O médico oncologista Nelson Teich causou boa impressão na conversa com o presidente Jair Bolsonaro e ministros no Palácio do Planalto, na manhã desta quinta-feira, 16, segundo interlocutores do presidente ouvidos pelo Estadão/Broadcast. Apesar disso, ainda não há definição sobre que assumirá o comando do Ministério da Saúde. Em videoconferência mais cedo, o ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou que a troca no ministério deve ocorrer entre esta quinta, 16, e sexta-feira, 17.
Até o momento, o nome de Teich é visto por alguns integrantes do governo como o que mais se encaixa no perfil desejado pelo governo, embora o oncologista já tenha defendido o isolamento horizontal, ou seja, para a toda a população. Bolsonaro, por sua vez, quer que o distanciamento seja direcionado para idosos e pessoas com doenças, que se encaixam no grupo de risco do novo coronavírus.
De acordo com um aliado do presidente, Teich “agradou a turma” do Planalto. Um segundo assessor com acesso a Bolsonaro reforçou que o médico foi bem avaliado por todos os integrantes da reunião. Participaram o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o Secretário de Assuntos Estratégicos (SAE), Almirante Flávio Rocha. Outros nomes cotados para o cargo de ministro ainda devem ser “entrevistados”.
Bolsonaro quer um ministro que se alinhe ao seu discurso contra o isolamento social e que defenda flexibilizar medidas de isolamento social, como reabertura de escolas e comércio, para reduzir os impactos da pandemia na economia. As orientações atuais da pasta têm sido por incentivar restrições, seguindo o que dizem especialistas e autoridades sanitárias em todo o mundo.
Também é considerado fundamental que o novo ministro não se oponha ao uso ampliado da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. Na lista do presidente, ele quer um novo chefe da Saúde que também se posicione contra o aborto.
Em artigo publicado no dia 3 de abril em sua página no LinkedIn, Teich critica a discussão polarizada entre a saúde e a economia. “Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégias complementares e sinérgicas como se fossem antagônicas. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas, entre o bem e o mal”, afirma ele no texto.
Diferentemente de Bolsonaro, o oncologista defende o chamado isolamento horizontal – em que todos devem evitar sair de casa – como melhor forma para se evitar a propagação do coronavírus no País. “Além do impacto no cuidado dos pacientes, o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país”, diz. Bolsonaro é favorável ao isolamento parcial, apenas para grupos de riscos, como idosos e pessoas com doenças crônicas. O tema é um dos principais focos de embate entre o presidente e Mandetta.
Nelson Teich atuou como consultor informal da área de saúde na campanha eleitoral de Bolsonaro. A aproximação, na época, ocorreu por meio do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Na transição do governo, no final de 2019, Teich foi cotado para comandar a Saúde, mas perdeu a vaga para Mandetta, que havia colega de Bolsonaro na Câmara de Deputados e tinha o apoio do governador Ronaldo Caiado (DEM-GO), agora seu ex-aliado, e do atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
O oncologista tem o apoio da Associação Médica Brasileira (AMB), que referendou a indicação ao presidente. Consultor da campanha de Bolsonaro a presidente na área de Saúde, ele tem boa relação com empresário do setor de saúde.
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