Aos 46 anos, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (Ceará), eleito senador com 926 mil votos (65% dos votos válidos), ex-presidente da Associação Industrial do Piauí, ex-secretário de Estado da Indústria e Comércio, ex-membro do Conselho de Administração do Banco do Estado do Piauí, ex-dirigente de várias empresas do Grupo Claudino e filho do maior empresário do Piauí, João Vicente Claudino (senador com mandato até 2015 e com passagem como titular pelas Comissões de Desenvolvimento Regional e Turismo - CDR e de Assuntos Econômicos – CAE), se prepara para enfrentar um novo desafio em 2010, que é disputar o cargo político mais importante do Piauí, o de Governador do Estado. Foi neste clima de pré-campanha que o Portal GP1 recebeu em sua redação JVC, como é mais conhecido. O resultado desta visita-entrevista de quase duas horas você acompanha agora nas linhas abaixo.
GP1 - Como o senhor vê o modelo político brasileiro?
João Vicente Claudino (JVC) - Eu acho que nós temos até que amadurecer no que tange a eleição. Quando o governador é eleito os prefeitos já estão com dois anos de mandato. Ai você vai começar dar ritmo a máquina. Você perde no mínimo seis meses para fazer as coisas funcionarem. Ai chega ano da reeleição do prefeito, logo no ano em que o governo já ganhou um certo ritmo de trabalho e o processo eleitoral atrasa tudo, em termos administrativos. Não há planejamento público que ajeite esse contexto. Por isso eu sou autor de projeto que provoca a coincidência de mandatos. Do prefeito ao presidente da República todos seriam eleitos ao mesmo tempo.
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GP1- O senhor acha que essa disputa eleitoral sucessiva acaba criando uma relação política incestuosa?
JVC – Claro! Quando é eleição do governador cria aquela instabilidade com relação aos municípios. Quando é eleição do prefeito o governador já está pensando na reeleição dele e ele quer formar uma base de prefeitos para que possa ter uma sustentação política no futuro e isso atrapalha e muito ao desenvolvimento de políticas públicas a longo e médio prazo.
GP1 - Em uma entrevista no UOL Roberto Jefferson, presidente do seu partido, coloca claramente que o PTB vai com Serra na disputa presidencial. Isso não atrapalharia seus planos aqui no Piauí?
JVC - O mais interessante do Roberto, é que ele tem preferência pelo Aécio Neves. Agora se o Aécio não for candidato, ele termina votando no Serra. Ele acha que o Serra é que será o candidato, mas a preferência dele é o Aécio. Ontem mesmo o Francelino Pereira (piauiense que foi governador e senador eleito pelo Estado de Minas Gerais) foi me visitar lá em casa. A Nora do Francelino é a primeira dama de Minas, por quê o Aécio é solteiro e a filha do Francelino é casada com o irmão dele . Então tivemos uma conversa de uma hora. Eu, ele e o Elmano. Falamos do tempo da ditadura, o papel dele na ditadura. Ele tem uma vasta experiência na política, foi senador, deputado, governador. Ele falando que o Aécio está com uma estratégia para ser presidente, agora realmente há essa situação o Serra tem realmente o nome mais consolidado, mas o Aécio tem carisma. Acho que o Aécio tem mais condições de alavancar o ritmo de uma campanha. Até porque uma campanha é muito emocional também, se você não provoca emoção nas pessoas e cria algum tipo de sentimento, ficar com um discurso tecnicista, não funciona. O Serra é muito técnico, a Dilma é muito técnica, ambos são competentes. Mas agora, a diferença é que a Dilma tem o Lula que sabe pedir voto. Já o Serra tem que pedir voto pra ele mesmo. Teve um discurso do Cristóvão Buarque falando sobre a Venezuela e de repente ele mudou para a eleição no Brasil e ele disse “não me estimula votar nem no Serra e nem na Dilma porque os dois têm os perfis muito parecidos, muda apenas duas coisas: o sexo e o tamanho do cálculo do PIB”. Apesar de na avaliação das pesquisas, o Aécio está mais atrás, mas eu acho que ele tende a ter um ritmo melhor de campanha.
GP1 – Como essa conjuntura de Brasil vai influenciar aqui no PTB do Piauí?
JVC - O PTB decidiu nas conversas que tivemos que a maioria do partido vai decidir a nossa opção em 2010, mas a grande maioria quer votar no candidato do Lula. Quais são as situações do PTB que nós temos que deixar bem claro? A opção pelo PSDB e com nome do Serra é de São Paulo com Campos Machado. O mesmo acontece no Rio com Roberto Jefferson e Roraima com o Mozarildo Cavalcante, que vota em quem o Romero Jucá não votar. Se o Romero votar no Serra ele vota na Dilma. Se o Romero votar na Dilma ele vota no Serra. É uma situação localizada. Se o Romero Jucá votar na Dilma que é o que vai ocorrer ele votará no candidato do PSDB. Então você tem no Maranhão, a Roseana vota na Dilma, o Ceará também. No Rio Grande do Norte há uma interrogação. Pernambuco vota na Dilma e na Paraíba a tendência também é votar na Dilma. Alagoas, com o Collor, também vota na Dilma e Sergipe também. Há outra interrogação que é a Bahia.
