O promotor de Justiça Rômulo Cordão, coordenador do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Piauí, concedeu entrevista na manhã desta sexta-feira (07) na sede do Gaeco, onde apresentou detalhes da Operação Escamoteamento, deflagrada em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas do Estado(TCE), que está dando cumprimento a mandados de prisão, de busca e apreensão e conduções coercitivas a empresários e pessoas ligadas a políticos no Piauí, Ceará e Maranhão, envolvidos em esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações.
- Foto: Thais Guimarães/GP1Rômulo Cordão
De acordo com Rômulo Cordão, as investigações iniciaram há cerca de um ano e quatro meses e foram solicitadas pelo promotor de Cocal, Francisco Túlio Ciarlini. Descobriu-se nas investigações que 62 empresas fantasmas do Ceará estavam sendo contratadas por prefeituras do Piauí, Maranhão de Ceará, e movimentando milhões de reais sem prestar os serviços. Foram movimentados cerca de R$ 200 milhões.
No Piauí, o município de Cocal foi o principal alvo da operação, onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão na Câmara Municipal e na Prefeitura, no gabinete do prefeito Rubens Vieira, além de 33 mandados de condução coercitiva. Dentre as pessoas conduzidas, estão os funcionários da prefeitura, Jefsé e John Brendan, presidente da Comissão de Licitação e pregoeiro, respectivamente, além da irmã do prefeito, Auricélia. Também foram feitas duas conduções em Bom Princípio do Piauí e uma em Buriti dos Lopes.
Mandados expedidos pela Justiça
Estão sendo cumpridos 95 mandados, sendo 46 de busca e apreensão, 37 de condução coercitiva, 13 de prisão preventiva e cinco de sequestros de bens. Foram bloqueados aproximadamente R$ 19 milhões em bens.
Como funcionava o esquema
“Quando fomos investigar as empresas contratadas [por órgãos públicos e prefeituras], constatamos que eram de fachada. No endereço dessas empresas havia uma praça, em um terreno baldio, ou seja, não existiam de fato, ou empresas que, quando existiam, eram microempresas, mas que movimentavam até 20 milhões de reais”, explicou o promotor, que divide o esquema em quatro núcleos: núcleo empresarial, político, operacional e de laranjas.
O núcleo empresarial corresponde aos indivíduos, todos do Ceará, que constam como proprietários das empresas. Entre os empresários presos está Carlos Kenedy, que, segundo Cordão, já havia sido preso em operação policial anterior sob acusação do mesmo crime, e o contador e proprietário de um escritório de contabilidade, Joaquim Viana.
No núcleo operacional atuavam as pessoas responsáveis por tratar das transações financeiras. Uma destas pessoas é Ana Cristina, também do Ceará, namorada de um dos empresários que foi presa e é apontada como uma das principais operacionalizadoras do esquema.
O núcleo político era constituído por funcionários públicos ligados à prefeituras, responsáveis por contratarem os serviços das empresas fantasmas.
Quanto aos laranjas, Rômulo Cordão explicou que as pessoas serão ouvidas, para que seja constatada participação no esquema. “Tem uma senhora de Cocal que é concursada como zeladora. Como ela é assalariada, em um ano recebe em torno de 12 mil reais. Mas ela recebeu em sua conta dinheiro de duas empresas investigadas, um valor de 65 mil de uma empresa e 45 mil de outra, em um ano”, declarou.
Ver todos os comentários | 0 |