Os Estados Unidos aumentarão o número e a capacidade dos voos de deportação para imigrantes que hoje estão na fronteiriça cidade texana de Del Rio (sul) com o objetivo de desencorajar a entrada de mais imigrantes, informou neste sádado, 18, o Departamento de Segurança Interna. Mais de 15 mil imigrantes, majoritariamente do Haiti, estão acampados debaixo de uma ponte na fronteira sul americana causando uma crise humana que tem pressionado o governo de Joe Biden.
Os voos de deportação começam a sair neste domingo, 19, levando inicialmente haitianos, e um funcionário do Departamento de Segurança Interna disse que serão três voos diários – número que as autoridades haitianas disseram que têm condições de receber. Não há informações sobre a deportação de brasileiros. Esta semana, um grupo de 140 imigrantes do Brasil se entregou às autoridades após cruzar ilegalmente a passagem de Yuma, no Estado do Arizona.
De acordo com as autoridades, o governo está negociando com países sul-americanos o recebimento de alguns imigrantes que viveram ali anteriormente. Muitos dos imigrantes haitianos partiram de países como Brasil e Chile para tentar chegar aos EUA.
“Reiteramos que nossas fronteiras não estão abertas e as pessoas não devem fazer a jornada perigosa”, disse a porta-voz do Departamento de Segurança Interna, Marsha Espinosa. “A migração irregular representa uma ameaça significativa para a saúde e o bem-estar das comunidades fronteiriças e para as vidas dos próprios migrantes e não deve ser tentada”, acrescentou.
Outro funcionário americano envolvido no planejamento das deportações insistiu que a operação de voo não era uma medida direcionada aos haitianos, mas sim à aplicação das leis de imigração dos EUA, permitindo ao governo remover rapidamente os que chegam ilegalmente ao país. “Não se trata de nenhum país ou país de origem”, disse o funcionário. “Trata-se de impor restrições de fronteira para aqueles que continuam a entrar ilegalmente no país e colocam suas vidas e as vidas da força de trabalho federal em risco.”
Os imigrantes em Del Rio estão em uma área controlada pelas autoridades de alfândega e fronteiras, que mobilizaram 400 soldados adicionais para tentar conter a crise e “melhorar o controle da área”, segundo um comunicado do departamento.
Esses migrantes chegaram na pequena cidade cruzando o Rio Grande que separa os Estados Unidos do México e estão abrigados debaixo de uma ponte. Na sexta-feira, Bruno Lozano, prefeito desta cidade limítrofe com a mexicana Ciudad Acuña, declarou estado de emergência e fechou a ponte para o tráfego.
“As circunstâncias extremas exigem respostas extremas”, declarou ao jornal Texas Tribune. “Há mulheres que dão à luz, pessoas que desmaiam pela alta temperatura, são um pouco agressivas e isso é normal depois de todos esses dias de calor”, destacou.
Água potável, toalhas e outros itens básicos estão sendo distribuídos no local, de acordo com autoridades de fronteira, mas funcionários que trabalham na região afirmam que as condições sanitárias são precárias. Famílias com crianças pequenas estão recebendo prioridade de remoção da área da ponte.
Del Rio é uma cidade de 35 mil habitantes às margens do Rio Grande, a 240 km de San Antonio. O município, cercado por ranchos, arbustos espinhosos e enormes árvores de algaroba, tornou-se o centro do drama humanitário após virar rota de migrantes, que acreditam ser o caminho mais seguro para a travessia.
Mais de 1,3 milhão de pessoas foram detidas na fronteira com o México desde a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em janeiro de 2020, um nível não visto em 20 anos. Delas, cerca de 596.000 chegaram de El Salvador, Guatemala e Honduras e mais de 464.000 do México. O número de brasileiros que tentam cruzar a fronteira ilegalmente também aumentou. Um levantamento feito com base em dados da patrulha de fronteira mostra que, entre outubro de 2020 e agosto de 2021, 46,4 mil brasileiros foram detidos – seis vezes mais do que o registrado entre outubro de 2019 e agosto de 2020.
A oposição republicana acusa Biden de ter provocado uma “crise migratória” ao flexibilizar as medidas de seu antecessor Donald Trump, que fez da luta contra a imigração ilegal um dos pilares de seu governo.
No caso específico do Haiti, Biden reduziu os voos de deportação após o assassinato do presidente haitiano, Jovenel Moise, em julho, e do terremoto de magnitude 7,2, em agosto, que matou mais de 2 mil pessoas. Ele também ampliou o status de proteção temporária para haitianos, o que, em tese, reduziria o risco de deportação.
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