A inserção no mercado de trabalho é direito das pessoas com deficiência (PCD) garantido por lei. Entretanto, elas ainda encontram dificuldades em alcançar a independência financeira porque muitas empresas não cumprem a legislação. Entre aqueles que enfrentam o desafio da inclusão nas vagas de trabalho, os autistas estão entre os PCDs mais discriminados. Como forma de sensibilizar a sociedade e divulgar cursos de profissionalização para auxiliar nessa inserção, o Ministério Público do Trabalho no Piauí realizou o evento Autismo e Mercado de Trabalho na manhã desta sexta-feira (23) no auditório do Centro Reabilitar - CEIR.
Na ocasião, a procuradora do Trabalho Jeane Carvalho destacou a importância da inclusão do autista no mercado de trabalho. Segundo ela, o caminho para a real inserção da pessoa com deficiência (PCD) ainda é longo. "Diversas empresas alegam que não tem PCD querendo emprego. Mas elas não querem ter o trabalho de adaptarem-se a eles. Entretanto, são as instituições que devem se adaptar. É o inverso que deve acontecer, pois as instituições têm uma missão social a cumprir", explica.
As palestras fazem parte do projeto “Autismo e Mercado de Trabalho” do MPT no Piauí, que surgiu a partir da demanda das famílias junto ao órgão. "Já havia algo parecido no Rio Grande do Sul, porém não existia um modelo a ser seguido. Foi preciso sentir a necessidade local para poder agir", a procuradora relata. Além das palestras, também foram apresentados cursos de profissionalização promovidos pelo SENAC e SENAI.
- Foto: Divulgação/AscomProcuradora Jeane Carvalho
Sheila Oliveira, da Escola Viva, frisou os benefícios de contratar autistas. Ela conta que os ganhos são mútuos. "Para o autista, a inclusão influencia na sua autoestima e ele passa a fazer parte de grupos sociais, além da família e da escola, bem como desenvolvem habilidades e conquistam independência financeira. Por outro lado, a empresa que busca a inclusão é bem vista. Seus integrantes aprendem a lidar melhor com as diferenças, estimula o trabalho em equipe, o que traz leveza ao ambiente de trabalho e valorização da empresa. Todos ganham", ela garante.
O evento aconteceu em parceria com diversas instituições, como o Centro Reabilitar - CEIR. Walter Oliveira é superintendente administrativo financeiro do Centro e pai de uma criança autista. Para ele, a luta não é por cura ou aproximar o comportamento do autista daquele considerado comum, mas uma busca para que a sociedade acolha essas diferenças. "O CEIR, além da reabilitação, se preocupa em participar da luta pela inclusão. Temos que lutar desde já para que as crianças autistas sejam aceitas e a sociedade colabore das mais diversas formas. Minha preocupação como pai é que um dia eu não estarei mais aqui. Como meu filho irá se integrar ao mercado de trabalho?”, questiona.
Ana Cândida tem autismo leve e deu seu depoimento sobre a importância da inclusão. "Comecei a trabalhar há mais de 10 anos após me formar na área de psicologia. Não foi uma boa experiência. Na época, eu ainda não havia sido diagnosticada. Enfrentei preconceitos antes e após o diagnóstico. Depois, encontrei um trabalho mais condizente com a minha realidade, como secretária executiva, mais burocrática. Tem sido ótimo", ela declara.
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