Para entender a posição da França em relação às queimadas na Amazônia é preciso retroceder ao dia 28 de junho. Nessa data, Mercosul e União Europeia assinaram um acordo histórico de livre comércio – e que vinha sendo desenhado há 20 anos. Em linhas gerais, o tratado permite a entrada de produtos agrícolas brasileiros no mercado europeu e, consequentemente, no francês.
A expectativa é de que esses produtos irão chegar mais baratos à Europa e, consequentemente, abalar os agricultores locais. Isso porque, embora seja uma potência agrícola, o modelo francês é baseado em pequenas propriedades (e muitas delas familiares) – e a consequência desse modelo é que o produtor francês não teria escala de produção para competir com o produto brasileiro.
Assim, desde o início, a assinatura do tratado de livre comércio criou um problema doméstico para o presidente francês, Emmanuel Macron. Além dos agricultores, o ascendente partido verde da França também se opôs ao acordo de forma bastante enfática. Os “verdes franceses” acusam o Brasil de não cumprir as mesmas regras e exigências ambientais impostas a produtores da Europa – o que resultaria em vantagem comercial e preços mais baixos. Se o carimbo “prejudicial ao meio ambiente” colar nos produtos nacionais, as vantagens competitivas de produção e preço tendem a derreter.
A grita dos “verdes” tem sido bastante amplificada nos últimos anos. É o grupo político que mais tem crescido no continente europeu ( fazendo contraponto entre a esquerda e a extrema direita). Nas últimas eleições francesas, os verdes se transformaram na terceira maior força. Outros países europeus, como a Alemanha, também assistem ao crescimento dos partidos ligados às questões ambientais.
A França tem eleições municipais no ano que vem. Macron está precisando correr para se consolidar entre os “verdes” e os agricultores – dois grupos de pressão com muita força política.
Neste contexto, as queimadas e o comportamento do governo brasileiro ofereceram a “brecha” que Macron precisava para atender a uma demanda de política interna por mais protecionismo. Não que o presidente francês esteja alheio às questões éticas de defesa da floresta, mas o xadrez político local também tem peso na definição da velocidade e do tom em que ele tem se movimentado. Ao oferecer ajuda financeira ao governo brasileiro, via G-7, Macron pressiona ainda mais o governo brasileiro e, ao mesmo tempo, acena para o seu público doméstico.
Ao ser acusado de intervencionista, imperialista e outros que tais, Macron se defende com a geografia: a França, por meio da Guiana francesa, também faz fronteira com a Amazônia.
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