Antônio Francisco da Costa e Silva foi um poeta e funcionário público de carreira, nascido em 28 de novembro de 1885, na Rua das Flores, cidade de Amarante, a aproximadamente 160 quilômetros de Teresina. Conhecido como o príncipe dos poetas piauienses, ele escreveu a letra do Hino do Piauí, adotado como símbolo do estado em 1923, foi membro da Academia Piauiense de Letras (APL) , um dos escritores mais reconhecidos a nível nacional e morreu em 29 de junho de 1950, no Rio de Janeiro. Conheça abaixo um pouco mais de sua obra e de sua história.

Desde pequeno, Da Costa e Silva escrevia seus versos e, aos 16 anos, publicou seus primeiros poemas no Grêmio Literário Amarantino. Por volta de 1900, mudou-se para Teresina, onde concluiu o ensino médio (então ginásio), na escola Liceu Piauiense e, em 1906, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife. Em 1908, lança seu primeiro livro, intitulado Sangue, aclamado pela crítica nacional, e onde se encontra “Saudade”, um de seus poemas mais conhecidos.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Antônio Francisco da Costa e Silva

Rigor formal

O poeta escreveu principalmente sonetos e dominava a fina arte, demonstrando sempre rigor formal na construção dos versos, como no poema Saudade, composto em sua maioria por versos decassílabos ou eneassílabos.

“Saudade! Olhar de minha mãe rezando, (10 sílabas poéticas)
E o pranto lento deslizando em fio… (10)
Saudade! Amor da minha terra… O rio (10)
Cantigas de águas claras soluçando. (10)

Noites de junho… O caburé com frio, (10)
Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando… (10 mais uma repetição)

E, ao vento, as folhas lívidas cantando (10)
A saudade imortal de um sol de estio. (10)

Saudade! Asa de dor do Pensamento! (9)
Gemidos vãos de canaviais ao vento… (11)
As mortalhas de névoa sobre a serra… (10)

Saudade! O Parnaíba – velho monge (9)
As barbas brancas alongando… E, ao longe, (11)
O mugido dos bois da minha terra…” (10)

Hino do Piauí

Apesar da maior parte de sua obra ser composta por sonetos, Da Costa e Silva também mostrou suas habilidades em outros arranjos, como no Hino do Piauí, adotado pelo Estado como um de seus símbolos em 1923 e no qual o príncipe dos poetas piauienses manifestou aprimoramento formal ainda maior. No caso desse texto, é possível observar o uso de palavras com sílabas anasaladas, que dão mais melodia aos versos.

“Salve a terra que aos céus arrebatas
Nossas almas nos dons que possuis:
A esperança nos verdes das matas,
A saudade das serras azuis.

REFRÃO:
Piauí, terra querida,
Filha do Sol do Equador,
Pertencem-te a nossa vida,
Nosso sonho, nosso amor!
As águas do Parnaíba.
Rio abaixo, rio arriba,
Espalham pelo sertão
E levam pelas quebradas,
Pelas várzeas e chapadas,
Teu canto de exaltação!

Desbravando-te os campos distantes
Na missão do trabalho e da paz,
A aventura de dois bandeirantes
A semente da pátria nos traz.

Sob o céu de imortal claridade,
Nosso sangue vertemos por ti,
Vendo a pátria pedir liberdade,
O primeiro que luta é o Piauí.

Possas tu no trabalho fecundo
E com fé, fazer sempre melhor,
Para que no concerto do mundo,
O Brasil seja ainda maior.

Possas tu conservando a pureza
Do teu povo leal progredir,
Envolvendo na mesma grandeza
O passado, o presente e o porvir!”

Academia Piauiense de Letras

Da Costa e Silva foi o primeiro ocupante da cadeira número 21 na Academia Piauiense de Letras, hoje ocupada pelo professor de Língua Portuguesa, Dílson Lages. Em conversa com o GP1 , o educador ressaltou a responsabilidade que é ocupar o assento e lembrou da importância da divulgação da obra Dacostiana.

Foto: Reprodução/Arquivo pessoal Dílson Lages
Dílson Lages, professor e poeta piauiense

“Ocupar a cadeira que fora assento de uma das mais celebradas vozes da literatura piauiense, com grande reconhecimento na historiografia brasileira, é razão para atenção redobrada com o compromisso primeiro das instituições literárias: a preservação da memória. Tudo que eu produzir, como literato, como pesquisador, será sempre pequeno diante da luz que foi - e é - Da Costa e Silva. Obras literárias precisam de permanente divulgação - para que cheguem a novas gerações e a outros contextos de leitura. A geração de hoje não lê, por exemplo, o rio Parnaíba como as que a antecedeu, mas a poesia, essa matéria da imortalidade, pertence a todos os tempos. A poesia de Da Costa e Silva pertence a todos os tempos”, destacou Dílson Lages.

Obra de domínio público

Toda a obra de Da Costa e Silva entrou em domínio público no dia 1º de janeiro de 2021. Dessa forma, qualquer título do autor piauiense pode ser publicado e vendido por qualquer editora, sem a necessidade de pagar direitos autorais aos seus herdeiros.

Segundo o Art. 41, da Lei nº 9.610, que consolida a legislação sobre direitos autorais, os direitos patrimoniais de um autor perduram por setenta anos, que começam a ser contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao de sua morte. No caso, Da Costa e Silva morreu em 29 de junho de 1950.

Morte de Da Costa e Silva

A saúde de Da Costa e Silva começou a decair em 1932, após desilusões no funcionalismo público e ainda marcado pela morte da primeira mulher. Em 1942, mudou-se de vez com a família para o Rio de Janeiro, onde morreu em junho de 1950.

Viva Da Costa e Silva!