Dois dias depois de voltar dos EUA, o presidente Jair Bolsonaro iniciou nesta quinta-feira uma viagem ao Chile, onde participa de uma cúpula sul-americana com o objetivo de “enterrar” a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), criada pelos governos de esquerda na região, e lançar as bases para um novo bloco regional, o Prosul (Foro para o Progresso e Desenvolvimento da América Latina), com perfil de centro-direita.
No Chile, Bolsonaro enfrenta um ambiente polarizado. De um lado, o aliado Sebastián Piñera, presidente do Chile. Do de outro, manifestantes e parlamentares descontentes com a presença do brasileiro no país.
Assim que chegou, Bolsonaro criou a primeira polêmica. Questionado sobre declarações de integrantes do governo sobre o ditador chileno Augusto Pinochet, o presidente defendeu a revisão histórica dos regimes militares no continente, que chamou de “dita ditadura”.
“Tem muita gente que gosta dele (Pinochet), outros que não gostam, mas eu falo sobre o regime militar que foi muito parecido com o do Brasil”, disse Bolsonaro. “Minha campanha foi em cima de um versículo bíblico: ‘Conheceis a verdade e a verdade vos libertará’. E essa questão da dita ditadura aqui do Cone Sul tem que ser lavada à luz da verdade. Chegamos a uma conclusão e pacificamos, não podemos dar voz à esquerda.”
Nesta sexta-feira, Bolsonaro participa de uma cúpula com os presidentes de Colômbia, Argentina, Equador, Peru e Paraguai. O autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, enviou como representante sua mulher, Fabiana Rosales. O objetivo é acabar com a Unasul, praticamente paralisada desde o início da derrocada da esquerda na região, e lançar o Prosul, organização que teria uma estrutura mais enxuta e viés de centro-direita.
O foco da nova entidade, idealizada por Piñera, ainda não é claro. Bolsonaro falou em promover “democracia, liberdade e prosperidade”. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, usou as palavras “novo Mercosul, mas com características diferentes”. “Inicialmente, a ideia não é essa, mas acaba indo para isso. Vai acabar surgindo o assunto. É muito difícil reunir chefes de Estado e não falar sobre economia”, disse o ministro. Já sobre o destino da Unasul, Bolsonaro não deixou dúvida. “A Unasul morreu. Só faltou enterrar.”
Organizações de centro e de esquerda ameaçam com manifestações hoje e amanhã na região do Palácio La Moneda, sede do governo chileno, onde vai ocorrer o encontro. Ao longo da semana parlamentares de oposição recusaram convites para participar do almoço com Bolsonaro, no sábado.
O senador Jaime Quintana (PPD) foi o primeiro a rejeitar, alegando “convicção política”. Um grupo de deputados foi além e pediu que Bolsonaro seja declarado “persona non grata” por suas declarações contra minorias.
Para o chileno Patricio Navia, professor da Universidade de Nova York, a aproximação com Bolsonaro pode ser tóxica. “Às vezes, é melhor andar sozinho do que mal acompanhado. O governo Bolsonaro improvisa muito, não é sistemático, não tem um norte. Ele parece estar mais preocupado em fazer grandes declarações do que construir alianças duradouras”, disse. Para ele, o Prosul é uma má ideia criada para substituir outra má ideia. “Já existem muitas iniciativas de integração regional e nenhuma delas funciona bem. Seria melhor fazer as que já existem funcionarem.”
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