Após a repercussão do vídeo em que a advogada piauiense Élida Fabrícia afirma "adorar um crime passional", o Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI) emitiu uma nota de repúdio sobre a fala da profissional, que também é Conselheira Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O vídeo foi compartilhado pela advogada na última segunda-feira (12), data que marca o Dia dos Namorados no Brasil. Devido à data comemorativa, ela compartilhou um registro em que afirmou que "Dia dos Namorados combina com crime passional".
O MPPI classificou a atitude como uma tentativa de fazer publicidade e tentativa de captação de clientes, que acabou menosprezando crimes como o feminicídio. “Num país em que uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas – e no qual o Piauí está entre os dez estados em que mais se matam mulheres – e em que o machismo estrutural e a misoginia estão fortemente entranhadas na cultura local, a fala da advogada demonstra profundo desprezo pela dor de todas as mulheres e vítimas de crimes dolosos contra a vida”, manifestou o órgão.
A nota de repúdio, assinada pelo Núcleo das Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (Nupevid/MPPI), Grupo de Apoio aos Promotores de Justiça com Atuação no Tribunal do Júri (Gaej/MPPI) e Núcleo de Atendimento às Vítimas (Navi/MPPI), também solicitou ao Tribunal de Ética e o Conselho Federal da OAB a tomada de providências pertinentes ao caso.
Crime passional fora do vocabulário
A expressão é utilizada majoritariamente por advogados que tentam reduzir a pena de clientes para justificar crimes como violência doméstica e, até mesmo, feminicídio.
OAB aciona Conselho Federal
A Seccional Piauí da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que vai acionar o Conselho Federal da OAB nacional a respeito do vídeo publicado pela advogada piauiense Élida Fabrícia. Em registro divulgado por ela nas redes sociais nessa segunda-feira (12), Élida afirmou que “adora um crime passional”.
“A instituição, através de todos os seus membros e membras, é reconhecida por trabalhar para combater as violências, especialmente a violência contra mulher infelizmente ainda tão frequente em nosso Estado”, informou a instituição.
Advogada pede desculpas
Élida Fabrícia Machado usou as redes sociais nesta terça-feira (13), para defender a atuação de advogados criminalistas e negar que tenha diminuído crimes como o feminicídio. Ao se manifestar, ela chegou a afirmar que não fez apologia a nenhum tipo de crime ou a vida de mulheres.
“Não se trata, de forma alguma, de uma apologia ao crime, ou de incentivo, depreciação de vida de mulheres, etc., até porque, no meu entendimento, existe uma grande diferença entre feminicídio e crime passional”, justificou a advogada.
Confira nota do MPPI na íntegra
O Ministério Público do Estado do Piauí vem, por meio desta, repudiar a fala da advogada e Conselheira Federal da OAB Élida Fabrícia, que circula nas redes sociais desde ontem.
A pretexto de fazer publicidade e captação de clientes aproveitando-se do dia dos Namorados, a advogada usa, jocosamente, argumentos como “eu adoro crime passional, adoooro quando chega aquele processo, quentinho, gostosinho, bem formado, com crime passional” para logo em seguida afirmar, sem constrangimento algum, que “Dia dos Namorados combina com crime passional”.
Num país em que uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas – e no qual o Piauí está entre os dez estados em que mais se matam mulheres – e em que o machismo estrutural e a misoginia estão fortemente entranhadas na cultura local, a fala da advogada demonstra profundo desprezo pela dor de todas as mulheres e vítimas de crimes dolosos contra a vida.
O Ministério Público do Estado do Piauí reafirma o compromisso constitucional de lutar em defesa das mulheres e de todas as vítimas de crimes dolosos contra a vida, passionais ou não, esperando que o Tribunal de Ética e o Conselho Federal da OAB adotem as providências pertinentes ao caso.
Núcleo das Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (Nupevid/MPPI)
Grupo de Apoio aos Promotores de Justiça com Atuação no Tribunal do Júri (Gaej/MPPI)
Núcleo de Atendimento às Vítimas (Navi/MPPI)
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