Fechar
GP1

Mundo

Nicarágua rompe relações diplomáticas com a Holanda

O Ministério das Relações Exteriores alega tentativa de interferência por parte dos Países Baixos.

O governo da Nicarágua rompeu relações diplomáticas com a Holanda nesta sexta-feira, 30, atribuindo àquele país a manutenção de uma posição “interferente, intervencionista e neocolonialista”. A decisão foi comunicada oficialmente por meio de nota diplomática enviada pelo Ministério das Relações Exteriores. Ao longo da semana, o ditador Daniel Ortega fez críticas a diferentes embaixadas, incluindo a holandesa.

“Decisão de interromper imediatamente as relações diplomáticas”, diante da “reiterada posição intervencionista, intervencionista e neocolonialista do Reino dos Países Baixos”, dizia a nota assinada pelo chanceler Denis Moncada. O país ainda alega que a Holanda “ofendeu e continua ofendendo famílias nicaraguenses com ameaças e suspensão de obras para o bem comum, como hospitais para comunidades indígenas e afrodescendentes”. “Repudiamos e condenamos as ofensas e crimes dessa Europa colonialista e neocolonialista contra países cobiçados e atacados como o nosso”, disse.


“A permanente ofensiva da representação, nada diplomática e em violação à Convenção de Viena, daquele governo neocolonial e pró-imperial, obriga-nos a tomar esta medida que defendemos com a honra, dignidade e espírito soberano que nos caracteriza”, acrescentou. O governo sandinista sustentou que “conhecemos os impérios e colonialistas da Terra, e nada nem ninguém pode nos fazer esquecer seus crimes contra a humanidade”.

Ortega sinalizou insatisfação com a Holanda

A Nicarágua tomou essa decisão horas depois que o presidente do país, Daniel Ortega, anunciou que seu governo não queria ter laços diplomáticos com a Holanda, que ele descreveu como “intervencionista”. Durante um ato por ocasião do 43º aniversário da Polícia Nacional, transmitido em rádio e televisão, Ortega comentou sobre a visita, na quinta-feira, da embaixadora holandesa na América Central, Christine Pirenne, que chegou a Manágua da Costa Rica, onde estão sediados, para informar que não financiaria a construção de um hospital, segundo o presidente.

A medida irritou o governo Ortega, que exclamou: “Fora!... Que ela grite o que quiser, todas as suas misérias... saiam”. Mais cedo, a vice-presidente e primeira-dama da Nicarágua, Rosario Murillo, reiterou que o embaixador designado dos Estados Unidos, Hugo Rodríguez, “não seria admitido” na Nicarágua por suas posições “interferentes”. Em julho, Manágua havia manifestado sua oposição à nomeação de Rodríguez, mas, nesta quinta-feira, o Senado dos Estados Unidos confirmou a indicação para o cargo.

Na última quarta-feira, o governo Ortega solicitou a saída da embaixadora da União Europeia (UE) na Nicarágua, Bettina Muscheidt, segundo fontes diplomáticas e meios de comunicação locais, por razões ainda não especificadas. O pedido de retirada, que segundo a imprensa entraria em vigor neste sábado, veio depois que uma delegação da UE pediu à Nicarágua para “acabar com a repressão” contra opositores, padres e meios de comunicação independentes, e para restaurar a “democracia”.

Mais de 200 opositores estão presos no quadro da crise política que Nicarágua vive desde os protestos da oposição em 2018. Os detidos incluem sete ex-candidatos à presidência e pelo menos sete clérigos, incluindo o bispo Rolando Álvarez, um crítico do governo que está em prisão domiciliar desde 19 de agosto. Em 15 de setembro, o Parlamento Europeu pediu a libertação do bispo. Em meio à crise, o bloco europeu, como vinha fazendo os Estados Unidos, impôs sanções a dezenas de funcionários e parentes do presidente nicaraguense por violações de direitos humanos e corrupção.

A Nicarágua vive uma crise política e social desde abril de 2018, que se acentuou após as polêmicas eleições gerais de 7 de novembro, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, quarto consecutivo e segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão. Ortega, perto de completar 77 anos, está no poder há 15 anos e 7 meses consecutivos, em meio a denúncias de autoritarismo e fraude eleitoral.

Mais conteúdo sobre:

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.