Após dois anos, dezenas de vítimas da tragédia do Parque Rodoviário, localizado na zona sul de Teresina, ainda vivem com a saudade de suas antigas casas e distantes dos lugares onde viveram antes de uma enxurrada de lama, provocada pela chuva que derrubou 22 casas no dia 4 de abril de 2019, tirando a vida de duas pessoas naquela noite de pesadelo. Após esse longo período, no último dia 06 de abril, o prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (MDB) assinou ordem de serviço para a construção das residências, o que voltou a dar esperança às vítimas da tragédia.
O GP1 se deslocou à comunidade e acompanhou a situação do local. O cenário do bairro ainda é o mesmo, casas destruídas e moradores passando necessidades econômicas, morando em residências de aluguel e com a expectativa de voltarem a morar na comunidade onde estavam habituados a viver.
Lembranças dos moradores
Nossa reportagem conversou com moradores que ainda nutrem a esperança de testemunharem suas casas reerguidas e que ainda lembram daquela terrível noite de 4 de abril de 2019. O senhor Nilson Cavalcante, de 64 anos, vive em uma casa de aluguel no Parque Rodoviário, em um humilde espaço junto com sua esposa, recebendo auxílio aluguel da Prefeitura de Teresina, conseguindo dinheiro com bicos e tendo que contar com o programa Bolsa Família.
“Eu vou para a Ceasa compro alguma coisa, saio vendendo pela rua, aí com o pouco que eu ganho dá para eu comer com minha família algumas coisinhas. Eu vou vivendo minha vida com minha mulher, eu tenho duas filhas, mas elas não me ajudam porque também não podem, elas estão com os seus filhos e eu, com o pouco que tenho, é que já ajudo elas. Eu só quero que os órgãos públicos enxerguem a nós, o que a gente está passando”, relatou.
Agnelo Mendes, de 55 anos, que trabalha como taxista e após ter sua casa destruída, foi morar em uma kitnet na zona leste de Teresina com sua esposa e sua filha.
“Nós fizemos uma comissão formada pelos advogados voluntários que apareceram aqui para ir atrás dos nossos direitos e fomos procurar Ministério Público e Prefeitura e os meios para nos ajudar. Desde então sempre fomos atrás de respostas. Nos mostraram o projeto, ficou muito bom, mas ainda não saiu do papel”, disse.
O morador ainda relembra os momentos que viveu em 4 de abril, quando a força da chuva invadiu sua casa e destruiu tudo, deixando apenas o terreno vazio, que atualmente está dominado pelo matagal. Segundo ele, naquela noite, a água chegou a cobrir sua esposa e sua filha, que tiveram que encontrar alguma parte mais alta para se protegerem.
“Minha casa tinha uma garagem grande, que ia até o fundo do quintal, dava para caber um ônibus, inclusive, já funcionou uma churrascaria e no dia 4 de abril, às 20h45, eu estava no quarto com minha esposa assistindo TV, então ouvi aquele barulho enorme e estava chovendo muito, quando eu olhei pela janela, a água já estava em um nível alto. Minha esposa correu para o outro quarto para salvar nossa filha e esse foi só o tempo para a casa da dona Graça cair e ela acabou morrendo”, ressaltou.
A mesma situação aconteceu com o senhor João Félix, de 63 anos, que trabalha como pedreiro e reconstruiu sua casa sozinho e se mantém na comunidade. Ele relembra que precisou subir em uma árvore para conseguir se salvar junto com sua esposa, pois o nível que agua atingiu chegava até seu pescoço e destruiu tudo que tinha dentro da residência.
“Tudo que eu tinha aqui dentro se perdeu, tudo, roupas, móveis, tudo foi embora. Eu tive que sentar ela [esposa] nessa árvore e fiquei em pé nessa outra parte. Eu mesmo fiquei só com o pescoço de fora da água. Esse pé de goiaba foi a salva guarda, caíram os muros todos aqui do lado”, relembrou.
Ajuda da igreja
O padre Carlos César, de 47 anos, que está na Paróquia do Parque Rodoviário desde quando ocorreu a tragédia em 2019, relatou que a igreja realizou um trabalho de arrecadação de mantimentos e materiais para os populares, chegando a dar abrigo para moradores que perderam suas casas.
“Naquele tempo não sobrou mais espaço para receber roupas, cestas básicas. Foi uma coisa impressionante, na época Dom Jacinto esteve aqui conosco, o local estava todo destruído. Aqui deixamos de realizar as celebrações para que o povo ficasse acolhido no local e tiveram famílias que ficaram realmente abrigadas na igreja, em uma sala de reuniões e ajudamos como podemos”, informou.
Autorização para construção das casas
Após dois anos, com o término da antiga gestão, o prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (MDB), assinou no último dia 6 de abril, a ordem de serviço para construção de 63 casas no Parque Rodoviário. As residências serão viabilizadas através de recursos do Finisa e estão orçadas em R$ 2,2 milhões.
De acordo com o prefeito de Teresina, a obra dará dignidade às famílias que vivem em situação difícil dois anos depois da tragédia que assolou a cidade. “A prefeitura traz de volta a dignidade e qualidade de vida para essas famílias”, declarou o prefeito.
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