O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que anunciará “em breve” mudanças para tornar o PIX mais seguro, o que poderá incluir a limitação de horário da transação pelos clientes. As medidas serão uma resposta ao aumento do uso do PIX em crimes.
Conforme a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foram registrados 206 boletins de ocorrência de sequestro-relâmpago no Estado de janeiro a julho deste ano – aumento de 39,1% em relação ao mesmo período de 2020. A pasta não tem o detalhamento de quais dos casos envolvem o PIX.
“Olhamos com cuidado associação do PIX com criminalidade. Anunciaremos em breve conjunto de medidas para PIX ser mais seguro”, afirmou, em evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Esfera.
Apesar de antecipar a adoção de medidas para tornar a transferência mais segura, Campos Neto defendeu que o aumento nos sequestros relâmpagos não está necessariamente ligado ao PIX, mas sim ao aumento na circulação de pessoas com a melhora nos índices na pandemia.
“Sequestro relâmpago pode ser PIX, TED, DOC, qualquer coisa. Havia sequestros relâmpagos em ATMs, foram ajustando”, completou.
Setor financeiro vê com ressalvas limitação de horário
Embora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenha sinalizado a limitação de horários para operações no Pix, como uma forma de tornar a plataforma de pagamentos e transferências em tempo real mais segura, a avaliação no setor financeiro é que essa medida não é suficiente para reduzir a quantidade de crimes envolvendo a ferramenta.
De acordo com fontes do setor ouvidas pelo Estadão, o rápido sucesso do Pix no Brasil - com mais de 96 milhões de pessoas físicas e cerca de 6,5 milhões de empresas cadastradas - veio acompanhado de uma rápida escalada em problemas, sem que houvesse tempo para que eles fossem corrigidos.
Um especialista em operações do setor bancário ouvido pela reportagem explica que existem diferenças marcantes entre os instrumentos. Enquanto uma transferência pelo Pix leva poucos segundos para ser concluída, as instituições têm, por exemplo, 20 minutos para fazer a liquidação de uma TED. "Eu consigo ligar para um cliente nesse tempo e ver se há algum problema com alguma operação suspeita. Além disso, a TED tem outras camadas de segurança, com a exigência de cadastro do beneficiário se o valor for muito alto", detalhou.
O Estadão apurou que o pleito do setor é para que as instituições possam estabelecer limites diferenciados do Pix com base na análise do perfil de cada cliente, e não necessariamente com relação ao horário de utilização do instrumento - uma vez que os golpes e sequestros-relâmpago também tem ocorrido à luz do dia. "Uma alternativa seria ter um limite para celular, um para o Pix pelo computador em casa, e outro para a madrugada. Dependeria da relação com o cliente", exemplificou a fonte.
Os usuários continuariam tendo liberdade para solicitar limites maiores ou menores. Hoje o prazo para mudança de limite é de até 1h, e essa seria uma das brechas utilizadas pelos sequestradores, que não precisam passar tanto tempo com as vítimas até conseguir fazer novas transferências. O pedido ao BC é para que esse prazo para alteração de limites passe para pelo menos 24h.
E mesmo diante da sinalização de Campos Neto de que o BC fará ajustes pontuais, há uma percepção no mercado de que as autoridades de segurança pública também poderiam estar atuando de maneira mais eficiente no combate a esses crimes. Isso porque qualquer transação do Pix possui total rastreabilidade e, mesmo que os recursos de golpes e sequestros sejam depositados nas contas de laranjas, seria possível chegar até eles para recuperar o dinheiro. "O Pix não é uma praga, como disse um delegado", concluiu a fonte.
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