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Vacinação contra covid na Coreia do Norte não tem prazo para começar

Esforços das Nações Unidas para fornecer vacinas ao país chegaram a um gargalo nos últimos meses.

O esforço global de vacinação apoiado pelas Nações Unidas através do consórcio Covax está oferecendo doses adicionais de vacinas contra o coronavírus para a Coreia do Norte, um dos poucos países que ainda não começaram a vacinar cidadãos, após um atraso em um programa de distribuição previsto para começar no meio do ano.

A Gavi Alliance, parte da iniciativa Covax que visa distribuir vacinas às pessoas em situação mais vulnerável do mundo, disse na semana passada que alocou para o país quase 3 milhões de doses da vacina chinesa contra o coronavírus, a Sinovac. O anúncio foi feito depois que os planos para entregar quase 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca foram descartados, em meio às preocupações da Coreia do Norte sobre “potenciais efeitos colaterais” e uma escassez de fornecimento em um distribuidor com sede na Índia.


Os esforços para fornecer vacinas à Coreia do Norte chegaram a um gargalo nos últimos meses. Pyongyang solicitou ao consórcio acesso às vacinas em dezembro, mas nenhuma dose foi enviada.

Não está claro se a nação de 25 milhões de pessoas aceitará a última oferta, disse Edwin Ceniza Salvador, o representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Coreia do Norte, em um comunicado. A nova alocação foi relatada pela primeira vez pela NK News e Radio Free Asia.

A Coreia do Norte concluiu algumas das etapas necessárias para aceitar as entregas, como o desenvolvimento de um programa nacional de aplicação de vacinas, disse Salvador. Mas as questões técnicas ainda precisam ser resolvidas, como garantir o armazenamento adequado e o funcionamento de sistemas de entrega e negociar se a Coreia do Norte está disposta a não pedir indenização do fabricante da vacina contra efeitos colaterais inesperados, disse Salvador.

Enquanto isso, um painel do Conselho de Segurança da ONU aprovou na semana passada isenções de sanções para permitir o envio à Coreia do Norte de equipamento médico para o tratamento de pacients com covid-19.

O país afirma não ter casos de coronavírus, mas mesmo assim tomou medidas severas para restringir o contato externo. A Coreia do Norte fechou suas fronteiras ao comércio e aos visitantes e suspendeu a maioria dos embarques de carga por via terrestre de seu principal parceiro comercial, a China.

A maioria dos diplomatas deixou o país por causa de restrições, e a maioria dos grupos de ajuda não está mais no país. Mesmo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que está fornecendo apoio técnico para coordenar a distribuição de vacinas, não possui funcionários internacionais operando no país.

O último embarque de vacinas não relacionadas à covid-19 para a Coreia do Norte foi no segundo trimestre de 2020, de acordo com o UNICEF, o que significa que o país enfrenta agora um atraso em seu programa de vacinação de rotina.

A Coreia do Norte experimentou no ano passado sua pior crise econômica em mais de duas décadas, quando os desastres ambientais agravaram o impacto do fechamento da fronteira. Inundações e tufões causaram danos significativos à infraestrutura e à produção agrícola, e a onda de calor e a seca deste verão no Hemisfério Norte agravaram a escassez de alimentos.

A aceitação de remessas de vacinas sinalizaria um passo significativo em direção à reabertura e uma mudança em sua estratégia geral de combate à covid-19, dizem os especialistas.

"Para receber vacinas de fora, a Coreia do Norte terá que aceitar trabalhadores humanitários no país, mas isso pode ser uma questão delicada para eles", disse Lee Sang-keun, pesquisador do Instituto de Estratégia de Segurança Nacional de Seul, que é afiliado à agência de inteligência da Coreia do Sul.

Lee disse que a Coreia do Norte rejeitou as vacinas sueco-britânicas da AstraZeneca devido a preocupações com efeitos colaterais raros. Ele acrescentou que as vacinas chinesas e russas estão agora no radar da Coreia do Norte e que o regime expressou interesse em aceitar vacinas de Moscou se os russos fornecerem as doses gratuitamente.

Não há sinais de que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tenha sido vacinado, disse o parlamentar da oposição sul-coreana Ha Tae-keung a repórteres no início de julho, após uma entrevista coletiva com funcionários da inteligência.

Enquanto isso, a Coreia do Sul está procurando ajudar na distribuição de vacinas. O porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, Cha Deok-cheol, disse em um briefing na semana passada que "a cooperação direta entre o Sul e o Norte, bem como a cooperação global, são opções possíveis".

A Coreia do Norte mostrou que tem capacidade para assumir programas nacionais de vacinação - incluindo uma campanha de vacinação contra o sarampo em 2007, durante a qual uma média de 3,3 milhões de pessoas foram inoculadas por dia, de acordo com um relatório publicado este mês no 38 North, um programa de monitoramento sobre o país do centro de Estudos Stimson Center.

O país também demonstrou que pode efetivamente fechar suas fronteiras para eliminar doenças infecciosas por meio de medidas estritas de quarentena, disse Kee Park, especialista em saúde global da Harvard Medical School que trabalhou em projetos de saúde na Coreia do Norte e foi coautor do relatório.

“De certa forma, a estratégia deles é: 'Olha, podemos manter nosso desligamento do mundo pelo tempo que precisarmos’, e está funcionando”, disse Park. “Do lado da Coreia do Norte, eles estão pensando: 'Nós realmente queremos essas vacinas?’ Há aquela hesitação da vacina. Eles não estão desesperados dizendo: ‘Queremos vacinas agora’ ”.

Embora o país provavelmente não tenha pressa em aceitar as vacinas que ainda estão sendo desenvolvidas, Park disse que espera que a Coreia do Norte reconheça os benefícios de longo prazo da inoculação, especialmente devido às pressões econômicas que enfrenta.

A mídia estatal norte-coreana alertou sobre uma longa batalha contra o coronavírus e disse que as vacinas “nunca são uma panaceia universal”.

A Coreia do Norte elogiou os esforços de outros países para desenvolver vacinas e criticou o "egoísmo nacional" de países que, segundo autoridades, contribuem para uma escassez global de doses.

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