No próximo domingo (11) acontece uma das maiores celebrações católicas do Piauí, a tradicional Caminhada da Fraternidade. Ela que está em sua 22° edição, neste ano traz como tema “Somos da Paz”. A temática foi pensada após a onda de violência que tomou conta do Brasil e do mundo, especialmente às rebeliões em presídios do norte e nordeste do país. A concentração está prevista para às 7h, na Igreja de São Benedito.
O crescente número de assaltos e assassinatos vem assustando os teresinenses, por isso, a organização da caminhada decidiu colocar a questão em pauta. O objetivo do evento é dar visibilidade para o assunto, que é um verdadeiro grito pela paz e a justiça.
“Nós estamos nos tornando uma sociedade medrosa, nós temos medo uns dos outros, não estamos nos olhando como irmãos e irmãs, mas como concorrentes e inimigos. Precisamos construir um mundo de paz, uma sociedade de paz, se nós quisermos, teremos paz, precisamos ser empenhados, colocarmos nossa vida a serviço da paz, vendo e abraçando o outro, como nosso irmão. A caminhada da Fraternidade, tem essa intenção, de construir uma cultura de paz, vamos participar não só da caminhada, mas dessa construção de um mundo novo de paz, onde possamos nos olhar como irmãos, e não como inimigos”, comentou Padre Tony.
Surgimento da caminhada
O criador da caminhada, Padre Tony Batista, revela como recebeu um sinal de Deus para ajudar os desfavorecidos. “Essa história toca meu coração, eu entendo como um grande sinal de Deus. Era uma quinta-feira santa, depois da missa do lava pés, ficamos em adoração até meia noite, estava indo para casa, e quando cheguei próximo da Praça de Fátima, uma senhora estava sozinha esperando o ônibus, dei uma carona para ela. Quando voltei da Rua João Cabral, onde ela morava, no caminho vi uma briga de travestis, com faca e tudo, e pedi ao Senhor Jesus para ele me ajudar a intervir, um deles me reconheceu e gritou dizendo: olha padre, não precisamos de seu socorro, porque nós sabemos onde é o pronto socorro. Ele me questionou que estávamos no ano dos excluídos: e o senhor nunca fez nada por nós, você sabia que “viado” é filho de Deus? Entendi aquilo como um recado de Jesus, fui para casa e dormir e aquilo ficou martelando muito no coração, foi ai que surgiu a ideia de fazer um trabalho com pessoas com AIDS. Pois na época, a doença estava atingindo aquele universo. Começamos o trabalho, que não foi muito fácil”, explicou o padre.
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1 Padre Tony Batista
Ele falou ainda do preconceito da sociedade na época. “Conseguimos uma casa, os vizinhos quebraram as portas ao descobrirem que seria um abrigo para pessoas portadoras do vírus. Foi ai que começou a dificuldade, com o preconceito de Teresina. Os meios de comunicação me ajudaram bastante, conseguimos recuperar as portas da casa, e começamos esse trabalho. Com o tempo, a demanda foi aumentando, quando um médico chegou de volta dos Estados Unidos com pós-doutorado, ele nos ajudou com algumas experiências que adquiriu no exterior, as pessoas patrocinavam um atleta para correr de um determinado lugar a outro, foi ai que surgiu a ideia da caminhada, me lembro bem que na primeira tinha umas cem pessoas, no ano seguinte tinha pelo menos umas 5 mil. No ano passado, já contabilizamos 70 mil cidadãos na avenida. O mais importante de tudo isso, é que aquele preconceito triste, já não existe mais. No começo, o evento só ajudava a manter o Lar da Fraternidade, hoje mantém muitos serviços de promoção humana da Arquidiocese”, contou.
“Ajudamos diversas instituições, desde que temos certeza da transparência nos trabalhos, e o Lar da Esperança é uma delas, que é bem anterior a nosso serviço. Dona Graça é uma pessoa maravilhosa, fantástica, mulher de Deus e muito responsável, e a gente sempre dar uma mãozinha também”, revelou.
