O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, afirmou nesta quinta-feira, que o Exército brasileiro não tem recursos suficientes para garantir a soberania do País. E citou a defesa antiaérea como um dos pontos em que a capacidade do Exército tem de melhorar. Pujol descartou existir alguma ameaça real ao Brasil e afirmou que tem atuado para impedir que política partidária entre nos quartéis. Ele defendeu a criação de uma Guarda Nacional, que assumiria funções, como o combate aos crimes ambientais na Amazônia, que hoje são repassadas ao Exército, chamado por ele de "posto Ipiranga".
As declarações foram feitas durante evento do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa do qual participaram os ex-ministros da Defesa Raul Jungmann e do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen. “O general Etchegoyen me perguntou se haveria algum país em nosso continente que seria uma ameaça ao Brasil. Eu digo. Hoje não, mas não sabemos daqui 3 ou 4 anos. Por isso fazemos nosso planejamento estratégico.”
O evento aconteceu dois dias de o presidente Jair Bolsonaro dizer, ao abordar as relações entre o Brasil e a futura gestão de Joe Biden nos EUA, que quando “a saliva acaba tem de que ter pólvora”. Para Pujol como não existe ameaça imediata às nossas fronteiras, a sociedade e os políticos deixam a política nacional como uma prioridade mais baixa.
Ao ser indagado por Jungmann sobre o envolvimento das Forças Armadas com a política, Pujol afirmou: “O que eu tenho a dizer é que nesses dois anos o Ministério da Defesa e as três Forças se preocuparam exclusivamente e exaustivamente com assuntos militares.” E aproveitou para fazer um diagnóstico. “Precisamos aumentar muito a nossa capacidade operacional.” Para ele, as Forças Armadas – e o Exército – são proporcionalmente as menores do mundo em relação ao tamanho de nosso território e da população e em relação à importância geoestratégica e econômica do Brasil.
“Somos uma reserva de alimentos para as próximas décadas e de água e minerais estratégicos que serão necessários para a humanidade.” Ele comparou o total de caças como menor do que o de países pequenos da Europa. “Estamos muito aquém do que o Brasil precisa para que as Forças Armadas cumpram suas missões constitucionais”.
Pujol completou o raciocínio, defendendo o distanciamento do Exército da política partidária. “Nosso assunto é militar, preparo e emprego. As questões políticas? Não nos metemos em áreas que não nos dizem respeito. Não queremos fazer parte da política governamental ou do Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre em nossos quartéis.” Para o general, o fato de militares “serem chamados eventualmente para assumirem cargos no governo é decisão exclusiva da administração do Executivo".
Esta foi a primeira vez que Pujol se manifestou publicamente sobre a contaminação dos quartéis pela política, principalmente, pelo bolsonarismo.
O general também foi indagado sobre a “cobiça estrangeira” em relação à Amazônia. “O Brasil sempre se colocou e nós militares sempre pensamos que a Amazônia e nossa. Não podemos abrir mão. O que preservamos dela nesses 500 anos é incomparavelmente superior ao que aconteceu em outros continentes.”. Pujol afirmou que as Forças Armadas têm multiplicado a presença de militares das três Forças na Amazônia. “Buscando aumentar nossa capacidade de defender a soberania de nossa Amazônia”.
Planejamento estratégico
Pujol defendeu o planejamento estratégico do Exército e citou como exemplo de desafios novos o emprego de drones contra forças blindadas no recente conflito entre o Azerbaijão e a Armênia. “O combate convencional não foi abandonado por nenhuma nação do mundo, mas existem novas demandas, como a guerra cibernética, a guerra do futuro”, disse Pujol.
Ele defendeu 17 projetos estratégicos do Exército, como o programa Guarani de blindados e o sistema Astro 2020, com os foguete e míssil tático brasileiro de alcance de 300 quilômetros com “uma dispersão de oito metros em relação ao alvo”. “Temos de dotar o Exército de uma capacidade de defesa antiaérea, que está muito aquém de fazer frente a ameaças. Precisamos de um programa para desenvolver a estrutura de nossa defesa antiaérea.”
Ele afirmou considerar que o País devia ter um Exército maior. “Mas a curto e médio prazo não temos como fugir do orçamento (teto).” Pelos números de Pujol, o Ministério da Defesa viu seu orçamento encolher de 2012 de R$ 19 bilhões para cerca de R$ 10,1 bilhões em 2019. “No ano que vem o orçamento será de 11,7 bilhões, mesmo com problemas da pandemia.”
O comandante afirmou que a solução para o a falta de recursos passa pelo aumento do número de militares temporários, além do aumento do tempo de permanência de uma parte deles na Força, passando de oito anos para dez anos. “Só podemos aumentar com recursos extraorçamentários, uma EmgeDefesa (referencia à Emgepron, a empresa de projetos navais) , ou por meio da criação de um fundo para a Defesa, como a Argentina aprovou.
Guarda Nacional
Por fim, o comandante afirmou considerar existir um exagero de operações de Garantia da Lei e Ordem. “O problema começa lá pela previsão da Constituição. Nosso principal negócio é a defesa da pátria, mas o nosso emprego tem sido fundamental para cumprir outras missões e a necessidade da nação brasileira.” Pujol afirmou, como exemplo, não ver soluções para problemas como os incêndios na Amazônia que não envolva as Forças Armadas.
“Temos preocupação de que a Operação Verde Brasil se transforme em outra Operação Pipa, em que o Exército está sendo empregada de 'forma emergencial' desde 1998.” De acordo com Pujol, ele expôs essa preocupação ao ministro da defesa, general Fernando Azevedo e Silva, quando foi decidido que o Exército deveria participar da Operação verde Brasil 2. Segundo ele, a ideia do vice-presidente, Hamilton Mourão, é que o Brasil precisa de uma guarda florestal forte ou uma guarda nacional para cumprir essas missões. Mas enquanto não existir essa estrutura ou a Polícia Federal não tiver efetivo suficiente para cuidar de nossas fronteiras, “fatalmente seremos chamados”. “O ideal é que pudéssemos nos debruçar só com preparo e emprego da tropa.”
Atualmente, o Exército tem 28 mil homens na Operação Covid, 5 mil na Operação Verde Brasil 2, 3 mil na Operação Pipa. “E outros tantos na Operação Acolhida, em Roraima”, disse. “Mas não vejo solução no curto prazo em razão de nossa estrutura governamental e da extensão do Exército. Algumas coisas é só mesmo chamando o Posto Ipiranga”, afirmou Pujol. “Domingo vamos participar em mais de 600 municípios na garantia da votação e apuração das eleições.”
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