A médica Eliana Sereno, denunciou ao GP1, nesta quarta-feira (09), que seu namorado, o também médico João de Lemos Meireles Filho, de 34 anos, morreu no Hospital Unimed Primavera, em Teresina, no último dia 05, por negligência médica. Segundo Eliana, João Lemos foi internado após ser diagnosticado com a covid-19 e não teria recebido o tratamento adequado na unidade de saúde.
Em entrevista ao GP1, a médica contou que João Lemos chegou ao hospital no dia 18 de novembro já com pulmão comprometido por conta da covid-19 e que foi internado na UTI no mesmo dia. “Começaram a fazer as medicações para o vírus e fisioterapia, fluxo alto de cateter e VNI (Fisioterapia para expandir os pulmões). João Filho só aguentou o fluxo por 3 dias, pois como era de grande volume começou a sangrar, a ferir as vias aéreas respiratórias dele”, relatou Eliana que acompanhou o namorado no hospital juntamente com o irmão dele, Diego Lemos.
- Foto: Arquivo da FamíliaJoão de Lemos Meireles Filho
“Por várias vezes eu pedi que fosse feita a assepsia do local, mas nada fizeram, e ele teve que voltar para máscara de oxigênio onde prejudicou mais ainda os pulmões. No mesmo dia, à tarde, ele começou a se sentir mal, febre, algo que ele ainda não tinha sentido. Já era o vírus evoluindo novamente”, continuou a namorada.
"Médica plantonista me humilhou"
Ainda de acordo com a médica Eliana Sereno, assim que o namorado começou a passar mal ela foi conversar com a médica que estava de plantão. “No mesmo instante eu fui até médica plantonista Viviane e pedi que ela solicitasse um novo hemograma para que víssemos como estava a infecção. Ela me humilhou de todas as formas possíveis, dizendo que a médica de plantão era ela, não eu, e que ela não via necessidade de pedir um novo hemograma”, relembrou Eliana.
- Foto: Reprodução/FacebookEliana Sereno
“Sendo que eu, namorada de João, e o João somos médicos também, e sabíamos do avanço que estava acontecendo. E ela ainda reclamou do fluxo que eu estava fazendo dentro da UTI, pelo fato de eu ter ido até a fisioterapeuta, enfermeiras e pedido que elas ajeitassem a ventilação dos aparelhos e fizessem a assepsia do nariz dele porque com fluxo ele estava expandindo, mas ele não aguentava mais, e nós queríamos evitar o máximo que ele fosse entubado. Mas nada fizeram, nada. Até as medicações que nós víamos que não estavam fazendo efeito, só foram mudadas depois que viram que nós tínhamos razão”, lamentou Eliana.
Reunião com a direção e problemas nos leitos
Com poucos dias internado, o quadro de saúde do médico se agravou muito e foi necessário entubá-lo. “Ele só piorando, piorando. Então, tiveram que entubar. Ele nunca quis ser entubado. Foram dias horríveis os que passei naquele lugar, eu nunca vi um paciente sair vivo, ou que precisasse de uma massagem cardíaca e tivesse sido feita com sucesso. Todos vieram a óbito. Entubaram ele, eu e o irmão dele tivemos uma reunião com a direção, explicando tudo que ali estava acontecendo, nos mínimos detalhes. Até sobre a comida, que eles colocam uma sopa pastosa dentro de um copo, para que um paciente que já está sem oxigênio chupe por um canudo. Mas como eu estava lá eu mesma dava na colher, na boca dele, pois ele não tinha forças para usar o canudo”, desabafou a médica.
Eliana contou ainda que foi impedida de ficar à noite acompanhando o namorado, após ele ser entubado. “O leito não tem um botão de alerta, pra caso o paciente esteja sozinho chamar uma enfermeira. Eu também não saía de perto por isso, pois ele a todo momento precisava de algo e não podia se mexer, isso antes de entubarem, depois de entubarem eu consegui ficar lá dentro ainda, mas com tempo determinado por eles, algo que não poderia acontecer pois é um direito legal da família, de acompanhar. Mas como eles escondem tudo, e tudo que é feito de errado ali dentro, depois que entubaram ele, me impediram de ficar a noite”, reclamou.
Sem acesso às informações e aparecimento de enfisema
“Eu ficava na parte da manhã e à tarde, durante noite fiz inúmeras ligações e poucas vezes fui atendida. Tem uma enfermeira chamada Raissa, da UTI 1, que simplesmente não passava minhas ligações para UTI 4 onde João estava para eu ter informações. Ou seja, eu tinha que esperar até o outro dia para conseguir informações sobre o estado de saúde dele", desabafou.
