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Britânicos multados por conta de festa querem punição para Boris Johnson

Premiê britânico luta para se manter no cargo após escândalo envolvendo eventos do governo.

Após a morte de um amigo próximo, Kieron McArdle ficou mal, e três amigos vieram para ajudá-lo a comemorar seu 50º aniversário em seu quintal em Coleshill, uma cidade em Warwickshire, no Reino Unido. Menos de uma hora depois, a polícia estava batendo na porta da frente.

McArdle foi multado em US$ 134, que pagou com satisfação, segundo disse, pois entendeu que havia violado a proibição de reuniões sociais em vigor na época, em março do ano passado. Mas ele está incrédulo com o escândalo de uma série de festas realizadas no escritório e na residência do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, nos últimos dois anos.


“É irritante de assistir. É uma regra para eles, uma para nós”, disse McArdle. “O que eles fizeram foi exatamente o mesmo que eu fiz, só que fiquei feliz em pagar minha multa. Eu quebrei as regras e assumo a responsabilidade. Por que não?”

O Reino Unido aguarda a conclusão de duas investigações sobre mais de uma dúzia de festas ligadas ao governo que teriam violado as regras em vigor no país. O primeiro-ministro Boris Johnson pediu desculpas por três dos eventos, mas não admitiu qualquer irregularidade pessoal.

No aniversário de Johnson, a ITV News informou, 30 pessoas participaram de uma reunião à tarde – com canto e um bolo com tema da Union Jack – em 19 de junho de 2020, quando o país estava em seu primeiro e mais rigoroso bloqueio. Um porta-voz de Downing Street disse ao The Washington Post que os funcionários “se reuniram brevemente na Sala do Gabinete após uma reunião para desejar feliz aniversário ao primeiro-ministro. Ele ficou lá por menos de 10 minutos.” Downing Street sustentou que outras reuniões eram relacionadas ao trabalho, apesar da existência de várias garrafas de vinho nos locais em que elas aconteceram.

Desde o início da pandemia, mais de 100 mil “avisos de multa fixa” – o equivalente a uma multa por excesso de velocidade – foram emitidos no Reino Unido e no País de Gales para pessoas que violaram as restrições do coronavírus. Durante alguns estágios da pandemia, as regras foram muito rígidas, com pouca ou nenhuma mistura de famílias permitida e com as pessoas autorizadas a deixar suas casas apenas em circunstâncias limitadas.

O valor da multa dependia da infração. Boa parte foi aplicada a pessoas que organizaram pequenas reuniões. Essas multas giravam em torno de US$ 270, valor que poderia ser reduzido pela metade se o pagamento fosse feito imediatamente. Pessoas que organizaram reuniões ilegais com mais de 30 pessoas – como um estudante em Nottingham – enfrentaram uma multa mais alta, de cerca de US$ 13.400.

A possibilidade de punição era tão real que um policial de Londres fingiu prender Sarah Everard, uma executiva de marketing de 33 anos, por quebrar as regras de bloqueio. Ele foi condenado no ano passado pelo estupro e assassinato da executiva.

O professor visitante de Direito da Universidade de Londres, Adam Wagner, advogado que acompanhou de perto as regras de bloqueio, disse que houve mais de 100 mudanças durante a pandemia, uma a cada quatro ou cinco dias em média. Essa volatilidade dificulta que os britânicos acompanhem a atualização de regras regionais e nacionais e separem o que é lei do que é conselho.

“Foi muito confuso e difícil para as pessoas”, disse Wagner. Havia “intermináveis ​​iterações de regras diferentes: tínhamos três camadas, depois quatro camadas; depois restrições locais, depois restrições diferentes em áreas maiores; bloqueios nacionais, bloqueios locais. E as regras dentro das regiões mudavam regularmente.”

Mas, acrescentou, “nada disso justifica como o governo se comportou – eram literalmente as pessoas que faziam as regras”, disse ele sobre os ministros do governo.

Algumas pessoas que foram multadas dizem que deveriam receber seu dinheiro de volta.

No período que antecedeu o Natal de 2020, James Kearns, de 41 anos, que administra uma empresa de andaimes, convidou cerca de uma dúzia de funcionários para tomar uma bebida. Pubs e restaurantes estavam fechados na época, mas ele tem as chaves do pub de seu pai no leste de Londres. Então ele deixou a equipe entrar e – embora eles estivessem trabalhando lado a lado durante todo o ano – ele pediu que eles se espalhassem em grupos de três.

Em 20 minutos, ele disse, cerca de 20 policiais estavam batendo nas portas. “Nós nos escondemos nos banheiros, mas as pancadas não paravam. Então eu não tive escolha a não ser ir e deixá-los entrar.” Todos eles foram multados em cerca de US$ 134.

Inicialmente, disse Kearns, ele achou justo: afinal, eles haviam quebrado as regras.

Desde então, descobriu-se que apenas cinco dias antes da reunião de Kearns, Downing Street pode ter realizado sua própria festa de Natal. De acordo com o Daily Mirror, que relatou a história pela primeira vez, cerca de 40 a 50 pessoas estiveram em uma sala em 18 de dezembro de 2020. Algumas usavam suéteres de Natal. Houve uma troca de presentes.

Johnson disse ao Parlamento que foi “repetidamente assegurado” que não havia festa de Natal em Downing Street e que nenhuma regra referente à covid havia sido quebrada. Mas vazou um vídeo de seus funcionários brincando sobre a tal festa, e sua assessora, Allegra Stratton, renunciou por causa disso.

“Devemos receber nosso dinheiro de volta”, disse Kearns. “Boris Johnson está fazendo exatamente a mesma coisa que todo mundo estava fazendo, e ele não foi multado. Eles são as pessoas que governam o país e fazem as regras – eles não precisam cumprir as regras? Como isso é justo?”

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