O detento José de Ribamar Pereira Lima e os pais do garoto de 13 anos, que foi encontrado na cela com um detento da penitenciária Major César Oliveira, prestaram depoimento, nesta terça-feira (03), ao delegado Jarbas Lima, da delegacia de Altos, que abriu inquérito para investigar o caso.
O menor também esteve na delegacia. Ele foi acompanhado de uma equipe multidisciplinar composta por psicóloga, conselho tutelar e assistente social.
- Foto: Marcelo Cardoso/GP1 Penitenciária Major César
O que disse o preso
Em depoimento, José de Ribamar negou que tenha estuprado a criança e explicou que conheceu o pai da criança, Gilmar Francisco Gomes, há cerca de dois anos, na própria Major César quando o mesmo foi cumprir pena após ser condenado por estupro e que começou uma amizade com Gilmar.
José contou também que desde então passou também a ter uma amizade com os familiares de Gilmar que iam lhe visitar, inclusive com o filho.
O preso relatou ainda que por saber das dificuldades financeiras de Gilmar sempre que podia o ajudava com alimentos ou dinheiro e que a esposa de Gilmar lhe prestava serviço de lavado de roupa e em contrapartida lhe dava dinheiro.
Segundo José de Ribamar, Gilmar, a esposa e os quatros filho chegaram à penitenciária, na manhã de sábado (30), almoçaram e foram embora por volta das 17 horas e que o menor pediu para ficar porque não precisaria voltar no outro dia dando trabalho ao pai.
Mesmo sabendo que era proibida a presença de pessoas após o horário de visitas, José de Ribamar disse que aceitou, mas que achou que o pai voltaria ainda no mesmo dia, o que não aconteceu.
Ainda de acordo com o detento, ele e o menino foram dormir e por volta de 1 hora da madrugada, os agentes penitenciários foram realizar vistoria, momento em que pediu para a criança se esconder embaixo da cama.
Os agentes então encontraram a criança e o questionaram sobre a presença do mesmo, tendo o detento relatado o mesmo que contou no depoimento.
O que disse a criança
Em seu depoimento, a criança divergiu com o preso em relação à decisão de ficar na penitenciária, já que segundo a criança, ela não queria ficar, mas que o pai insistiu para que ficasse com Ribamar, pois retornaria no outro dia.
O menor informou que acompanhava o pai quando o mesmo ia a penitenciária trabalhar plantando e colhendo feijão. Ele contou também que conheceu Ribamar nas visitas que fazia ao pai enquanto estava preso.
A criança relatou que o preso o tratava muito bem, inclusive dando calçados e alimentos para a família.
O menino disse que foi no sábado (30) à penitenciária, que almoçou e jantou por lá. Que enquanto o pai realizava o trabalho, ele e seus irmãos brincavam. Na hora de ir embora, o menor contou que o pai insistiu para que ele ficasse com Ribamar, mesmo ele não querendo. Ele disse também que assistiu TV, passou a noite e que nunca foi tocado pelo preso e que Ribamar não cometeu nenhum abuso contra ele.
A criança declarou que já havia dormido na penitenciária, mas em companhia da família, nunca sozinho.
O que disse o pai da criança
Gilmar Francisco Gomes, de 49 anos, confessou que deixou o próprio filho com José de Ribamar alegando que atendeu a um pedido da criança. Gilmar já cumpriu pena de cinco anos em regime fechado e mais dois anos em semiaberto pelo crime de estupro. José de Ribamar está preso pelo crime de estupro e cumpriu pena junto com o pai da criança.
Em depoimento, Gilmar revelou que foi com a esposa e mais os quatros filhos no sábado, 30 de setembro, para a penitenciária Major César, visitar o detento José Ribamar, a quem chamou de “compadre” e revelou que quando os dois cumpriram pena juntos por dois anos, acabaram ficando amigos.
Ele explicou que ficou no local de 9h30 às 16h30. Quando decidiram retornar para casa, disse que o seu filho de 12 anos pediu para ficar com o detento. Gilmar afirmou que permitiu que a criança ficasse com José Ribamar na penitenciária e que o pegaria no outro dia.
Questionado sobre a sua atitude, ele afirmou que confia no detento. Mesmo afirmando que cumpriu pena por dois anos com José de Ribamar, no depoimento Gilmar disse que não sabia que ele cumpria crime por estupro. Disse ainda que o detento ajudava a sua família com a doação de produtos alimentícios e costumava agradar os seus filhos comprando refrigerantes, bombons, biscoitos e outras coisas. Gilmar destacou que deixou o filho no local porque ele havia pedido, mesmo sabendo que é um local perigoso.
O que disse a mãe da criança
A mãe do menor, Sebastiana Rodrigues da Silva Gomes, disse em depoimento que ela, o marido e os quatro filhos foram à penitenciária no intuito de visitar o preso Ribamar e como é de costume a visita é feita onde ficam as hortas e que passaram o dia todo lá, tendo ela, inclusive, feito o almoço.
Segundo Sebastiana, no fim da tarde ela chamou o marido para irem embora e que o marido insistiu para que o filho ficasse com Ribamar, mesmo o menino não querendo.
Sebastião contou ainda que não sabia que Ribamar respondia por estupro, que sabia que ele tinha matado a esposa.
Ainda de acordo com Sebastião, o filho contou que estava assistindo TV quando os agentes penitenciários o flagraram e que, em nenhum momento Ribamar fez algo com ele.
Relembre o caso
Na tarde do último domingo (1º), uma criança de 13 anos foi encontrada dentro da Penitenciária Major César Oliveira, no município de Altos. O menor foi encontrado despido, debaixo da cama de um dos presos.
Segundo informações do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sinpoljuspi), a criança foi levada para o presídio pelos próprios pais. A suspeita é que, por não ter condições financeiras, a família da vítima teria aceitado dinheiro em troca do abuso sexual. O preso, identificado como José de Ribamar, que estava em poder do menor, já havia sido acusado pelo crime de estupro.
A criança juntamente com os pais foram encaminhados para a Central de Flagrantes de Teresina onde foi feito o exame de corpo de delito, que não constatou conjunção carnal.
O delegado Jarbas Lima decidiu abrir inquérito para investigar o caso e a Polícia Civil tem agora 30 dias para apurar todos os fatos e finalizar o inquérito.
- Foto: Lucas Dias/GP1Delegado Jarbas Lima
Segundo o delegado, dentre os crimes investigados estão abandono de incapaz, prostituição infantil e até mesmo estupro de vulnerável, pois mesmo o exame tendo dado negativo para estupro, somente com as investigações, é que o crime poderá ser descartado.
Segundo nota da Secretaria de Justiça, foi aberta uma sindicância para investigar o caso.
“A investigação, que deve ser concluída em, no máximo, 30 dias, tem como objetivo apurar em que circunstâncias em que a criança foi deixada na unidade, bem como apontar responsáveis pelo ocorrido”, diz trecho da nota.
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