Familiares e amigos se despedem na manhã desta segunda-feira (29), do escritor e crítico literário Assis Brasil, que morreu aos 92 anos na noite de ontem, em sua residência. O corpo do piauiense está sendo velado na funerária Pax União, localizada na Avenida Miguel Rosa, zona sul de Teresina.
Para o professor Dilson Lages, que ocupa a cadeira 21 da Academia Piauiense de Letras (APL), Assis Brasil elegeu a literatura como seu projeto de vida, ao qual se dedicou inteiramente. “Hoje é um dia triste não apenas para o Piauí, mas para a literatura brasileira. O Assis, como costuma dizer o crítico literário Rogério Samuel, estabelecido no Rio de Janeiro e autor de livros consagrados, vale por toda a literatura. Ao longo de sua vida, Assis elegeu a literatura como projeto e dedicou-se a ele com uma obstinação incomum, escrevendo em todos os gêneros literários”, ressaltou.
Conforme Dilson Lages, Assis quis mostrar a sociedade marginalizada em suas obras e por isso se tornou um imortal. “O Assis produz uma literatura em que a gente pode observar o senso estético vinculado com uma preocupação incomum com a humanidade. Quando nós passamos a observar as suas obras literárias isso fica muito evidente não apenas nas inovações que ele promove em termos de técnica, identificando a perspectiva que se vê por exemplo na construção do narrador, do foco narrativo, mas também no tratamento que ele concede aos seus personagens sob influência do marxismo. Assis manifestou ao longo de todos os seus grandes romances uma preocupação extremada com personagens marginalizados pelas estruturas de poder. Quando nós mergulhamos em Beira Rio Beira Vida, quando nós mergulhamos em Os Que Bebem como Cães, são personagens indiscutivelmente sufocados pelo poder, pela opressão e sua literatura funciona, quando ele descreve os personagens, como um grito de resistência, como um grito de indignação”, explicou.
O professor ressaltou ainda que Assis não escrevia apenas romances. Ele também gostava de mergulhar na literatura infantil, voltando aos tempos de infância. Mas para além da sua literatura, do seu romance, da crítica literária, o Assis era um apaixonado pela literatura infantil, que cultivava também. Uma literatura em que ao construir seus personagens, ao voltar a ser criança, ele costumava sempre dizer que a sua literatura era a sua possibilidade de voltar a ser criança, toda a sua narrativa era ao buscar animais, buscar elementos da natureza, era sobretudo, um grande apelo ao mexer com a imaginação das crianças em favor da amizade, da igualdade e principalmente do amor. É isso que fica da obra de Assis Brasil, esse escritor múltiplo que ficará para sempre marcado por gerações e gerações e marcará gerações e gerações de leitores, os de hoje e os de todos os tempos”, frisou o professor Dilson Lages
Por fim, Dilson Lages disse que Assis Brasil é um “escritor de todos os tempos”, por tratar de temas universais. “A sua literatura, não só pelo investimento estético, pelo tratamento da linguagem, mas pelos temas que diz respeito a condição humana, são temas universais. Esses temas são sem sombras de dúvidas temas de toda a humanidade e isso faz com que ele seja um escritor de todos os tempos”, finalizou.
Referência para o Piauí
O presidente da Fundação Quixote, que organiza o Salão do Livro do Piauí (Salipi), Kássio Gomes, disse que Assis Brasil foi uma referência para o Piauí, para o Brasil e para o mundo.
“O Assis foi o nosso quarto homenageado do Salipi. Uma referência para o Piauí, para o Brasil e para o mundo. Um grande crítico literário, um grande escritor. Foi-se o homem, mas ficou sua obra. É o autor com maior número de obras piauienses produzidas e ovacionado pela crítica. Ele ganhou os maiores prêmios literários. É uma perda grande, pois ele ainda estava em atividade, com uma lucidez extraordinária e produzindo. Então o Assis foi um personagem de uma personalidade que viveu exclusivamente para a literatura”, afirmou.
A morte
Morreu, na noite desse domingo (28), o escritor piauiense Assis Brasil, aos 92 anos. Ele havia passado por uma cirurgia na perna na última sexta-feira (26) e estava se recuperando em casa.
O escritor havia sofrido uma queda em sua casa na última quinta-feira (25), fraturando o fêmur e na sexta-feira (26) foi submetido a uma cirurgia no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Ele recebeu alta no sábado (27) e parecia estar bem, no entanto, na noite deste domingo (28), passou mal, com dificuldade respiratória. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas o escritor não resistiu e faleceu por volta de 20h.
Assis Brasil ocupava a cadeira 36 da Academia Piauiense de Letras (APL). Por meio de nota, a APL lamentou a morte do escritor. “O silêncio de Francisco de Assis Almeida Brasil, aos 93 anos, enluta a Academia Piauiense de Letras, onde ele ocupava a cadeira 36 e representa uma grande perda para o Piauí e a Literatura Brasileira, que ele engrandeceu com seu gênio literário nas mais de 100 obras escritas de publicadas”, diz a nota.
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