O padre Tony Batista também falou sobre as críticas que recebe da caminhada.
Confira resposta do Padre Tony Batista
Lar da Esperança
Há vinte e dois anos, a Caminhada da Fraternidade vem crescendo na mesma proporção de suas ações. São inúmeras instituições atendidas por esse evento que acontece apenas uma vez por ano, porém, o resultado da arrecadação beneficia pessoas portadoras do vírus HIV, crianças carentes e até mesmo pacientes com câncer o ano inteiro. O Lar da Esperança é uma das casas que é ajudada com esses recursos.
A coordenadora do Lar da Esperança, Graça Cordeiro, falou para nossa equipe, que sempre realizou trabalhos sociais. “Antigamente eu me reunia com vários amigos, e nas datas comemorativas, saíamos pelas ruas distribuindo alimento e roupas para pessoas carentes, nunca passou pela cabeça abrir uma casa para abrigar pacientes soropositivo”, contou.
Ela disse ainda que são mais de duzentas pessoas atendidas na casa. “Atualmente moram aqui pelo menos 20 pessoas que foram desprezadas por suas famílias, não há como contar a quantidade de indivíduos que passam por aqui diariamente, tem dias que são sessenta para almoçar, tem gente tanto de Teresina como de outros lugares”, revelou Graça.
Cordeiro contou a nossa reportagem como a crise econômica diminuiu o número de doações. “São muitas as necessidades que temos por aqui, a conta de energia gira em torno de R$ 1.500,00 por mês, além disso, temos grande necessidade de alimentos, principalmente carnes e leite. Antigamente recebíamos muitos donativos, mas com essa recessão, as coisas estão cada vez mais difíceis”, comentou a coordenadora.
Graça Cordeiro fala como a Ação Social Arquidiocesana – ASA, entidade da Arquidiocese de Teresina, ajuda a manter a instituição, além de contar como sofreu preconceito em ajudar portadores do vírus HIV. Confira no vídeo abaixo!
Soropositivo
Entrevistamos um homem que é atendido no Lar da Esperança, como ele não quis ser identificado, vamos usar um nome fictício, vamos chamá-lo de Antônio José. Portador do vírus há 25 anos, Antônio disse que recebeu um convite para morar na casa. “Depois da descoberta da doença, foi a um hospital e não tive atendimento, quando algumas pessoas me falaram sobre uma casa, que ainda não era o Lar. Ao chegar ao local, dona Graça me fez o convite para morar no abrigo, eu aceitei e nunca mais voltei para minha família” comentou.
Natural do Maranhão, Antônio era contabilista e trabalhava em São Paulo, perdeu o emprego depois dos diversos atestados que colocou. “A firma me colocou para fora depois das faltas que ficavam cada vez mais frequentes, só tive a confirmação da doença quando retornei para casa da minha família, minha própria mãe tinha muito preconceito, meus irmãos nem falam mais comigo por conta disso”, revelou.
José falou ainda como os amigos se afastaram depois da doença, contou como foi à recepção no Lar da Esperança e ainda da felicidade de cruzar o caminho de Graça Cordeiro. Confira o depoimento do homem que superou a enfermidade, e aos 53 anos de idade, é exemplo de superação!
Para participar da caminhada e poder ajudar as instituições de caridade, basta adquirir o kit, que é composto de camisa, boné e sacolinha. Esse ano o conjunto está sendo comercializado no valor R$ 25,00 (vinte e cinco reais) na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no setor de bazar (localizada na Avenida Nossa Senhora de Fátima) e também nas demais paróquias da Arquidiocese de Teresina.
Ao longo desses anos, milhares de pessoas já foram ajudadas através dessa ação. Bem mais que uma ajuda, as doações da Caminhada da Fraternidade vem em forma de esperança para estas pessoas.
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