Lucas dos Santos, de 18 anos, que está preso sob a acusação de ter participado do assassinato do pai, o pastor Anderson do Carmo, teve sérios desentendimentos com ele no passado por conta do roubo de relógios da família. A revelação foi feita pela deputada Flordelis dos Santos Souza, em entrevista exclusiva à revista Veja, divulgada na manhã desta sexta-feira, 28.
"Eles tinham problemas por causa dos erros do Lucas", contou Flordelis às repórteres Mônica Weinberg e Jana Sampaio, quando elas perguntaram qual seria a razão para o filho querer matar o pai. "Aos 14 anos, meu filho roubou uns relógios que o irmão colecionava, pôs para vender e nós descobrimos. Como a situação era grave, meu marido bateu nele como corretivo. Hoje está no tráfico."
- Foto: Claudia Martini/Futura Press/Estadão ConteúdoDeputada Flordelis
A deputada contou ainda que estranhou a presença do filho na casa na madrugada do último dia 16, quando o marido foi assassinado com diversos tiros na garagem de casa. "Ele não morava com a gente desde o ano passado", disse a deputada. "Aí aparece nas câmeras da rua com duas mochilas, por volta das três da manhã. Entra e sai de casa em minutos, de mãos vazias. O Lucas não tinha o hábito de aparecer sem avisar."
Flordelis confirmou às repórteres que a polícia já localizou as mochilas que Lucas carregava na madrugada do crime, mas não quis revelar o que havia dentro delas. Na mesma entrevista, a deputada se mostra mais cética em relação à participação de seu filho biológico (fruto de um relacionamento anterior) no crime.
Flávio dos Santos, de 38 anos, que também está preso, confessou ter atirado seis vezes contra o padrasto, segundo a polícia e o Ministério Público. O advogado de Flávio, no entanto, contesta a legitimidade da confissão porque ela teria sido feita sem a presença de um representante legal.
"A história não bate", afirmou Flordelis. "Ele foi um dos primeiros a chegar ao meu quarto depois dos tiros. Saiu atrás da polícia, mas não encontrou a patrulhinha. Já preso, me deixaram falar com ele rapidamente no telefone. Chorava, chorava, e só disse: 'Quero que as pessoas te deixem em paz, mãe'."
Ela disse ainda que desconhece qualquer razão para que Flávio quisesse matar o padrasto. "Essa história de que o Anderson cuidava do nosso patrimônio com mãos de ferro não faz nenhum sentido. Aliás, ele administrava o dinheiro com a ajuda de três filhos."
Uma outra linha de investigação, segundo a qual Anderson teria cometido abuso sexual contra duas filhas menores do casal, também foi refutada categoricamente pela deputada.
"Chegou a mim extraoficialmente outra tese levantada pela polícia, a de que Anderson mexeu com duas de nossas filhas, molestou as meninas", contou. "Pensei por um instante: 'Será que fui casada com um homem que não conhecia?' Mas, mesmo que ele fosse um monstro, mereceria a prisão, e nunca a morte. Depois conversei com as minhas filhas, que negaram com muita firmeza terem sido abusadas."
Por fim, a deputada voltou a dizer que não tem razões para acreditar que o marido estivesse tendo um caso extraconjugal e negou veementemente ter sido a mandante do crime. "Para os que acham que eu matei meu marido, peço que me deem um motivo para fazer isso", disse. "Eu não ganhei nada com a morte dele, só perdi."
Depoimentos
Oito filhos de Flordelis e Anderson do Carmo vão prestar depoimento à polícia na tarde desta sexta-feira. As intimações foram entregues na tarde de ontem, quando os agentes estiveram na casa da deputada. O casal tinha 55 filhos -- 45 deles vivendo sob o mesmo teto.
A polícia tentou levar o carro que o pastor dirigiu na madrugada do crime, um honda preto, que segue na garagem da casa. O carro apresenta perfurações de bala e seria submetido à perícia. Flordelis, no entanto, não permitiu. O advogado da deputada, Fabiano Migueis, explicou por que aconselhou sua cliente a fazer isso.
"Eles queriam levar o Honda sem nenhum mandado de busca e apreensão; não permitimos essa irregularidade. A deputada está colaborando, mas dentro da legalidade", disse Migueis. "Na primeira busca e apreensão não apresentaram mandado. Na apreensão dos telefones celulares, por exemplo, não foi deixado auto de apreensão com a família, para saber o que foi levado. E ontem, mais uma vez, chegaram lá sem mandado querendo levar o carro."
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