebol Sub-19 desistiu da competição e a vaga foi cedida para um clube de Teresina”, denunciou a parlamentar.

Decepção

Revelado nas categorias de base da Sep e campeão pelo clube em 1991, o ex-atacante Sérgio Luís se diz decepcionado com os dirigentes atuais. “Nenhum ex-atleta conta com qualquer apoio para desenvolver um trabalho junto aos garotos. É triste e, ao mesmo tempo vergonhoso, a situação em que se encontra o futebol picoense”, ponderou.

Com débitos acumulados ao longo dos últimos anos, sem apoio da iniciativa privada e do poder público, dificilmente a Sociedade Esportiva de Picos terá condições de superar a grave crise em que se encontra. Se persistir a falta de planejamento dos dirigentes, provavelmente a torcida picoense vai demorar a ter uma oportunidade de se alegrar com o time quatro vezes campeão piauiense. O mais provável é que o clube feche as portas.

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