O empresário Valdinar Santos fez um desabafo em vídeo publicado nas redes sociais, nesse domingo (24), depois que seu pai faleceu no Hospital Getúlio Vargas (HGV) após sofrer Acidente Vascular Cerebral hemorrágico (AVC). Segundo Valdinar, o pai passou mais de um mês internado em uma ala para pacientes sem covid-19 e mesmo o teste para o novo coronavírus dando negativo, em seu atestado de óbito constou que ele havia morrido vítima da doença.
O empresário concedeu entrevista ao GP1 na manhã desta segunda-feira (25) e afirmou que o pai não morreu de covid-19 e foi enterrado "em um saco preto, embolado, parecendo um bicho", sem direito a um funeral digno.
O lavrador aposentado Valdemar Pessoa dos Santos, de 68 anos, morava no município de Barro Duro e passou mal no dia 22 de abril após ter uma forte dor de cabeça. Ele chegou a ir para um hospital do município, onde foi medicado e voltou para casa. No dia seguinte, 23 de abril, ele passou mal novamente, dessa vez sem conseguir se mexer direto, retornou para o hospital de Barro Duro e então foi encaminhado para o HUT, onde foi diagnosticado com um AVC hemorrágico e teve que passar por uma cirurgia no dia 27 de abril.
"Nunca mais acordou"
Valdinar Santos explicou que durante a cirurgia do seu pai, os médicos descobriram que ele tinha aneurisma e que por isso ele foi transferido para o HGV. “Dia 27 ele operou, entrou em coma induzido, e nunca mais ele acordou e falou. No dia 9 de maio me ligaram para fazer a transferência para o Getúlio Vargas porque disseram que ele faria um tratamento que só é feito lá. Do AVC foi descoberto um aneurisma, e esse procedimento só fazia lá”, explicou.
"Nunca falaram sobre covid"
Ao GP1 Valdinar disse que, assim como no HUT, seu pai ficou em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes sem covid-19 no HGV. “Na segunda-feira da semana passada visitamos o meu pai na UTI geral, onde ele foi transferido para a área não covid. Lá um médico disse que meu pai não estava mais grave, que estava estável, e que ele iria se recuperar aos poucos, mas que iria precisar fazer hemodiálise. Eu autorizei. Deu uma complicação nos rins e disseram que também deu uma complicação no pulmão, mas meu pai era fumante a vida toda, eu achei que era isso. Nunca falaram sobre covid. Já na quarta-feira [20 de maio] disseram que o estado do meu pai era grave. Quando foi na sexta-feira [22 de maio], eu e meu irmão voltamos no horário de visita e meu irmão já viu meu pai em uma maca, em estado grave, de fralda, sem nenhum aparelho no corpo com o pessoal trajado com roupa de covid-19 e levaram ele para outra área”, afirmou.
Levado para área de covid-19
Valdinar disse que o pai foi levado já para uma área onde tinham pessoas com covid-19, sem nenhuma proteção. “A médica veio, e eu não tenho como provar o que ela disse porque não tenho documento e não gravei, mas ela disse: seu pai fez um teste rápido e deu negativo, mas seu pai está com uma mancha no pulmão que pode indicar covid-19, então ele desceu para a área. Então estavam suspeitando, e mesmo assim jogaram ele lá no meio [da área de covid-19] sem equipamento nenhum. Nós descemos para a área da covid-19 e um enfermeiro disse que realmente existia a suspeita, que iria fazer o exame da contraprova e que o resultado sairia nesta terça”, disse.
Morte atestada por covid-19
Na madrugada de domingo (24), o idoso Valdemar Pessoas dos Santos, não resistiu e acabou falecendo. No atestado, assinado pela médica intensivista Renata Nara Vasconcelos Silveira, foram colocadas cinco razões para o falecimento, entre elas covid-19, apesar do primeiro teste ter dado negativo e o resultado da contraprova nunca ter saído.
Valdinar Santos não aceita o resultado do atestado de óbito, principalmente porque consta nele que seu pai estava há 15 dias com a doença, apesar dele ter ficado no HUT e HGV em uma ala para pacientes sem covid-19.
