Em sua primeira manifestação pública após o ataque que matou o general iraniano Qassim Suleimani, responsável pelos assuntos iraquianos na Guarda Revolucionária do Irã, na quinta-feira, 2, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira, 3, que "o Irã nunca venceu uma guerra, mas nunca perdeu uma negociação". A frase, em referência às mortes de Soleimani e também do vice-presidente da milícia iraquiana majoritariamente xiita, Forças de Mobilização Popular (PMF, na sigla em inglês), Abu Mahdi al-Muhandis, foi postada no Twitter do presidente dos EUA.
Suleimani foi morto em um bombardeio no aeroporto de Bagdá, conforme anunciou ontem a televisão pública iraquiana. Um dos militares mais poderosos do grupo, ele era considerado terrorista pelos Estados Unidos e Israel. O general era o responsável das operações fora do Irã e esteve presente na Síria e no Iraque, supervisionando as milícias apoiadas por Teerã nos dois países árabes.
Iran never won a war, but never lost a negotiation!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 3, 2020
Trump escreveu ainda que "o general Qassem Suleimani matou ou feriu gravemente milhares de americanos durante um longo período de tempo e planejava matar muitos mais, mas foi pego!". O presidente dos EUA escreveu também que "ele (Suleimani) foi direta e indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas". "Embora o Irã nunca seja capaz de admitir adequadamente, Soleimani era odiado e temido no país. Eles (iranianos) não estão tão tristes quanto os líderes querem que o mundo acredite. Ele deveria ter sido retirado há muitos anos!", afirmou Trump.
Na manhã desta sexta, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, prometeu vingança. "Sua partida (de Suleimani) não acaba com a sua missão e uma forte vingança aguarda os criminosos que têm seu sangue e o sangue dos outros mártires em suas mãos", disse o líder supremo em comunicado. Ele também anunciou que o posto de Suleimani será ocupado pelo brigadeiro-general Esmail Ghaan e que a Guarda irá permanecer "inalterada". Até o momento, Ghaan era vice-comandante da força Al-Qods, responsável pelas operações estrangeiras do Irã.
Mais tarde, o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã disse, pelo Twitter, que o assassinato de Qassim Suleimani como "o maior erro estratégico" dos EUA no oeste da Ásia e alertou que Washington não se livraria das consequências desse "erro de cálculo".
Segundo o Pentágono, Soleimani estava desenvolvendo "planos para atacar diplomatas e membros do serviço americano no Iraque e em toda a região". O general era apontado como culpado pela "morte de centenas de americanos e membros do serviço de coalizão e pelos ferimentos de milhares".
"Os Estados Unidos seguirão tomando todas as medidas necessárias para proteger nosso povo e nossos interesses em qualquer parte do mundo", disse o comunicado do Pentágono, afirmando que o ataque de hoje tinha como objetivo "impedir futuros planos de ataques iranianos".
Um oficial da Casa Branca que não quis se identificar disse que o ataque teria sido realizado por meio de drones. Já a rede de televisão do Irã afirma que a ação foi feita por meio de helicópteros. O governo dos Estados Unidos ainda não deu detalhes oficiais de como o ataque foi realizado.
Segundo a imprensa americana, Trump autorizou a operação na manhã de ontem, que ocorreu em meio à escalada de tensão entre Washington e Bagdá, depois que apoiadores e membros da PMF invadiram a embaixada dos EUA no Iraque, no último dia de 2019.
Depois da ação, a embaixada do país em Bagdá pediu a todos os cidadãos americanos que estão no Iraque para que saiam imediatamente do país.
Mohsen Rezaei, um ex-comandante da Guarda Revolucionária do Irã, prometeu vingar o ataque. "O General Qassim Suleimani, nosso mártir, se juntou aos seus outros irmãos mártires. Mas nós ainda iremos ter uma vingança vigorosa contra a América". Atualmente, Rezaei ocupa o cargo de secretário em um importante órgão do país.
Em um vídeo publicado pelo secretário do Departamento de Estado Mike Pompeo em sua conta oficial no Twitter, é possível ver os soldados comemorando após a realização do ataque. No post, ele disse que eles estão "gratos que o general Suleimani não está mais aqui".
O bombardeio ocorre em meio a uma elevação na tensão entre Irã e EUA. No início da semana, a embaixada americana em Bagdá foi alvo de milícias iraquianas pró-Irã, que chegaram a invadir parte do complexo e colocar fogo na recepção. O grupo recuou na quarta-feira, diante das ameaças do presidente americano, Donald Trump, de atacar o Irã, depois de a multidão atear fogo e quebrar câmeras de vigilância. Durante a ação, eles gritavam 'Morte à América'.
Irã classifica bombardeio como 'ato terrorista'
Em declaração oficial, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, classificou o bombardeio como "um ato de terrorismo de Estado" e uma "violação à soberania" do país. "Talvez a ação dos Estados Unidos tenha sido uma reposta à dor que esse grande homem lhes infligiu", disse, em referência a um relatório feito anos atrás pelo FBI e que credita a Suleimani a morte de ao menos 600 soldados norte-americanos.
O presidente iraniano Hassan Rohani também condenou o ataque coordenado por Trump, afirmando que "o martírio de Suleimani deixará o Irã mais decisivo para resistir ao expansionismo americano e defender nossos valores islâmicos. Sem dúvida, o Irã e outros países que buscam a liberdade na região, se vingarão".
Escalada da tensão
Autoridades dos EUA afirmaram na sexta-feira passada que mais de 30 foguetes foram lançados contra uma base militar iraquiana perto de Kirkuk, ao norte do Iraque, matando um empreiteiro a serviço dos EUA e ferindo quatro americanos e dois soldados iraquianos.
Os EUA acusaram a milícia Kataib Hezbollah, financiada pelo Irã, de perpetrar o ataque. Um porta-voz da milícia negou envolvimento do grupo. Trump responsabilizou o Irã pelo ataque, e no Twitter disse que “o Irã matou um empreiteiro americano e feriu muitos”. Depois das primeiras ameaças, Trump afirmou que não queria guerra com Irã.
O Exército americano lançou ataques aéreos contra a milícia durante o fim de semana, matando 25 membros do grupo, no que o secretário de Estado Mike Pompeo qualificou como “uma resposta decisiva”. Ele disse que os EUA não iriam "tolerar que a República Islâmica do Irã perpetrasse ações que colocam homens e mulheres americanos em risco”.
EUA e Irã estão em rota de colisão há anos - por causa da influência iraniana no Iraque, o programa nuclear do país e outros assuntos - e as tensões se intensificaram durante o governo de Donald Trump, que se retirou do acordo nuclear firmado em 2015 e impôs sanções devastadoras contra Teerã.
Mas os ataques aéreos ocorrem num momento particularmente explosivo no Iraque, onde a ira contra a intromissão estrangeira já era intensa. O principal clérigo xiita do país, o Grande Aiatolá al-Husseini al-Sistani, advertiu que o Iraque não deve se tornar “um campo para acertos de contas internacionais”, e o primeiro ministro Adel Abdul-Mahdi qualificou os ataques aéreos de violação da soberania iraquiana.
Muitos dos manifestantes que invadiram a área da embaixada são membros do Kataib Hezbollah e outras milícias apoiadas pelo Irã. Embora o Irã tenha uma forte influência no Iraque, ele também tem sido alvo da ira popular e por vezes da violência por parte dos manifestantes iraquianos.
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