GP1 - O Roberto Jeferson afirma o que ele acha, ou fala em nome do partido?
JVC - Ele tem que defender a convicção dele. Mas na questão da executiva nacional quem tem maioria é o apoio a Dilma. Se não houver um convencimento do partido quase na sua totalidade, isso acima de 80% nos diretórios, nós não vamos forçar a barra para que o PTB se coligue com “A” ou “B”.
Jornalista João Carvalho do GP1 com o senador João Vicente Claudino (PTB)
GP1 - Pode ocorrer do PTB caminhar sozinho?
JVC – Não. O PTB deixaria o diretório de São Paulo à vontade para se coligar com quem quiser em SP. Na própria situação do Rio, o PSDB hoje caiu muito. Cresceu muito o PT, o PMDB e a ainda tem o César Maia comandando o DEM.
GP1- O senhor vem de uma aliança com o PSDB em Teresina, mas ao mesmo tempo há uma coligação com o PT e os partidos da base aliada. Como o senhor vai conseguir sair deste período de formação das alianças sem arranhar essas relações?
JVC - Nós estamos na base. Estamos construindo a candidatura da base. Agora é tudo uma questão de conjuntura política. Temos uma coligação. O problema, é que, Teresina é uma referência por quê é capital. Mas, temos várias coligações. Ao lado do PT você tem no Piauí coligação do PT com o DEM. Já vi um evento em um município que teve isso. Então somos mais de 200 municípios cada um com sua referência. Se for catalogar as coligações mais diferentes você encontra de tudo. Não é diferente do que Aécio fez em Minas, ele se coligou com o PT e lançou um candidato do PSB, ele convenceu o PT e o próprio partido dele. Foi uma engenharia muito grande.
GP1 - Aqui no Piauí este tipo de composição é possível?
JVC - Aqui é possível tudo, eu acho isso.
GP1- O senhor teme enfrentar o Sílvio Mendes e Antonio José Medeiros em uma eleição?
JVC - Eu não acredito em três candidatos. Primeiro, a proposta tem que haver a resposta do povo que continue sinalizando que há compreensão do nosso trabalho, que nós possamos apresentar um modelo diferente de conquista de desenvolvimento, um trabalho mais acentuado no Piauí. Nós temos que fortalecer uma coligação. Eu acho que a história de você tornar uma candidatura viável ou não tem que passar pelo apoio popular, o povo tem que entender as suas propostas. Tem hora que se planeja uma coligação pensando que vai dar certo. Em 2003 com o Hugo foi assim tinha o governo e o Firmino achando que aliando a prefeitura ao governo a eleição seria mais fácil, teoricamente sim, mas na hora da eleição não se comprovou isso. Às vezes achamos que estamos fazendo a coisa perfeita, mais muitas vezes ela não é.
GP1 – Alguns quadros do PT apostam que a sua candidatura barra a de Sílvio Mendes, mas como fica a candidatura do deputado Antônio José Medeiros? A base pode ter dois candidatos, ou até três?
JVC - A tendência das três ultimas eleições, é que, o terceiro candidato no Piauí não serviu nem pra provocar segundo turno. Então você tem que partir na frente pra o povo entender que você é governo, ou oposição. Acho que só terá dois candidatos. O trabalho que está sendo coordenado pelo governador Wellington Dias é exatamente para que a base permaneça unida e vamos trabalhar para isso. Tivemos em 98 uma coisa estranha. Tava Hugo Napoleão pedindo voto pra o FHC, Mão Santa pedindo voto para o FHC e parte do palanque do PSDB e PT pedindo voto pra o FHC e o Lula venceu em Teresina.
GP1- Muitos dirigentes do PT afirmam publicamente que a candidatura do deputado Antonio José Medeiros é um fato irreversível, um caminho sem volta. Como o senhor encara esta posição?
JVC - Acontece que o Governador fez uma reunião e definiu com a base pontos de entendimento. No momento que o governador Wellington Dias estabelece esses pontos o candidato tem que estar pronto para esse entendimento. Se mudar o critério ai mudou todo entendimento da base via pleitear a cabeça de chapa.
GP1 - O senhor confia na promessa do governador de que o candidato com o melhor desempenho nas pesquisas e que conseguir um maior apoio dos aliados será apoiado pela base do governo?
Jornalista Germana Chaves do GP1 e o senador JVC
JVC - Claro, todo mundo acordou dessa maneira. Eu sou um homem de acordo. Temos que partir da confiança entre todos, do elo desse acordo. Entrar em um relacionamento confiante é essencial para que as coisas funcionem.
GP1 - Como é seu contato com o PMDB?
JVC - Muito bom, temos uma boa relação. Fiz até um pronunciamento na convenção do PMDB. Tenho conversado muito com o deputado Marcelo Castro, com o deputado Kléber, com todos do PMDB.
GP1- Qual será o papel do PMDB para o PTB de João Vicente Claudino?