“Quando foi 3h da manhã, pediram para a gente correr lá e levar a documentação dele. Eu já sabia que ele estava morto. Eu já sabia que eles iriam botar covid-19. Quando chego lá, fiquei até 7h30 esperando a boa vontade da médica falar comigo. Quando eu entro na sala, ela já está preenchendo o óbito do papai e colocando covid-19. São cinco causas da morte e uma delas é de covid-19. Eu perguntei para ela porque ela colocou covid-19 e ela disse que era porque ele veio do HUT com covid-19, só que ele passou 16 dias no Getúlio Vargas em uma área não covid-19. Então isso é mentira, o meu pai não morreu por covid-19”, criticou.
- Foto: Hospital Getúlio VargasAtestado de óbito de Valdemar Pessoa dos Santos
Valdinar explicou que em mais de um mês internado, em nenhum momento afirmaram para ele e a sua família da possibilidade do pai estar com o novo coronavírus e os familiares do idoso que fizeram visitas não passaram por testes.
“Eles se contradizem, porque a médica botou que ele estava há 15 dias com a doença e que já tinha vindo do HUT com isso. Então eu questionei: porque não colocaram logo ele, assim que foi transferido, para uma área de covid-19? Ela disse que eles não sabiam. Além disso tem o risco dos outros pacientes, nós como filhos, tínhamos que visitar, mas tem as outras pessoas que ficaram em risco se isso for realmente verdade. Não fizeram nem testes em quem visitou o papai. Queria saber onde ele pegou a doença, porque ele não foi internado por isso e sim por causa de um AVC e eles não tomaram os cuidados necessários”, afirmou.
Enterro rápido e sem velório
Valdinar afirmou que a família tinha consciência que o estado de saúde do seu pai era grave, mas que ainda tinham esperança que ele poderia melhorar. Com a morte, a família esperava poder pelo menos se despedir, mas como a causa da morte foi atestada como covid-19 e devido as medidas sanitárias implantadas pelo governo estadual, os velórios e enterros devem ser realizados de forma rápida e com poucas pessoas.
“O que aconteceu é que eu tive que enterrar em Teresina, não permitiram em Barro Duro, então minha mãe não viu meu pai. Foi em questão de duas que ele foi enterrado, em um saco preto, embolado, parecendo um bicho, que para reconhecer ele, o cara teve que abrir o saco, porque etiqueta não tinha”, lamentou.
Valdinar disse que foi pego de surpresa com toda a situação. “É muito doloroso isso. Vamos ter que conviver com a dor de não poder fazer o velório, da minha mãe não poder participar. Isso foi doloroso, eu não desejo isso para ninguém. Ele estava doente, mas a gente ainda tinha esperança. Se tivessem dito bem antes que ele estava com covid-19, a gente teria se preparado bem mais para essa situação, mas não avisaram, e quando falaram sobre a morte, a gente já teve que fazer logo o enterro, a gente não teve como se despedir. Não é politicagem, meu pai foi colocado em uma estatística, pegaram meu pai que ficou 30 dias morrendo e botaram no atestado como covid-19”, desabafou o filho.
Outro lado
Em nota, o Hospital Getúlio Vargas informou que o idoso "veio do HUT juntamente com uma paciente que testou positivo, apesar da negatividade do teste no primeiro momento, o paciente continuou em observação. Evoluiu com piora respiratória, sendo realizado Tomografia de tórax que evidenciou extensa opacidade em vidro fosco, com comprometimento entre 50 a 70%. Por medidas de segurança do paciente e no contexto atual, por apresentar grande possibilidade de pneumonia viral, foi transferido para o isolamento respiratório".
Confira a nota na íntegra:
O Hospital Getúlio Vargas (HGV) informa que o paciente Valdemar Pessoa dos Santos, 68 anos, deu entrada no HGV no dia 9 de maio em estado grave, com Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico, proveniente do Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Nesse dia, foi feito o teste rápido para a Covid-19 no momento da admissão, o resultado foi negativo. Ficou na UTI 3 (destinada a pacientes Não Covid), para tratamento.
A direção do HGV informa que como o paciente veio do HUT juntamente com uma paciente que testou positivo, apesar da negatividade do teste no primeiro momento, o paciente continuou em observação. Evoluiu com piora respiratória, sendo realizado Tomografia de tórax que evidenciou extensa opacidade em vidro fosco, com comprometimento entre 50 a 70%.
Por medidas de segurança do paciente e no contexto atual, por apresentar grande possibilidade de pneumonia viral, foi transferido para o isolamento respiratório.
O paciente, pelo estado grave que já se encontrava, não evoluiu bem ao tratamento e foi a óbito na madrugada do dia 24 de maio.
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