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Líder norte-coreano testa mísseis para obter atenção

O lídeter Kim Jong-un precisa que Estados Unidos abram diálogo sobre concessões econômicas.

A Coreia do Norte começou este ano com uma série recorde de lançamentos de mísseis: foram sete testes em questão de semanas – no último, em 30 de janeiro, foi lançado um Hwasong-12, um míssil balístico com capacidade de atingir alvos a até 6 mil quilômetros de distância, o que incluiria o território americano de Guam, no Oceano Pacífico.

Mas a Coreia do Norte não chegou a dar um passo realmente provocativo: encerrar a suspensão autoimposta de testes de mísseis balísticos nucleares e intercontinentais (ICBMs). Alguns especialistas dizem que o próximo passo pode ser apenas uma questão de tempo.


Kim Jong-un, líder norte-coreano, já ameaçou encerrar a moratória, dizendo em uma reunião do partido, em janeiro, que considera “reiniciar todas as atividades temporariamente suspensas” e mudar para “meios físicos mais poderosos” para dissuadir os EUA.

Kim passou vários meses revelando novas tecnologias de armas. E uma equipe de analistas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, disse ter localizado uma nova base militar subterrânea do tamanho das normalmente usadas para abrigar ICBMs norte-coreanos a apenas 40 quilômetros da fronteira com a China.

O local, dizem os analistas, foi escolhido para impedir ataques preventivos dos EUA contra as armas mais importantes da Coreia do Norte, à medida que o país continua a expandir e modernizar seu arsenal. A mensagem de Kim com seus testes foi clara: ele se sente ignorado e quer pressionar o governo de Joe Biden a retomar o diálogo e a prestar atenção no seu país, que passa por dificuldades econômicas.

Individualmente, os testes não representam muito: envolveram mísseis que já tinham sido testados ou armas ainda em estágio de desenvolvimento. Mas, tomados em conjunto, indicam que Kim planeja usar 2022 para dar um choque no governo Biden e tirá-lo do seu sono diplomático.

Concessões

Kim precisa que Washington abra um diálogo a respeito de concessões econômicas para que ele possa colocar nos trilhos a economia devastada do país. Ao longo dos anos, ele aprendeu que a melhor maneira de chamar a atenção de um presidente americano é com armas. E o melhor momento para fazê-lo é aquele em que o mundo menos pode arcar com a instabilidade. Segundo este manual, 2022 parece ser um ano promissor.

A China está ocupada com a Olimpíada de Inverno. A Coreia do Sul vai eleger um novo presidente em março. A Rússia indica que pode invadir a Ucrânia, mantendo o governo Biden em alerta.

Durante uma reunião do Politburo, Kim indicou que seu governo pode retomar os testes de mísseis de longo alcance e dispositivos nucleares após a suspensão de tais testes antes da reunião de cúpula dele com o então presidente americano Donald Trump.

“Este ano pede ameaças contínuas, pontuadas por alguns testes importantes de mísseis”, disse Lee Sung-yoon, especialista em Coreia do Norte da Faculdade Fletcher, da Universidade Tufts. “O objetivo de Kim é tornar os testes de mísseis balísticos de curto alcance algo corriqueiro, sem repercussões, quando ele então fará provocações maiores, retomando os testes de mísseis de médio e longo alcances, pontuados por um teste nuclear, como fez em 2017.”

Bomba

Naquele ano, a Coreia do Norte testou algo que disse ser uma bomba de hidrogênio, lançando também três mísseis balísticos intercontinentais. Foi também naquele ano que Trump assumiu a presidência e a Coreia do Sul acabara de aprovar o impeachment de sua presidente.

Depois que os esforços diplomáticos com Trump chegaram ao fim sem acordo, em 2019, Kim disse que não se sentia mais limitado pelo compromisso. Mas seu país mergulhou no caos trazido pela pandemia do coronavírus.

Este ano marca também o início da segunda década de Kim no poder, e uma oportunidade de reafirmar sua autoridade. Desde o momento em que assumiu, ele se concentrou em reforçar o arsenal do país para validar o governo dinástico de sua família, descrevendo suas armas nucleares como uma “valiosa espada” que protege a Coreia do Norte de uma invasão estrangeira.

“Ao avançar suas capacidades nucleares e sistemas de armas, a Coreia do Norte está mostrando aos EUA e à Coreia do Sul que, quanto mais o tempo passa, maior se tornará o preço a pagar”, escreveu o analista Choi Yong-hwan, do Instituto para a Estratégia de Segurança Nacional.

Prioridades

Mas, por mais que tente fazer demonstrações de força, a Coreia do Norte parece não estar entre a lista de prioridades internacionais do governo Biden. Washington não adotou nenhuma medida para provocar Kim, a não ser a proposta de negociações “sem condições prévias”, um convite que a Coreia do Norte rejeitou.

A Coreia do Norte se concentrou no teste de mísseis capazes de transportar armas nucleares descritas como “menores, mais leves, de efeito tático”. Armas desse tipo podem ampliar o poder de influência de Kim com Washington, ao colocar aliados dos americanos – como a Coreia do Sul e o Japão – sob ameaça nuclear.

Nos primeiros dois testes feitos pela Coreia do Norte este mês, foram lançados mísseis de curto alcance usando “planadores hipersônicos”, ogivas separáveis que dificultam a interceptação das armas, que voam muito rápido e mudam de direção durante o voo.

Em teste realizado no dia 13 de janeiro, a Coreia do Norte lançou o KN-23, um dos três modelos de mísseis de combustível sólido que o país vem testando desde 2019. Os mísseis de combustível sólido são mais fáceis de transportar e lançar. O KN-23 é capaz de manobras de baixa altitude, o que o torna difícil de interceptar.

“A Coreia do Norte espera que, se ela continuar demonstrando suas capacidades nucleares, mas confiná-las à Península da Coreia, isso não vai incomodar a opinião pública nos EUA, reforçando entre os americanos as vozes que propõem algum tipo de concessão mútua”, escreveu o pesquisador Cha Du-hyeogn, do Instituto de Estudos de Políticas Asan, em Seul.

China

Para que essa estratégia funcione, Kim precisará do contínuo auxílio da China para resistir a novas sanções internacionais. Os desafios econômicos da Coreia do Norte foram aprofundados dois anos atrás, quando o país fechou sua fronteira com a China para combater a pandemia.

Essa decisão indica que o governo chinês é mais do que cúmplice das provocações de Pyongyang”, disse Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais da Universidade Feminina Ewha, em Seul. “A China está apoiando a Coreia do Norte economicamente e coordenando suas forças com o vizinho.”

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