Dez dias depois de internado, segundo a namorada, o médico apresentou um enfisema subcutâneo. “Chegou o dia 28 de novembro, onde pela imagem radiológica eu pude ver que João apresentava um enfisema subcutâneo, de imediato pedi para que fosse feito o dreno, e eles não fizeram, pois falaram que deveria ser do tubo. Só que não, enfisema subcutâneo em UTI, tem que ser feita a drenagem de emergência”, asseverou.
- Foto: Alef Leão/GP1Hospital Unimed Primavera
“Foi-se passando os dias e no dia 30 resolveram que iriam fazer uma tomografia para ver a gravidade do enfisema subcutâneo. Mas não fizeram. Só foi realizada tomografia no dia 4 de dezembro, meio dia, depois de 4, 5 dias de muita insistência minha, eu ainda estava lá dentro da UTI e o acompanhei até o elevador. Fizeram a tomografia, mas mesmo vendo a gravidade que se encontrava, nada fizeram de imediato mais uma vez. João já se encontrava com uma pneumotórax bilateral. Passei a tarde inteira ligando para saber se o procedimento já tinha sido realizado, e nada. Mal conseguia falar com eles. Às 21h20, do dia 04 de dezembro, eu consegui falar com o médico Álvaro, e este nem sequer tinha olhado a tomografia, e a resposta que ele me deu foi que iria colocar os drenos. Isso depois de 6 dias eu implorando para que eles fizessem”, expôs Eliana.
Parada cardíaca e morte
“Logo após serem colocados os drenos, a enfermeira me falou que começou a notar a fisionomia de João diferente, mas nada fizeram. Pensaram que ele estava apenas sentindo um desconforto por causa dos drenos. Mas não, era João começando a ter uma parada cardiorespiratória e nada fizeram e nem observaram. Já no dia 05 de dezembro, pela manhã, a outra médica entrou e mandou que fizessem apenas um analgésico nele. Foi quando o monitor começou a disparar, e elas se levantaram para ver, quando chegaram até o leito, viram que João estava tendo uma parada cardíaca, começaram a fazer massagem cardíaca nele, mas em nenhum minuto ele voltou, sabe porquê? Porque ele passou a noite inteira tendo parada e eles não observaram e nem fizeram nada. João foi a óbito às 8h10 da manhã do dia 05 de dezembro de 2020 por pura negligência médica”, denunciou.
Ação na Justiça contra a Unimed
Eliana contou ainda que a família vai entrar com ação na Justiça contra o Hospital Unimed Primavera. “Eu tenho também todos os laudos, todos exames radiológicos e exames laboratoriais, prontuários. E já avisei a eles que não adianta eles quererem burlar alguma coisa, pois tenho prova de tudo”, declarou.
João de Lemos Meireles Filho era natural da cidade de Governador Luís Rocha e trabalhava em Barra do Corda, ambas no Maranhão.
O que diz a Unimed
A assessoria de comunicação informou que todas as pessoas internadas nos hospitais da rede própria Unimed Teresina receberam e continuam recebendo o melhor tratamento, de acordo com as suas necessidades.
Confira abaixo a nota na íntegra:
A direção do Hospital Unimed Primavera (HUP) esclarece que desde o início da pandemia vem adotando as melhores práticas recomendadas pelos órgãos internacionais de saúde, a fim de oferecer o que há de melhor no tratamento e cura da covid-19 para seus beneficiários.
Foram realizadas adequações físicas nos hospitais dos recursos próprios, adquirido novos equipamentos, contratados mais profissionais de saúde, além da adoção de novos protocolos que garantem o melhor fluxo hospitalar e as melhores técnicas de assistência durante o atendimento de todos os pacientes. Portanto, todas as pessoas internadas nos hospitais da rede própria Unimed Teresina receberam e continuam recebendo o melhor tratamento, de acordo com as suas necessidades.
Desde março deste ano, quando surgiu o primeiro caso de Covid-19 no Piauí, a Unimed Teresina já salvou mais de mil vidas. Até o momento, foram 1.037 vidas salvas pelo esforço e dedicação dos colaboradores do Hospital Unimed Primavera e Unidade Unimed Ilhotas que continuam trabalhando diuturnamente sem medir esforços.
Ver todos os comentários | 0 |