Autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) alertaram mais uma vez nesta terça-feira, 23, sobre os riscos de uma tragédia nuclear na usina de Zaporizhzhia, na Ucrânia, ocupada pela Rússia desde o início da guerra. Em reunião, a entidade pediu a retirada imediata das tropas da usina e a desmilitarização da área.
Os combates perto da usina nuclear, a maior da Europa, provocaram alarme nos últimos dias em meio a temores de que o uso do local como palco de guerra cause um acidente nuclear catastrófico.
Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente por ataques de artilharia e bombardeios dentro e ao redor de Zaporizhzhia. Em incidentes recentes, bombas caíram perto dos reatores e aumentaram o temor. Os militares russos assumiram o controle do local em março, mas técnicos ucranianos ainda operam as instalações.
Em uma reunião de de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a deterioração da situação em torno da usina, Rosemary DiCarlo, chefe de assuntos políticos e de construção da paz da ONU, instou as duas nações em guerra a fornecer acesso seguro e imediato aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
“É urgente restabelecer Zaporizhzhia como infraestrutura puramente civil e garantir a segurança da área”, disse DiCarlo ao Conselho na reunião, convocada a pedido da Rússia.
“Devemos deixar claro que qualquer dano potencial a Zaporizhzhia, ou qualquer outra instalação nuclear na Ucrânia, levando a um possível incidente nuclear teria consequências catastróficas, não apenas para as proximidades, mas para a região e além”, acrescentou. “Parafraseando o aviso contundente do secretário-geral da ONU, qualquer dano potencial a Zaporizhzhia é suicida.”
Segundo o embaixador russo, Vassili Nebenzia, uma série de ataques de artilharia e drones foram realizadas contra a usina recentemente. Ele acusa as forças ucranianas de serem responsáveis e acrescentou que alguns ataques foram feitos com armas americanas. A Ucrânia chamou as acusações de “ridículas”.
Durante a reunião, o chanceler exibiu uma foto que mostra a destruição da fábrica. De acordo com ele, diplomatas ocidentais estavam em uma “realidade paralela” ao acusar a Rússia de atacar uma usina nuclear que seus próprios militares estavam protegendo.
Nebenzia também acrescentou que a Rússia apoiaria uma inspeção da AIEA na usina nuclear e que espera que a missão ocorra em um futuro próximo para que “os especialistas possam confirmar a situação real”.
Acusações dos EUA
O embaixador dos EUA na ONU, Richard Mills, culpou a Rússia por levar a Europa à “beira do desastre nuclear”. “A Rússia criou esse risco e apenas a Rússia pode difundi-lo”, disse ele, pedindo a Moscou que atendesse ao apelo do secretário-geral para criar uma zona desmilitarizada ao redor da fábrica. “Por que diabos uma instalação nuclear está sendo usada como palco para a guerra?”, acrescentou.
Horas antes da reunião da ONU começar, a inteligência militar ucraniana disse que a Rússia tem bombardeado poços de perto das instalações de Zaporizhzhia, levantando nuvens de poeira tóxica e fazendo com que os níveis de radiação na área subam. Entretanto, não ofereceu detalhes sobre o quanto os níveis haviam aumentado, ou se a poeira apresentava uma ameaça à saúde.
Como as agências de inteligência dos EUA alertam que a Rússia pode redobrar os ataques para coincidir com o aniversário de seis meses de sua invasão nesta quarta-feira, 24, que também é o Dia da Independência da Ucrânia, a luta em torno da usina nuclear se aproxima como um dos maiores riscos no conflito prolongado. As hostilidades no sul ucraniano se intensificam à medida que a Rússia pretende fortalecer suas posições defensivas em terras dominadas, e a Ucrânia tenta reunir uma contraofensiva.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse que a situação em torno das instalações de Zaporizhzhia é “crítica” e alertou para um acidente nuclear catastrófico se a usina e a área ao seu redor não forem desmilitarizadas. A AIEA solicita acesso seguro ao local para seus inspetores desde pelo menos junho.
Nesta terça-feira, a agência emitiu uma declaração catalogando alguns dos danos que a Ucrânia relatou à agência nos últimos dias e disse que o país demonstrou a necessidade urgente de os inspetores visitarem. O diretor-geral do órgão, Rafael Mariano Grossi, disse que a visita pode ocorrer “nos próximos dias” se as negociações com a Rússia e a Ucrânia sobre o acesso forem bem sucedidas.
Em seu discurso noturno, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, acusou a Rússia de “brincar” com organismos internacionais e atacou o país por ter “a audácia de convocar o Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir suas próprias provocações”.
Ajuda militar à Ucrânia
À medida que a guerra da Rússia contra a Ucrânia se arrasta, os Estados Unidos anunciarão nesta quarta-feira, 23, uma nova ajuda militar de 3 bilhões de dólares à Ucrânia, o maior valor desde que a Rússia invadiu o país em fevereiro, segundo disse um funcionário americano nesta terça-feira, 23.
O dinheiro chegará por meio da Iniciativa de Assistência em Segurança para a Ucrânia do Pentágono, e pode ser usado para cobrir custos imediatos da guerra, incluindo a compra de suprimentos e armas. Trata-se de um fundo separado do financiamento da Autoridade Presidencial (PDA), sob o qual o presidente Joe Biden pôde ordenar transferências imediatas de armas e munição às forças ucranianas desde as reservas militares americanas atuais.
Além disso, ao contrário da maioria dos pacotes anteriores, o novo financiamento visa em grande parte ajudar a Ucrânia a garantir a defesa de médio a longo prazo, de acordo com as autoridades familiarizadas com o assunto.
Os carregamentos anteriores, a maioria deles feitos sob a Autoridade Presidencial de Retirada, concentraram-se nas necessidades mais imediatas da Ucrânia de armas e munições e envolveram o material que o Pentágono já tem em estoque que pode ser enviado em curto prazo.
O novo financiamento ainda precisa ser aprovado pelo parlamento, e parte dela só será entregue no próximo ano.
Até o momento, os EUA forneceram cerca de US$ 10,6 bilhões em ajuda militar à Ucrânia desde o início do governo Biden, incluindo 19 pacotes de armas retirados diretamente das ações do Departamento de Defesa desde agosto de 2021.
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