Rogério Ceni está muito perto de aumentar sua idolatria na história do São Paulo ao se eternizar como bicampeão da Copa Sul-Americana em funções distintas: campeão entre as traves em 2012, busca o segundo título agora na beira do campo, comandando o time, fato raro no mundo da bola em competições na América do Sul - apenas Marcelo Gallardo e Renato Portaluppi conseguiram. No sábado (01), em Córdoba, na Argentina, a equipe do Morumbi encara o Independiente Del Valle pela decisão, e o treinador não admite deixar o título escapar. Em entrevista para o podcast da Conmebol, o comandante são-paulino abriu o coração sobre o que espera na decisão.
“As pessoas não querem saber do momento, elas querem que você entregue a vitória, o título. O que passo para eles é que nós viemos até aqui, estamos a 90, 120 minutos, como quer que seja, de uma briga pelo título. Nós não podemos deixar passar a oportunidade”, enfatizou. “É difícil ser campeão, é difícil chegar à decisão, passar em mata-mata. É apenas a segunda vez que chegamos nos últimos dez anos, a não ser em regionais. É difícil chegar em uma final da Sul-Americana, da Libertadores, e temos de aproveitar a oportunidade. Seja aquele com 18 anos, para iniciar a carreira com título importante, ou com 38, caso do Miranda. Ser campeão é uma coisa muito especial e se o momento lhe permite, tem de tentar a todo custo ganhar o título.”
Rogério Ceni tem bem viva a campanha do primeiro título, contra o Tigre, há dez anos. “Foi uma Copa Sul-Americana com caminho muito difícil para a gente (encarou Bahia na segunda fase, LDU de Loja, Universidad de Chile, Universidad Católica e o Tigre na final), lembro que pegamos Católica e a Universidad de Chile no meio do caminho, do (Jorge) Sampaoli, e foram nossos melhores jogos contra a Universidad de Chile. Um jogo muito duro, 1 a 1 lá e 0 a 0 aqui e classificamos com o gol fora de casa. Foi nesse ano que fizemos uma viagem a Loja. A viagem mais longa que fiz na minha vida na América do Sul. Levamos 21 horas para chegar em Loja (no Equador), pegamos três voos e mais quatro horas de ônibus, empatamos 1 a 1 e também classificamos com 0 a 0 aqui”, lembrou.
“A final foi um jogo duro com o Tigre, jogando no estádio do Boca, 0 a 0 com o Luis Fabiano expulso se não me engano. E aí um jogo que infelizmente não teve segundo tempo, nós já vencíamos por 2 a 0, tínhamos um time bem superior naquele momento. Mas no segundo tempo teve toda aquela confusão e não teve mais jogo e nós saímos campeões”, seguiu. “Eu acho competições sul-americanas muito importantes e a cada ano aprende-se a dar mais valor à Copa Sul-americana. Claro, Libertadores é a principal, mas a Sul-americana, que já foi Conmebol e Mercosul e eu joguei todas, passou a ser bem mais organizada, mais competitiva, com melhores equipes e se dá mais valor a quem ganha. Para tudo isso é bem especial, mas 2012, para mim, foi o último título que ganhei com o São Paulo e muito marcante para mim.”
À época, Ceni era o capitão, mas cedeu a honraria de levantar o troféu para Lucas Moura, na visão do agora técnico, o herói daquela conquista. “Lucas foi para mim disparado o melhor jogador de todo o nosso time, estava em um momento fantástico e assim que acabou (a competição), foi para a Europa. Disse para ele erguer a taça aqui porque na Europa seria mais difícil. Foi uma brincadeira, mas um simbologia daquela conquista, pois ele sempre carregava dois marcadores pela direita”, observou.
“O primeiro gol do São Paulo na Sul-Americana foi meu, de falta, contra o Bahia, na Fonte Nova, mas o que o Lucas fez, foi tudo merecido. Agora, tem o Diego Costa. Se ele for o capitão, também ficará marcado. Teríamos dois garotos de Cotia levantando a taça, caso ela venha, o que não será fácil, mas simbolizará o trabalho de base bem feito em Cotia, algo novo, inaugurado em 2005 e já vendo dois garotos erguendo taças. Se acontecer essa segunda vez, seria fantástico.”
Apesar daquele ato generoso, Ceni não vê ligação para uma possível conquista agora. “O gesto simboliza aquele momento mais do que os dez anos depois. Fico feliz por voltar à decisão desta competição como treinador. O que fez a equipe chegar foi o esforço dos atletas, em um ano muito puxado, com três competições. Fizemos todos jogos possíveis no ano e chegar à decisão em ano que se mostrou bem complicado, é a coisa mais importante”, observou.
Ele não escondeu, contudo, o sonho de retomar parceria com Lucas Moura. “Lá, valeu pelo momento e a carreira do Lucas, que depois atuou em grandes clubes na Europa, ainda está no Tottenham... Então, quem sabe não seja uma vitória para trazê-lo no ano que vem? Temos essa possibilidade a favor. Quem sabe o universo não conspira de fato. Ajudava bem, ele é experiente, mas é mais um sonho, um devaneio, do que uma realidade.”
Ceni surpreendeu ao falar do retorno à casa - ele já adiantou que quer que suas cinzas sejam jogadas no Morumbi. Em sua visão, por tudo o que já havia feito como goleiro, não necessitava deste duro desafio, apesar do amor pelo clube. “Honestamente, a vida é mais fácil tocar sem voltar. O compromisso tão bem realizado nos 25 anos como atleta, dificilmente você vai entregar da mesma maneira, ainda mais como uma posição bem diferente de atleta, que você só depende de si”, disse.
ELOGIOS AO RIVAL
Não são poucos os jogos do Independiente Del Valle que foram vistos por Ceni nos últimos dias. Ele evita dar pistas de quais as brechas que viu para o São Paulo aproveitar em Córdoba, e tece bastante elogios aos equatorianos.
“Uma equipe adversária boa, de muita posse, de qualidade técnica. Eu não vou entrar nesses assuntos (que deixa espaço), mas é um time que tem mais qualidades que deficiências. É equipe de história, de qualidade, com característica peculiar de construir bem as jogadas, parecida com o São Paulo”, analisou. “Eu prefiro olhar com calma, avaliar, vi os jogos contra o Melgar e tentaremos achar os espaços que todos deixam, nós também temos nossos defeitos.”
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