Em 24 horas, a chuva no Rio, que deixou dez mortos, chegou a 323 milímetros conforme o Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). Em abril de 2010, no temporal que deixou 230 mortos na tragédia do Morro do Bumba, o registro foi de 304,6 milímetros. Na maior tragédia por chuva no Rio, em janeiro de 1966, com 250 óbitos, o registro foi de 245 mm. E a chuva continuava à noite.
Só no Jardim Botânico, na zona sul, uma das áreas mais atingidos, a precipitação em 24 horas foi o dobro da prevista para todo o mês. Em relação aos bairros, os dados foram coletados pelo Alerta Rio, que existe há 22 anos. Às 18h55 de segunda-feira, a prefeitura já decretara estágio de alerta e às 20h55, pouco antes de Lucia e Júlia embarcarem no táxi de Tavares, o órgão reconhecera o estado de crise. “Falei com ela às 21h, por telefone, e depois mais nada”, contou o marido de Lúcia, Carlos Alberto Neves, que estava fora do Rio. “Fui acordado às 4h com a notícia de que elas não tinham chegado em casa.”
De acordo com o Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, na tragédia de 2010 em Niterói, o índice pluviométrico registrado na cidade vizinha foi de 304 mm em 24 horas. Na mesma ocasião, nos bairros do Jardim Botânico e de São Conrado, o volume de água foi, respectivamente, de 303 mm e 264 mm. Nesta terça, os valores registrados foram de 334 mm e 312 mm.
“Chuvas acima de 200 milímetros geralmente causam tragédias”, explicou o coordenador geral de operações de modelagem do Cemaden, o meteorologista Marcelo Seluchi. O climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), explicou que eventos extremos assim serão cada vez mais frequentes, por causa do aquecimento global. “O que era muito raro vai se tornando cada vez menos raro.”
Crivella diz que vai mudar protocolo de reação
Especialistas do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) confirmaram que a chuva foi atípica. Mas também apontaram a falta de preparo da cidade para enfrentar tempestades. Houve registro de bueiros entupidos de lixo, sistemas de drenagem de água obsoletos e demora das autoridades para emitir alertas e deslocar equipes de socorro. A CPI das Enchentes, da Câmara, anunciou que vai convocar o prefeito Marcelo Crivella (PRB) a dar explicações.
Ele admitiu nesta terça rever os protocolos para atendimento da população em caso de enchentes. E informou que será revisto o índice pluviométrico mínimo para o acionamento das sirenes de alerta em comunidades vulneráveis. Também prometeu mais agilidade na mobilização de equipes de socorro.
“Já era uma coisa que tínhamos visto anteriormente e infelizmente não fomos prudentes para fazer agora, mas o faremos da próxima vez”, afirmou, cerca de 12 horas depois do início da tempestade. “Teremos de ter reboques, equipamentos, pessoal da conservação, da guarda, da CET Rio, da Comlurb, esperando previamente nos locais.”
Crivella reconheceu que houve demora no atendimento à população. Mas também culpou o excesso de chuva, o horário da tempestade, a falta de investimento “histórica” na cidade. E reclamou de suposta falta de ajuda do governo federal. “Nossas parcerias com o governo federal, neste primeiro ano de Bolsonaro, praticamente pararam”, sustentou.
Segundo Crivella, apesar de ter ido a Brasília “várias vezes” este ano, ainda não foi assinado repasse de verba para cuidar da rede pluvial, despoluir rios e remover pessoas que vivem em áreas de risco. Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que, no “Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras de contenção de encostas, a Prefeitura do Rio de Janeiro já obteve a garantia de R$ 421 milhões em recursos federais para seis contratos assinados entre os anos de 2010 e 2014”. E destacou que há projetos em análise.
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