Desde dezembro de 2020, o Covax, iniciativa global para garantir acesso rápido e equitativo a vacinas contra a covid-19 a todos os países, anunciou acordos que permitiram a destinação de ao menos 1,3 bilhão de doses de imunizantes financiadas por doadores a 92 países de economias de baixa e média renda.
Olhando o mapa da distribuição dessas vacinas hoje, a Venezuela não está entre os beneficiados. O motivo? O governo de Nicolás Maduro não atualiza os dados econômicos desde 2014 e, de acordo, com as cifras oficiais da época, o país entrou na categoria de renda autosuficiente para a compra de imunizantes.
A Venezuela poderia estar hoje com 20% da sua população vacinada, mas vive um drama com relação à propagação da covid e o atraso na vacinação. O país com PIB per capita de cerca de US$ 1.500, de acordo com organizações que monitoram a situação econômica local, não figura entre os países menos desenvolvidos, mas sim como um dos capazes de comprar imunizantes porque em 2014, os dados mostravam uma renda per capita de US$ 13 mil.
Outros países das Américas como Bolívia, El Salvador, Honduras e Nicarágua fazem parte da lista e já receberam, juntas, mais de 2,8 milhões de doses de diferentes imunizantes, segundo dados do Covax até essa quarta-feira 30 de junho.
Dos 190 países participantes do sistema Covax, 92 são considerados de economias de baixa e média renda elegíveis para o Compromisso Antecipado de Mercado (AMC), ou seja, recebem os imunizantes por meio de financiamento. Os outros 98 países, considerados de economias de alta renda, precisam comprar as vacinas do sistema.
Essa divisão é feita com base em dados da renda bruta per capita dos países disponibilizados pelo Banco Mundial para o ano de 2019. Lá, os últimos dados da Venezuela são os de 2014. Mas nos últimos sete anos, o PIB do país diminuiu, a produção de petróleo está nos níveis mais baixos e a população enfrenta um grave crise econômica, com escassez de alimentos e remédios.
Outro caminho
Esse seria então o outro caminho natural da Venezuela. O governo Maduro assinou um acordo para a compra de 11,3 milhões de doses e teria que pagar US$ 119,9 milhões, sendo que 15% desse valor deveria ser pago de forma antecipada para garantir as vacinas "reservadas". Mas o país não pagou o necessário a tempo.
Depois de algumas negociações, Caracas decidiu, em abril deste ano, que escolheria a vacina que queria e pagaria a integridade do valor necessário para receber o imunizante. Um documento do Covax mostra que a Aliança Global para as Vacinas (Gavi) recebeu US$ 109,9 milhões da Venezuela em 12 transações, mas quatro pagamentos haviam sido bloqueados.
Dessa forma, o país não recebeu ainda as 5 milhões de doses do imunizante Janssen (Johnson & Johnson), primeira vacina de dose única aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O governo Maduro afirma que o embargo imposto pelos Estados Unidos impediu a liberação do dinheiro. No entanto, o governo de Joe Biden emitiu uma licença no dia 16 de junho para excluir as questões relacionadas ao combate à covid das sanções.
"É importante entender que a emergência humanitária pela qual passa a Venezuela não se deve às sanções dos EUA. No atual contexto, isso é ainda menos viável porque as licenças (dos EUA) permitem muitas ações comerciais, por exemplo", explica a responsável pela área de investigação do Cepaz Nicole Hernandez.
Até 14 de junho, a Venezuela recebeu 3.230.000 de vacinas após acordos com Rússia e China. O governo diz que quer imunizar 22 milhões de pessoas ainda neste ano.
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