O Brasil registrou em 2024 um fluxo cambial negativo de US$ 15,918 bilhões, o terceiro maior saldo negativo anual da série histórica iniciada pelo Banco Central em 2008. Este desempenho foi marcado por uma forte saída de dólares no canal financeiro, que somou US$ 84,396 bilhões, resultado de US$ 589,989 bilhões em compras e US$ 674,385 bilhões em vendas. A valorização do dólar frente ao real, que encerrou o ano cotado a R$ 6,18 com alta acumulada de 27%, refletiu a combinação de incertezas fiscais internas e tensões no cenário internacional.
Internamente, o mercado reagiu com preocupações ao aumento dos gastos públicos financiados por receitas pontuais, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal do governo. No final do ano, o Congresso Nacional aprovou medidas de contenção de despesas, mas a economia prevista foi reduzida de R$ 70 bilhões para cerca de R$ 50 bilhões. As pressões fiscais contribuíram para o agravamento da fuga de capital, levando o Banco Central a realizar 14 leilões de dólares em dezembro, injetando mais de US$ 32 bilhões no mercado.
O comércio exterior, em contrapartida, registrou superávit de US$ 68,478 bilhões, impulsionado por exportações de US$ 298,456 bilhões e importações de US$ 229,978 bilhões. Apesar desse desempenho positivo, a forte saída de dólares pelo canal financeiro comprometeu o fluxo cambial total. Apenas em dezembro, o saldo negativo foi de US$ 24,314 bilhões, agravado por remessas internacionais intensificadas no período de festas e o impacto do pacote fiscal no mercado de câmbio.
No cenário internacional, a política monetária dos Estados Unidos e expectativas em torno do governo de Donald Trump, que assumirá em janeiro, influenciaram o fortalecimento do dólar. Com juros norte-americanos entre 4,25% e 4,5% e sinais de desaceleração no ritmo de flexibilização monetária, investidores buscaram refúgio em ativos mais seguros, em detrimento de economias emergentes como a brasileira. Esse movimento pressionou ainda mais as reservas internacionais do Brasil, que caíram de US$ 363 bilhões para US$ 329,73 bilhões em dezembro, a maior redução nominal em um único mês desde 1998.
O fluxo cambial é monitorado pelo Banco Central por meio dos canais comercial e financeiro, que refletem entradas e saídas de dólares no país. O canal comercial inclui transações de exportação e importação, enquanto o financeiro abrange investimentos diretos, remessas de lucros, empréstimos e outras operações influenciadas pela percepção de risco e expectativas econômicas. As previsões para 2025 indicam que o dólar deve permanecer em patamares elevados, com o último Boletim Focus de 2024 estimando a moeda em R$ 5,96 ao final deste ano.
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