Com a saída do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, do governo, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, abriu em queda nesta sexta, às 12h22, se encontrava em recuo de 9,58%, aos 72 mil pontos, menor valor do dia, mas, por volta das 13h09, caía em menor intensidade, cerca de 6%.
Nesta sexta, a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, foi oficializada via decreto publicado no Diário Oficial da União (DOU) e assinado pelo presidente Jair Bolsonaro. Moro afirmou, em coletiva, nesta sexta, que não assinou o decreto. Na quinta-feira, 23, ao ser comunicado por Bolsonaro sobre a decisão, Moro já havia ameaçado deixar o governo, alegando que não poderia aceitar mudanças na chefia da instituição. A decisão de Bolsonaro ocorre uma semana depois da demissão de Luis Henrique Mandetta como ministro da Saúde.
Situação do Ibovespa
Os investidores intensificaram a venda de ativos brasileiros em meio ao aumento do risco político pela repercussão negativa do pedido de demissão do ex-juiz Sérgio Moro. Nos preços, o Ibovespa ameaçou acionar circuit breaker, quando as negociações são interrompidas por um determinado tempo, afetado por fortes perdas das estatais, enquanto o dólar tem alta de mais de 3%, pouco abaixo da máxima do dia, perto de R$ 5,72 (R$ 5,7197).
Além das ações da Petrobrás, companhia brasileira que tem forte peso no Ibovespa, outras blue chips, ações de empresas de grande porte, foram fortemente afetadas pelo discurso do agora ex-ministro ministro da Justiça. Há pouco, Vale ON tinha queda de 2,21%. No caso da mineradora, operadores apontam que a alta do dólar ajuda a empresa, que tem receitas dolarizadas. Entre os bancos, Itaú Unibanco PN tem baixa de 6,53%, enquanto que Bradesco ON cai 11,01%, e os papéis PN recuam 9,20%. Banco do Brasil ON, estatal, tem a maior baixa do setor, de 13,19%. Santander Brasil Unit cai 7,99%.
O EWZ, principal fundo de índice (ETF) do Brasil em Nova York, chegou a despencar 10%, e o risco País medido pelo CDS de 5 anos subiu quase 12%. Em coletiva de imprensa, na qual externou publicamente a decisão de deixar o governo, Moro - expoente da Operação Lava Jato - não só foi contundente nas críticas à tentativa de ingerência política do presidente Jair Bolsonaro como fez acusações. Segundo ele, a demissão de Valeixo foi uma sinalização de que Bolsonaro queria o ministro da Justiça fora do governo. "Não é tanto a questão de quem, mas por quê", questionou Moro em relação à exoneração do diretor da PF. O presidente, ainda de acordo com ele, citou "preocupação com inquéritos e que troca da PF seria oportuna por isso". "Falei ao presidente que seria interferência política (na PF) e ele falou que seria mesmo", afirmou Moro. Ainda, esse novo episódio da crise que envolve o governo antecipa a disputa à Presidência em 2022.
Na Economia, Paulo Guedes também está sob os holofotes. Ruídos em torno do nome dele cresceram após cancelar participação em videoconferência, do Itaú, nesta manhã. O mercado esperava comentários do ministro após a tensão gerada com o lançamento de um plano de recuperação do impacto econômico do coronavírus - o Pró-Brasil - pela Casa Civil, sem a participação da equipe econômica. Nesta tarde, Guedes participa de duas reuniões com o ministro-chefe da pasta, Braga Netto. O Banco Central atua desde o início do dia para tentar reduzir a volatilidade e segurar o avanço do dólar, via leilões de swap cambial para rolagem e de linha (venda de dólares com compromisso de recompra), além da venda à vista de moeda.
Mas o nervosismo continua, em meio ao temor dos desdobramentos do episódio "Moro" da crise política. Em relação à política monetária, analistas já comentam que a instabilidade política pode segurar a mão do BC no ciclo de afrouxamento. Em meio a isso, no exterior, a aprovação de um novo pacote fiscal nos Estados Unidos foi bem recebida, porém, as bolsas operaram sob efeito de volatilidade gerada pela Boeing e divulgações da temporada de balanços americana. Pesam notícias de fracasso em estudos para o tratamento da covid-19.
Dólar
O dólar iniciou as negociações desta sexta, em alta de quase 1%, e, às 11h15, atingiu R$ 5,71, mais novo recorde nominal da moeda americana, quando não se desconta a inflação.
O câmbio se mantém próximo do patamar de R$ 5,70. Somente em 2020, em meio a todo o caos econômico provocado pela pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19, e, em alguns momentos, por fatores de instabilidade política no País, a moeda americana já se valorizou quase 40%. Para se ter uma ideia, no início de janeiro, o câmbio estava próximo de R$ 4. No começo da semana, a cotação estava em R$ 5,28.
Além do dólar, o euro, moeda oficial da União Europeia, também tem crescimento expressivo neste ano. São, desde janeiro, mais de 30% de apreciação frente ao real. No primeiro dia do ano, o valor da moeda do velho continente estava em R$ 4,50. Às 8h49 desta sexta, atingiu seu mais novo recorde nominal, ultrapassando, pela primeira vez, a marca de R$ 6, chegando a R$ 6,16.
Mercados internacionais
Em meio às incertezas em relação ao novo coronavírus, causador da covid-19, principalmente sobre a possibilidade de surgimento de um novo medicamento que seja capaz de tratar a doença de forma eficiente, os mercados internacionais operam em queda generalizada nesta sexta-feira, 24. Esse movimento reverte a posição de ganhos dos últimos dois dias. Na Ásia, os mercados fecharam em queda, e, na Europa, os índices abriram as negociações do dia em baixa.
Há relatos iniciais de que estudos da empresa americana Gilead Sciences com o antiviral remdesivir para tratar o coronavírus fracassaram. Há alguns dias, os mercados tiveram uma alta generalizada por conta da possibilidade de um remédio conseguir combater, segundo relatos iniciais, de maneira efetiva a pandemia. Com essa possibilidade, agora, anulada, ao menos por enquanto, os índices refletem novamente as incertezas do mercado.
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