Nesta terça-feira, Lionel Messi chegou à França para acertar os últimos detalhes de sua transferência para o Paris Saint-Germain. Segundo a imprensa europeia, o argentino aceitou um contrato de dois anos, com salário anual de R$214 milhões. Obviamente, a chegada de um jogador com sua importância impacta o orçamento do clube e levanta questões como fair play financeiro, já que o técnico Mauricio Pochettino tem nomes como Neymar, Mbappé e Sergio Ramos no elenco. O Estadão conversou com especialistas para entender os impactos econômicos de um negócio como esse e saber como o PSG deve se portar diante da maior contratação da história da instituição.
Para Pedro Daniel, da BDO Brasil, uma das maiores auditoras e consultoras do Brasil, deve-se considerar receitas diretas e indiretas que o Paris Saint-Germain terá que lidar após a chegada de Messi. A primeira diz respeito à visibilidade e aos patrocínios que os franceses ganham com o argentino. Com o clube sendo mais atrativo para investidores, questões como a reputação da instituição no cenário europeu e o gerenciamento dos jogadores-estrela são exemplos de rendas indiretas que o sheik Nasser Al-Khelaïfi terá que considerar para tornar o projeto bem-sucedido.
Eduardo Carlezzo, sócio-fundador do Carlezzo Advogados, considera a permanência de Mbappé como ponto-chave para o prosseguimento dos objetivos do PSG. O atacante vinha sendo especulado no Real Madrid, mas o mandatário do clube francês garantiu ao jornal L’Equipe que ele continua no clube até ao menos junho de 2022. Quando perguntado sobre o custo-benefício da contratação de Messi, o advogado afirmou que, apesar dos gastos, a contratação de uma estrela sempre traz benefícios para o clube.
Mas será que o Paris Saint-Germain está preparado para contar com um atleta da magnitude do ex-Barcelona? Pedro Trengouse, especialista em gestão esportiva da FGV, opina que sim. “O PSG é hoje um dos clubes mais bem estruturados do mundo. É literalmente um clube-estado, que tem todos os recursos necessários para lidar com o time de craques que montou”, disse.
Outro aspecto que deve ser levado em conta é a imagem de Messi. O agora camisa 30 do time francês é conhecido por ser tímido e não dar muitas entrevistas. Amir Somoggi, um dos maiores especialistas brasileiros em marketing e gestão esportiva, nos contou que fez estudos voltados para o meio digital que mostraram que a maior força do argentino está em notícias relacionadas a sua performance. Seu engajamento na internet vem das vitórias que conquista. Por isso, estão sendo feitas comparações sobre o impacto comercial que o astro de 34 anos pode atingir se comparado com Cristiano Ronaldo, que se transferiu do Real Madrid para a Juventus em 2018.
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— Paris Saint-Germain (@PSG_inside) August 10, 2021
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Nossos entrevistados divergiram sobre o assunto. Carlezzo pensa que Messi tem capacidade de ser mais impactante do que o português economicamente falando, pois o PSG é candidato a todos os títulos na próxima temporada. Além do mais, Cristiano não conseguiu conquistar a Champions League, taça almejada pelos italianos há muito tempo. Trengouse aposta na cidade de Paris como um ‘hub comercial’ mais forte que Turim.
No entanto, Somoggi acredita que Messi não tem o carisma e o impacto fora do campo como Neymar e Cristiano Ronaldo. Tudo vai depender do comportamento do argentino, segundo ele. Neymar conseguiu expandir a marca ‘PSG’ para o exterior, atraindo novos torcedores. Se Messi fará o mesmo, ainda é incerto.
O PSG certamente espera que o craque aumente a renda do clube nas bilheterias, venda muitas camisas com seu nome e atraia novos seguidores para as redes sociais. O Campeonato Francês, uma competição que está em momento de desvalorização, deve se beneficiar enormemente da presença do argentino nos campos do país e vender direitos de TV para vários centros ao redor do mundo.
Mas, todos os clubes europeus sofreram com a pandemia do novo coronavírus. O Paris Saint-Germain, por exemplo, teve um prejuízo na última temporada de €126 milhões (R$ 770 milhões), o maior de sua história. Por outro lado, os patrocínios renderam €299 milhões (aproximadamente R$1.83 bilhão) ao sheik do Catar. Algo que a UEFA decidiu investigar, já que a relação entre o clube e a Autoridade de Turismo do Qatar é considerada suspeita.
Perguntados se os problemas orçamentários do clube francês poderiam atrapalhar a trajetória de Messi no Parc des Princes, os especialistas em gestão esportiva afirmaram que dinheiro não é problema para Nasser Al-Khelaïfi, que dispõe de uma fortuna especulada em US$ 256 bilhões (aproximadamente R$ 1.35 bilhão), segundo dados de fevereiro de 2016.
“O PSG tem recursos de sobra à disposição. O desafio é enquadrar no fair play financeiro. Comparando com o Brasil, enquanto aqui o problema é falta de dinheiro, lá o caso é o contrário, sobra tanto dinheiro que precisa limitar os gastos”, disse Trengouse.
Somoggi reconhece que o déficit da última temporada e a folha salarial ‘inchada’ dos franceses é um problema, mas que o clube não poderia deixar passar a oportunidade de contratar Messi sem custos. “É uma oportunidade única, ter um jogador desse sem pagar nada que não seja apenas os salários.”
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