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Teresina - Piauí

Efeitos da pandemia: CVV registra mudança no perfil de atendimento

O coordenador do CVV em Teresina, Eyder Mendes, contou que não houve uma alteração no volume da procura por apoio, mas o Piauí seguiu uma tendência nacional.

O Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza trabalho voluntário de apoio emocional e prevenção ao suicídio, observou uma mudança no perfil do atendimento durante a pandemia do novo coronavírus. As pessoas buscaram o 188, principalmente, em função do medo de perder o emprego e das consequências do isolamento social.

Em entrevista ao GP1, o coordenador do CVV em Teresina, Eyder Mendes, contou que de modo geral não houve uma alteração no volume da procura por apoio emocional, mas o Piauí seguiu uma tendência nacional no que diz respeito aos problemas elencados durante os atendimentos via 188.


“No geral, em nível de Brasil e Piauí, o que houve nos atendimentos do CVV foi uma mudança de foco nos problemas das pessoas. De março para cá, a gente percebeu uma mudança nas pessoas que, em vez de falar dos problemas tradicionais como, por exemplo, a solidão, a dor pela perda de um relacionamento, a dor da perda do trabalho, inclusive, foi até uma coisa muito presente durante a pandemia o medo de perder o emprego. Mesmo assim, o que foi mais importante nesse período em termos de problemas foi o medo de adoecer e de morrer por conta da pandemia e também a dor do isolamento social; das pessoas viverem longes umas das outras, de não verem uma solução para o distanciamento, por não poder ver seu filho, seu pai, sua mãe, seus amigos e que parecia ser uma coisa muito distante de se resolver. Então, muitas pessoas tiveram problemas para entender que isso não era um problema que veio para ficar”, ressaltou.

Foto: Lucas Dias/GP1Eyder Mendes
Eyder Mendes

Quebra do isolamento

Eyder Mendes ressaltou que muito embora a preocupação das pessoas em buscar apoio emocional tenha se voltado para o medo provocado pelo isolamento social, nos últimos meses, com o relaxamento das medidas restritivas e por consequência o afrouxamento do isolamento social, pouco a pouco o CVV tem recebido atendimentos com temas anteriores à pandemia.

“Com o relaxamento do isolamento social e as pessoas voltando a sair para trabalhar, para fazer compras e, eventualmente, para se reunir com amigos e família, a gente tem constatado que isso tem reduzido e está voltando ao normal, retornando aos focos anteriores (a solidão, fins de relacionamento, perda de emprego) e também aquelas situações em que, mesmo em uma família grande, muitas delas se veem isoladas, porque não sentem confiança em se abrir e falar sobre o problema”, pontuou.

Atendimentos em 2020

Em meio a pandemia, o atendimento dos voluntários também passou por mudanças. O CVV passou a disponibilizar a oportunidade de os atendentes trabalharem de casa, através do contato telefônico pelo 188, mas não deixou ouvir as mais de 3 milhões de pessoas que procuraram o CVV.

Foto: Lucas Dias/GP1Eyder Mendes
Eyder Mendes

“Por conta do isolamento social, o CVV se viu a ter que disponibilizar uma forma de os voluntários atenderem às ligações a partir da sua própria casa, via internet. Então, basicamente, mais de 90% dos voluntários do CVV no Brasil inteiro estão atendendo remotamente. Isso facilitou e possibilitou até, inclusive, que o nosso serviço fosse paralisado.

O CVV, na realidade, existe em 120 postos em todo o Brasil, praticamente em todos os estados da federação e a gente atende remotamente. Nós temos o telefone 188, que é gratuito e você pode ligar de qualquer lugar do Brasil, 24 horas por dia e mesmo que a pessoa não tenha crédito no celular, pode fazer a ligação gratuitamente e vai encontrar mais de 4 mil voluntários no Brasil inteiro, disponíveis para conversar com as pessoas. E aqui no Piauí, nós temos 35 voluntários, mas a gente atende pessoas do Brasil inteiro, é uma grande rede com 120 postos prontos para atender qualquer pessoa do Brasil”.

Mais de 3 milhões de ligações

Em 2019, no Brasil inteiro, foram atendidas três milhões e 500 mil ligações. “No Piauí, nós atendemos cerca de 15 mil ligações de todo o Brasil, somente no posto de Teresina, mas o Piauí é o estado que mais liga para o CVV proporcionalmente à sua população. O Piauí, há bastante tempo, a gente sabe que tem altos índices de suicídio, então a gente percebe que a população tem dificuldades de solucionar problemas, é um população ainda muito conservadora, em certos casos, preconceituosa, que impede muitas vezes de buscar ajuda”, frisou.

Planejamento 2021

O CVV teve muitos problemas nesse ano por conta da pandemia e por isso teve que deixar de fazer cursos presenciais, e assim se adaptar. “No entanto, nem todo mundo tem essa disponibilidade de fazer online, mas o ideal é fazer o treinamento presencial. Por enquanto, a gente vai fazer os cursos online e para se inscrever, basta entrar no site cvv.gov.br”, ampliou.

Objetivo

“O papel do CVV é acolher incondicionalmente, acolher emocionalmente, através da palavra amiga, onde a gente conversa com as pessoas de uma forma que não traga críticas, sem julgamentos, para que elas possam se abrir, pois a conversa é sigilosa, anônima, a pessoa não precisa se identificar, nem dizer de onde está falando, pois não fazemos qualquer registro. A pessoa pode conversar o tempo que quiser com o nosso voluntário, não existe limite de tempo e falar sobre qualquer tema, que nós estamos abertos a conversar, a ouvir, a dialogar com as pessoas. A única coisa que nós não oferecemos é aconselhamento, pois a gente acredita que cada pessoa tem que encontrar suas próprias soluções, a pessoa tem que amadurecer suas ideias e encontrar suas próprias saídas”, ressaltou Eyder Mendes.

Palavra amiga

“É preciso estimular as pessoas a buscar uma ajuda quando sentir um problema emocional, pois não é interessante reter o problema, é importante compartilhar com pessoas de confiança, com amigos, parentes ou com voluntários do CVV, que são instruídos, sigilosos e bastante compreensão para prestar esse atendimento. No entanto, é importante que todo mundo possa fazer um acolhimento às pessoas, mesmo sem ser voluntário do CVV, mas tenha o perfil de ouvir, sem críticas e sem julgamentos e o mais importante, se aproximar dessas pessoas que estão aparentando algum problema, mas com muito jeito para acolhê-las”, finalizou, o coordenador do CVV.

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