O policial militar do 11º Batalhão da Polícia Militar, Ailton Pereira, pai do adolescente Anael Natan Colins Souza da Silva, 17 anos, assassinado em novembro do ano passado junto com Luian Ribeiro de Oliveira, de 16 anos, fez um desabafo em entrevista ao GP1 na manhã desta quarta-feira (09).
Segundo o policial, a defesa do empresário João Paulo e dos advogados Francisco das Chagas Sousa e Guilherme de Carvalho Gonçalves Sousa, presos por envolvimento no duplo homicídio, está tentando isentar a responsabilidade dos assassinos e culpar os adolescentes. “Circulou na imprensa que meu filho teria ameaçado eles dizendo que o pai era policial, mas isso não procede. Isso é o advogado que deu essa desculpa. Como é que os dois garotos já imobilizados e torturados teriam condições de ameaçar alguém?”, questionou Ailton Pereira.
O pai de Anael Natan ressaltou que o filho tinha boa conduta e negou que ele tivesse feito uso de entorpecentes na noite em que se encontrou com seus algozes. “Todo mundo sabe que meu filho era um filho muito obediente, tranquilo. Ia para escola pela manhã e voltava meio-dia, às 16h saía para jogar futebol e 19h voltava, a rotina dele era essa. A questão é que nesse dia eles saíram e estavam no lugar errado e na hora errada. Foi quando eles encontraram com os marginais, os assassinos que fizeram isso. Disseram que meu filho tinha feito uso de entorpecentes, mas não tem pessoa que acredite nessa história não. Como eles sabem que os meninos usaram drogas? Eles fizeram algum exame toxicológico? Eles têm como comprovar isso? Não tem. É novamente o advogado falando isso”, frisou Ailton Pereira.
Justiça
Conforme o policial militar, agora tudo o que a família dos adolescentes espera é que os assassinos sejam julgados e condenados pelos crimes brutais que cometeram. “A gente espera que eles continuem presos, que a promotoria faça o papel dela, como vem fazendo, que passe para o Poder Judiciário e que eles sejam condenados e que passem um bom tempo na cadeia, pelo menos uns 30 anos lá dentro. Sempre proporcionei uma vida boa para meu filho e minha família. Todos sabem do meu caráter e do caráter do meu querido filho. Não posso deixar uma quadrilha de marginais e covardes que mataram, difamar a imagem do meu filho depois de morto. Esses marginais deveriam apodrecer na cadeia”, desabafou o pai de Anael Natan.
Advogado revela motivação do duplo homicídio
Em entrevista exclusiva ao GP1, o delegado Luís Guilherme, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), revelou a versão apresentada pelo advogado Guilherme de Carvalho Gonçalves Sousa sobre o que teria motivado o assassinato dos adolescentes Anael Natan Colins Souza da Silva, 17 anos, e Luian Ribeiro de Oliveira, de 16 anos.
Segundo o delegado Luís Guilherme, o advogado Guilherme de Carvalho disse em depoimento que a invasão dos adolescentes à residência foi o estopim de uma situação que já era corriqueira e irritava os moradores da casa. “Ali [a invasão] foi o estopim de uma situação que acontecia corriqueiramente na casa, porque ao lado funcionava uma boate clandestina e eles não conseguiam dormir de quinta a domingo. Fizeram vários BO na delegacia do silêncio, de crimes ambientais e inclusive acionaram o Ministério Público e nunca conseguiram fechar a boate. Segundo ele, a invasão de dois jovens em uma madrugada de estresse grande em razão do barulho causou uma raiva, revolta grande no pai e no filho”, revelou o delegado Luís Guilherme.
Ainda conforme o delegado Luís Guilherme, o advogado também alegou ter sido ameaçado pelos adolescentes, que estariam embriagados e feito uso de drogas. “A alegação dele é de uma série de situações cominadas com a invasão de dois menores que aparentemente não seriam presos e isso causou essa revolta para motivar o crime. Eles também alegaram que foram ameaçados de morte porque os rapazes estavam com sintomas de embriaguez e uso de drogas”, completou o delegado Luís Guilherme.
Jovens queriam entrar em festa quando foram mortos
O diretor do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), Francisco Costa, o Barêtta, concedeu entrevista exclusiva ao GP1 e revelou que os adolescentes Anael Natan Colins Souza da Silva e Luian Ribeiro de Oliveira só queriam entrar em uma festa que estava sendo realizada em um sítio ao lado da propriedade do tio do empresário João Paulo, dono do restaurante Frango Potiguar. Por isso, os rapazes entraram no local onde foram capturados e logo em seguida torturados e executados.
Conforme o delegado Barêtta, os adolescentes chegaram na festa e não tinham dinheiro para pagar a entrada, foi quando eles perceberam que o muro da casa ao lado era baixo e dava para eles pularem e entrarem no evento. Ao seguirem com a ideia, eles acabaram sendo pegos e mortos.
“Eles chegaram na festa e não tinham o dinheiro completo para pagar a entrada dos dois. Então, eles olharam e viram que a propriedade ao lado do evento, onde o fato aconteceu, tinha uma parte do muro baixo, então, eles estraram lá para acessar a festa pulando pelo muro, quando os cachorros que estavam na propriedade começaram a latir e a presença deles foi percebida. Nesse momento eles foram capturados e torturados”, contou o delegado.
Jovens foram torturados e mortos de joelhos
O laudo cadavérico dos adolescentes Anael Natan Colins Souza da Silva e Luian Ribeiro de Oliveira revela com riqueza de detalhes que as duas vítimas foram torturadas, colocadas de joelhos e mortas com disparo de arma de fogo na nuca, à queima roupa.
Logo após terem sido localizados na zona rural leste de Teresina, os corpos dos dois adolescentes passaram por exames no Instituto de Medicina Legal (IML), às 17h30 do dia 15 de novembro de 2021.
No laudo da primeira vítima, Luian Ribeiro de Oliveira, o exame constatou um tiro de entrada localizado em região da nuca à esquerda, onde formou-se um cone com base maior na porção interna do osso. Já o tiro de saída encontra-se em porção parietal direita, sendo observado na porção externa do osso. “Também se infere que a morte se deu com requinte de crueldade, compatível com execução do indivíduo de joelhos, com cabeça fletida [posicionada para baixo] e disparo por arma de fogo efetuado na região craniana, a curta distância”, diz trecho do laudo.
O laudo da segunda vítima, Anael Natan Colins Souza da Silva, repetiu o mesmo resultado obtido no exame realizado em Luian, portanto, executado em posição de joelhos, com requinte de crueldade.
O desaparecimento
Os familiares dos garotos chegaram a pedir ajuda ao GP1 a fim de localizar os meninos, que desapareceram na madrugada do dia 13 de novembro. Os corpos dos adolescentes Luian Oliveira e Anael Natan foram encontrados no dia 15 de novembro de 2021 em estado de decomposição no KM 12 da rodovia PI 112, próximo ao Povoado Anajás, zona rural leste de Teresina.
Segundo relatos da mãe de Anael, Gilmara Sousa, os rapazes eram amigos, moravam no Planalto Uruguai, zona leste da capital, e costumavam sair juntos. No último dia em que foram vistos, eles saíram em uma motocicleta para o bar Skina do Caranguejo, depois seguiram para o Depósito Mais, na Avenida Dom Severino, e teriam ido a um sítio, onde estava acontecendo uma festa. Desde então eles não foram mais vistos.
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