JVC - O PMDB tem um papel importante. Se você quiser ter uma boa gestão tem que contar com o PMDB na chapa.
O PMDB é imprescindível. É um partido consolidado e tem trabalho no Piauí. O PMDB trabalha como um colegiado. Mesmo com a perda de sua maior referência, Alberto Silva, estou convencido de que o PMDB tem que participar da chapa.
GP1- Como o PTB esta hoje, em termos estruturais, no Piauí?
JVC - Assumimos o PTB em 2003. O partido tinha 12 prefeitos, menos de cem vereadores e nossa missão foi de interiorizar o partido. Subimos de 12 para 18 prefeitos, de cem vereadores para 130 nas eleições de 2004. Pontuamos bem, conquistando as prefeituras de cidades importantes como Parnaíba e Floriano. Começamos a pontuar nessas cidades referencias do Piauí, mas tínhamos que dar musculatura ao partido nas eleições de 2006. Fizemos dois deputados que não tínhamos. Ocorre que a eleição de 2002 mudou as características dos partidos tradicionais do Piauí, como o antigo PFL. Muitas lideranças buscaram partidos da base. Neste momento de reestruturação dos partidos no Piauí nós saímos da disputa eleitoral com mais de 70 prefeitos e 50 vice-prefeitos. Em chapa majoritária marcamos presença em cerca de 180 municípios. Ou como prefeito ou como vice. Somos a regional do PTB com mais prefeitos no Brasil. Somos proporcional e nominal a maior do Brasil. Temos a Juventude do PTB, ampliamos a participação no movimento estudantil. Temos o PTB Mulher que estamos estruturando. No segmento da mulher o PTB é o único partido no qual existe a Executiva Nacional da Mulher. Vale lembrar que foi na gestão de Getúlio Vargas, do PTB, que a mulher veio a participar das decisões políticas, inclusive, ganhando o direito de votar. Estamos buscando abrir novos segmentos como o PTB Sindical, Comunitário e o PTB da Diversidade.
GP1- Como está a questão da formação de lideranças no PTB? E onde o partido vai se fortalecer politicamente nestas eleições?
JVC - Perdemos o Valério e ganhamos o Fernando Monteiro, que teve muito mais votos. Teremos o lançamento de um candidato a deputado estadual pelo grupo do prefeito Joel Rodrigues. O PTB vai crescer ainda mais em Floriano. Vamos ter candidatos no Extremo Sul, na região de Picos e no Extremo Norte. Temos candidatos à Câmara Federal como Paes Landim, Eliseu Aguiar e o ex-prefeito de Palmeirais, Marcos Almeida. Temos o deputado Nerinho na região de Picos. O PTB também é forte no Extremo Sul, em Colônia do Guguéia, em Cristino Castro e em Bom Jesus temos aliados do PTB. Nas pesquisas que fiz estamos em primeiro lugar na região de Picos. Temos umas sete prefeituras na região de Picos. Temos o prefeito de Jaicós, de Campo Grande, Marcolandia, Caridade, Dom expedido Lopes e outras prefeituras como Santa Cruz do Piauí. O PTB têm 72 prefeitos, 47 vice-prefeitos. Temos o apoio de lideranças políticas em todos os cantos do Piauí.
GP1- O senhor foi relator setorial do Orçamento Geral da União e de uma área das mais importantes, que é a da Saúde, uma função disputada e, ao que parece, pela primeira vez ocupada por um piauiense. O que podemos esperar, em termos de recursos, para o Piauí, na área da Saúde?
JVC - Não lembro quando o Piauí teve um relator na Saúde. O relator do ano anterior teve mais de R$ 1 bilhão para dividir com as emendas de bancada, já eu tive que dividir um bolo menor, de cerca de R$ 670 milhões, R$ 35 milhões só para o Piauí. Priorizamos duas emendas propostas pelos deputados Mainha e Átila Lira. Até mesmo pela função de relator vou conseguir atender uns 50 municípios do Piauí. Nas minhas emendas individuais eu vou destinar recursos para cerca de 80 municípios.
GP1- O que credencia o cidadão João Vicente Claudino a comandar o Palácio de Karnak?
JVC- Eu quero levar a experiência que eu adquiri na vida. Problema de uma comunidade não é só de doença. É desde a má alimentação, o acesso a educação. Eu quero fazer com que a nossa população tenha uma qualidade de vida melhor. Um político leva para política sua experiência e nós levamos para a política a visão do desenvolvimento do Estado. A minha escola foi a iniciativa privada. Antes de ser senador eu tive a experiência de ser Secretário de Estado até para saber diferenciar como funciona a iniciativa privada e como funciona o poder público. Conhecer a máquina administrativa de seu Estado. Não fui disputar o cargo de senador sem ter uma visão pública. Tive essa visão pública em três anos dentro da administração estadual, ajudando a construir o governo e a implantar um projeto de desenvolvimento. Acho que passar pelo Legislativo é uma experiência valiosa. É nessas bases que pretendo conduzir a minha vida política. Com esta proposta de trabalho espero poder governar o Piauí e conseguir melhor as condições de vida da nossa população, dando mais dignidade aos piauienses.
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