A enfermeira Carlene Nobre Ferreira, que denunciou ter sido espancada por seu ex-namorado, o advogado criminalista e servidor do Tribunal de Justiça do Piauí, Danilo Belo, recebeu a equipe de reportagem do GP1 em sua residência, na manhã desta terça-feira (17), na zona leste de Teresina, e narrou todo sofrimento ao qual foi submetida em uma relação abusiva com o ex-namorado, durante dois anos de relacionamento. Ainda bastante abalada, ela contou que pensou que fosse morrer durante as últimas agressões que sofreu na manhã dessa segunda-feira, na casa dos pais de Danilo Belo.
A jovem de 26 anos contou que viajou para a cidade de São Raimundo Nonato, com a família do ex-namorado, na última quarta-feira (11), véspera de feriado, e que logo na manhã do dia seguinte já passou a sofrer as primeiras agressões, que se repetiram até o domingo, último dia de estada em São Raimundo Nonato.
“A gente fez uma viagem para São Raimundo Nonato, na quarta-feira, para a casa dos avós dele. Quando chegamos, na quinta-feira pela manhã, ele começou a se irritar, foi quando começaram as agressões físicas. Ele me deu seis cabeçadas, ele dizia que ia me matar e no dia seguinte aconteceu novamente. Antes de vir embora cheguei a tomar medicação, porque eu estava abalada, foi quando aconteceu a terceira agressão. Quando chegamos em Teresina, nessa segunda, pela manhã, ele queria que eu pegasse minha mala e deixasse no quarto dele, como se nada tivesse acontecido, só que eu falei que não, que iria dormir em outro quarto, porque a gente não tinha mais nada. Foi nesse momento que ele não me deixou sair, foi também nessa hora que ele pediu para mãe dele sair, porque queria conversar comigo e me deu um soco, além das agressões verbais. Eu consegui sair do quarto, fui para o quarto da mãe dele e, depois, ele me deu o último soco, que me deixou marcada no olho esquerdo”, explicou.
A enfermeira disse que as agressões ocorreram na presença da própria mãe do acusado e que o padrasto dele também estava presente na residência. “A mãe dele tentou intervir quando ela viu a situação, o padrasto também se aproximou, mas, de certa forma, eu não tenho o que falar deles”, acrescentou Carlene Nobre.
Sentimento de posse
Carlene Nobre Ferreira relatou que desde o início do relacionamento, em meados de 2021, embora nutrisse bastante carinho e amor por Danilo Belo, ele já passou a demonstrar sentimento e atitudes possessivas, tratando-a como objeto. Esse foi um dos motivos para o primeiro término entre o casal. “A gente se conheceu em 5 de junho de 2021, ficamos juntos até janeiro de 2023, passamos alguns meses separados, e retornamos em março deste ano. Desde 2021, quando a gente começou, ele teve muito sentimento de posse, mas quando a gente retomou o namoro, em março deste ano, foi que eu vi que estava impossível conviver do lado dele. Por exemplo, quando eu ia à igreja, na cabeça dele eu estava indo provocar os homens casados, um pensamento bem doentio. Então, eu comecei a perceber que isso não era amor, era um sentimento de posse”, contou.
Brigas constantes
“A gente brigava muito sempre por ciúmes, de ambas as partes, mas ele sempre foi mais possessivo e agressivo. Então, começaram as agressões verbais, mas em 2021 ainda, lá no início, chegou a ter agressão física. As agressões verbais, que antes eram só entre a gente, passaram a ocorrer na frente de outras pessoas, ele foi perdendo o medo, até quando ele perdeu o medo de brigar na frente da mãe dele. Foi nesse momento, que a mãe dele começou a presenciar as brigas, que ele se sentiu no direito de fazer qualquer coisa”, explicou a enfermeira Carlene Nobre.
“Eu pensei que ia morrer”
Com o passar do tempo, Carlene Nobre afirmou que passou a ser coagida a não denunciar a situação a qual estava sendo submetida. No entanto, ela contou que depois das sucessivas agressões durante o último feriado, resolveu colocar um ponto final no relacionamento, daí então vieram as ameaças de morte que, por pouco, não se concretizaram na manhã dessa segunda-feira (16).
“A família dele sempre me oprimia, falando que eles são os grandes aqui em Teresina, pois ele é sobrinho de um desembargador. Eles saíram falando: ‘olha, não denuncie não’ como se a corda quebrasse para o lado mais fraco. Mas eu resolvi denunciar sem medo nenhum, pois o próximo passo era me matar, não tinha mais o que fazer. Durante as agressões ele olhava no meu olho e falava: ‘vou te matar e depois eu vou me matar’, ele fez isso várias vezes. Por exemplo, se eu tivesse passando na rua, na cabeça dele, ele começava: ‘estava olhando para fulano, estava olhando para ciclano’, não dava, estava impossível e não dava para vir para casa porque ele queria vir aqui e estava aquela loucura, entende? Eu pensei que ia morrer, na minha cabeça eu ia morrer, porque ele já tinha falado tantas vezes e eu vi que ele estava com sangue no olho. Lá em São Raimundo Nonato, depois de uma das agressões, eu sentei no chão desconsolada, chorando e ele tentou, tipo, quebrar minha coluna, pegar minha cabeça e colocar entre minha perna para quebrar, e a mãe dele tentando bater nele, para ele sair de cima de mim, ele estava totalmente transtornado. Ali eu pensei que ia morrer. Ali foi quando passou uma panorâmica e eu vi: ‘não dá mais’”, desabafou.
“Não arrisque a sua vida a favor de ninguém”
Ao final da entrevista, Carlene Nobre Pereira fez um breve relato em tom de alerta a vítimas de violência, que se sentem oprimidas com medo de levar o caso ao conhecimento da Polícia Civil. “Eu sou a prova viva. Não arrisque a sua vida a favor de ninguém. Eu ultrapassei meus limites, eu não ouvia ninguém e eu estava cega. O amor cega, só que ele pode te cegar literalmente. Então, quanto antes, denuncie, faça o que for, só não deixe passar em branco, que a Justiça tem que ser feita. Portanto, denuncie, não romantize de jeito nenhum. Eu ainda estou digerindo a história toda. O meu desejo é que todas as mulheres pudessem abrir os olhos e enxergar a visão que eu estou tendo agora, você consegue ter uma visão de águia que você não tinha antes, é tirada uma venda dos seus olhos, entendeu? Então o meu desejo é que todo mundo pudesse enxergar isso. Quem me conhece sabe do amor que eu tinha por ele, ele era muito grande, mas, na verdade, esse amor, nunca existiu. Então, denuncie”, finalizou Carlene Nobre, que disse ainda que o acusado é usuário de entorpecente, mas que “estava limpo” quando ocorreram as últimas agressões.
TJ-PI vai exonerar Danilo Belo
Por meio de nota encaminhada ao GP1 na manhã desta terça-feira (17), o Tribunal de Justiça do Piauí informou que vai exonerar o servidor comissionado Danilo Belo.
Na nota, o tribunal garante que está acompanhando o caso, e reforçou seu posicionamento afirmando que “em nenhuma circunstância a violência deve ser tolerada e se coloca de forma intransigente em defesa das vítimas, especialmente das mulheres, que sofrem a cada dia com os altos índices de violência em todo país”.
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