Em uma reunião diplomática sem precedentes, os ministros das Relações Exteriores de Israel, Estados Unidos e quatro governos árabes dialogaram nesta segunda-feira, 28, no deserto de Negev, sul de Israel. Nenhum encontro anterior da história reuniu tantos líderes árabes em solo israelense.
A cúpula marca um grande realinhamento das alianças do Oriente Médio. Os líderes se comprometeram a ampliar a cooperação econômica diplomática entre si e discutiram assuntos em comum. Estiveram presentes o chanceler israelense, Yair Lapid, os chanceleres do Bahrein, Egito, Marrocos e Emirados Árabes Unidos, e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
Dentre os temas tratados, estão as ameaças de segurança pelo acordo nuclear do Irã; a diminuição da presença dos Estados Unidos na região; e um compromisso sobre a criação de um estado da Palestina. Embora os Estados Unidos tenham ajudado Israel a intermediar os acordos de paz com Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos, em 2020, a cúpula foi uma indicação de que Israel agora pode agir como um canal público entre Washington e alguns países árabes. “Alguns anos atrás, esse encontro seria impossível de imaginar”, disse Blinken.
Segundo o ministro das Relações Exteriores de Israel e anfitrião da reunião, Yair Lapid, a cúpula “intimida e dissuade” o Irã, que ameaça produzir armamento nuclear. O país discute novamente com os Estados Unidos um acordo que o impeça de fabricar armas nucleares, em troca do fim de sanções econômicas. “Essa nova configuração, as capacidades compartilhadas que estamos construindo, intimidam e dissuadem os nossos inimigos comuns, principalmente o Irã”, disse Lapid.
A reunião deu aos representantes do Oriente Médio a oportunidade de expressar ao secretário de Estado americano preocupações sobre os aspectos do acordo com o Irã - que eles consideram brandos. Israel vê com maus olhos um possível acordo com o país persa, seu inimigo número um, porque teme que o Irã aproveite a situação para fabricar armamento nuclear. Emirados Árabes Unidos e Bahrein compartilham a mesma preocupação sobre as atividades iranianas na região.
Palestina
Os participantes também discutiram o conflito israelo-palestino, com os líderes árabes pressionando sobre a necessidade de criar um Estado palestino soberano. “Nossa mensagem deve ser que estamos aqui para defender nossos valores, defender nossos interesses”, disse o ministro das Relações Exteriores do Marrocos, Nasser Bourita, que disse que a criação de um futuro Estado palestino ainda é “possível”.
Apesar disso, não houve referência na preparação para a cúpula a qualquer tipo de renovação das negociações de paz entre Israel e Palestina, paralisadas desde 2014. Analistas veem isso como um sinal de como o conflito com a Palestina não tem mais a mesma gravidade para os participantes árabes como antes.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, criticou a cúpula como um “ataque severo aos palestinos”. Abbas e outros líderes palestinos há muito se opõem aos acordos de normalização entre os Estados árabes e Israel como forma de relegar o conflito israelo-palestino ao segundo plano.
O governo Trump, que negociou os acordos de normalização árabe-israelenses em 2020, ignorou amplamente o conflito israelo-palestino, algo que Blinken disse que não faria. “Temos que deixar claro que esses acordos de paz regionais não substituem o progresso entre palestinos e israelenses”, disse ele.
Outros temas em discussão
Outras discussões abordaram a segurança alimentar, uma preocupação agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia porque ambos os países são grandes fornecedores de grãos para o Egito e outras partes do Oriente Médio, bem como para o resto do mundo, disseram autoridades israelenses.
No encontro, Blinken também pediu que os países árabes tenham uma resposta mais dura contra a Rússia no conflito com a Ucrânia e se somem aos esforços para isolar o país liderado por Vladimir Putin. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, até agora evitaram as exigências dos EUA de aumentar sua produção de petróleo para ajudar os aliados americanos a encontrar alternativas ao gás russo.
Já os Emirados Árabes e o Bahrein encorajaram os Estados Unidos a desempenhar um papel mais ativo na região – uma demanda que eles consideram particularmente urgente após recentes ataques à infraestrutura dos Emirados e da Arábia Saudita por uma milícia apoiada pelo Irã no Iêmen. A cobrança é reflexo do abalo de uma relação de confiança construída por décadas entre os EUA e os países árabes, que confiavam ao país norte-americano a segurança da região.
Tal relação diminuiu com as ações americanas na região nos últimos anos, desde a retirada caótica de tropas do Afeganistão até o esforço para renovar o acordo para limitar o programa nuclear do Irã, que muitos países do Oriente Médio temem que dê poder a Teerã.
Assassinatos em Israel durante o evento
Dois árabes armados mataram pelo menos duas pessoas e feriram várias outras em um ataque no norte de Israel na noite deste domingo, 27, na véspera da cúpula entre os israelenses e os diplomatas árabes. O ataque aumentou as preocupações sobre o retorno do conflito entre Israel e Palestina. Este é o quarto ato de terrorismo no país em menos de duas semanas.
O Hamas elogiou o ataque e o vinculou ao encontro de países árabes no deserto. Autoridades de segurança israelenses descreveram os agressores como cidadãos palestinos de Israel e simpatizantes do Estado Islâmico.
Yair Lapid disse que atos de terror não vão intimidar Israel ou obstruir o progresso da reunião. “Eles não vão conseguir. Não vamos deixá-los”, disse. Nasser Bourita, do Marrocos, concordou dizendo que “nossa presença hoje é a melhor resposta a esses ataques”.
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