O presidente do Equador, Lenín Moreno, decretou estado de exceção em todo o país em meio a protestos contra um aumento de 123% no preço da gasolina. Ao menos 19 pessoas foram presas. Há bloqueio de estradas em Quito e Guayaquil, as duas principais cidades do país.
O aumento decorre da retirada de subsídios da gasolina, que vigorava no país há 40 anos, depois de o Equador ter fechado um acordo de US$ 2 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O objetivo do acordo é reduzir a dívida pública equatoriana, que tem aumentado desde que o país perdeu receita com a queda do preço do petróleo, a partir de 2014.
Moreno diz que o fim dos subsídios combaterá o contrabando de combustível e incentivará a economia. A gasolina subiu de US$1,85 o galão para US$ 2,30 e o diesel de US$ 1,03 para US$ 2,27.
O presidente disse ainda aos manifestantes que não permitirá que o caos se imponha no país e não há nenhuma chance de anular as medidas econômicas anunciadas na segunda-feira.
"Esse tempo acabou. Temos de abandonar esse costume de impor critérios violentos e de apostar no pior com ajuda do vandalismo", disse o presidente. "Para garantir a segurança dos cidadãos, declarei estado nacional de exceção, que suspende alguns direitos e dá poder aos militares para manter a ordem."
Manifestantes ameaçam parar o Equador
"Abaixo o paquetaço", gritavam os manifestantes nos arredores da Praça de Armas de Quito, na qual está localizado o Palácio de Carondelet, sede do Executivo.
A polícia e o Exército foram destacados para proteger o local. O Estado de exceção é válido por 60 dias, prorrogáveis por mais 30. Em meio aos protestos, foram registrados furtos e agressões a jornalistas. Houve protestos em menor escala em Cuenca, a terceira maior cidade do país, Ibarra e Ambato.
Motoristas de táxi e caminhoneiros lideram os protestos. Terminais de ônibus estão fechados. Manifestantes ergueram barricadas com pneus queimados e lixo nas ruas de Quito. "Vamos parar esse país até que o governo desista do decreto" ameaçou o líder dos transportistas Abel Gómez.
Correa chama Moreno de 'traidor'
Moreno assumiu a presidência em 2017, apadrinhado politicamente pelo ex-presidente Rafael Correa. No poder, rompeu com o antecessor e se aproximou da oposição. Para reverter a crise econômica produzida pelo fim do ciclo das commodities, tomou medidas econômicas impopulares.
O ex-presidente Correa criticou Moreno após a decretação da medida. "O mais confiável nos traidores é que eles não mudam nunca", disse.
Moreno quer reduzir o déficit fiscal, estimado em US$ 3,6 bilhões para este ano, para US$ 1 bilhão no ano que vem. A dívida cresceu no final do mandato de Correa em consequência da perda de arrecadação com o petróleo e pelo fato de o Equador não ter uma política monetária, já que a economia é dolarizada. Assim, não pode desvalorizar sua moeda.
O líder equatoriano tem se aproximado do governo americano e adotado políticas pró-mercado. Graças a essas mudanças, conseguiu finalizar o acordo em março com o FMI.
O fundo no entanto, segue impopular no Equador, assim como em outros países da América Latina. “Estamos cansados de falsas promessas”, disse o taxista Sergio Menoscal, em um bloqueio de estrada em Guayaquil. “Não somos cegos. Esse governo não fez nada pelo povo.”
Instabilidade no país marcou anos 80 e 90
O Equador viveu anos de instabilidade política nas décadas de 90, quando a maioria dos presidentes eleitos não conseguia terminar o mandato.
Na virada do século, o país dolarizou sua economia em meio a uma crise inflacionária, depois de decretar feriado bancário e congelar contas da população.
Em 2005, o presidente Lúcio Gutierrez foi deposto depois de uma série de protestos populares, que ele tentou conter ao decretar estado de emergência. Ele acabou deposto e recebeu asilo político no Brasil.
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